Demitido por telefone pelo presidente Michel Temer na sexta-feira
passada, o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, resolveu
quebrar o protocolo. Em vez de anunciar a saída com elogios a quem fica e
sumir do mapa, ele decidiu pôr a boca no trombone. Em entrevista a VEJA
no mesmo dia da demissão, Medina disse que sai do posto porque o
governo não quer fazer avançar as investigações da Lava-Jato que
envolvam aliados. Diz: “O governo quer abafar a Lava-Jato”. Medina
entrou em rota de colisão com seu padrinho, o poderoso ministro da Casa
Civil, Eliseu Padilha. Gaúchos, os dois se conhecem do Rio Grande do
Sul, onde Medina foi promotor de Justiça, especializado em leis de
combate à corrupção, e Padilha fez sua carreira política.
Medina
conta que a divergência começou há cerca de três meses, quando pediu às
empreiteiras do petrolão que ressarcissem o Erário pelo dinheiro
desviado da Petrobras. Depois disso, Medina solicitou acesso aos
inquéritos que fisgaram aliados graúdos do governo. Seu objetivo era
mover ações de improbidade administrativa contra eles.
A Polícia
Federal enviou-lhe uma lista com o nome de catorze congressistas e
ex-congressistas. São oito do PP (Arthur Lira, Benedito Lira, Dudu da
Fonte, João Alberto Pizzolatti Junior, José Otávio Germano, Luiz
Fernando Faria, Nelson Meurer e Roberto Teixeira), três do PT (Gleisi
Hoffmann, Vander Loubet e Cândido Vaccarezza) e três do PMDB (Renan
Calheiros, presidente do Congresso, Valdir Raupp e Aníbal Gomes).
Com
a lista em mãos, Medina pediu ao Supremo Tribunal Federal para conhecer
os inquéritos. Recebida a autorização, a Advocacia-Geral da União
precisava copiar os inquéritos em um HD. Passou um tempo, e nada. Medina
conta que Padilha estava evitando que os inquéritos chegassem à AGU, e a
secretária encarregada da cópia, Grace Fernandes Mendonça, justificou a
demora dizendo que não conseguia encontrar um HD externo, aparelho que
custa em média 200 reais.
“Me parece que o ministro Padilha fez
uma intervenção junto a Grace Mendonça, que, de algum modo, compactuou
com essa manobra de impedir o acesso ao material da Lava-Jato”, conta
Medina. O ex-advogado-geral diz que teve uma discussão com o ministro
Padilha na quinta-feira, na qual foi avisado da demissão. No dia
seguinte, recebeu um telefonema protocolar do presidente Temer. Grace
Mendonça, assessora do HD, vai suceder a ele.
O ministro Padilha,
que se limitou a divulgar um tuíte agradecendo o trabalho de Medina,
manteve distância da polêmica e não deu entrevistas. Exibindo mensagens
em seu celular trocadas com o procurador Deltan Dallagnol, coordenador
da força-tarefa da Lava-Jato, e com o juiz Sergio Moro, Medina afirma
que a sua demissão tem significado maior — o de que o combate à
corrupção não está nas prioridades do governo Temer.
“Se não
houver compromisso com o combate à corrupção, esse governo vai
derreter”, afirma ele. Ainda assim, Medina faz questão de dizer que nada
conhece que desabone a conduta do presidente.
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