Governo vai recorrer ao Supremo se TCU condenar ‘pedaladas’ de Dilma
O governo Dilma Rousseff já tem preparado um “plano B” para o caso
de perder votação no Tribunal de Contas da União em processo que avalia
as contas federais de 2014, prevista para agosto. A estratégia é levar
ao Supremo Tribunal Federal um pedido para anular o julgamento do TCU
com base em declarações públicas do ministro Augusto Nardes, relator do
caso, que teria dado indicações prévias de seu voto.
Embora
não integrem o Judiciário, os ministros do TCU estão sob a égide da Lei
Orgânica da Magistratura (Loman), que proíbe que um magistrado antecipe
seu voto ou mesmo emita opiniões sobre processos pendentes de
julgamento.
Hoje esse plano é considerado “alternativo” pelo
governo, pois a prioridade está em apresentar defesa ao tribunal e
conseguir uma aprovação do Balanço Geral da União de 2014. Mas o Palácio
do Planalto já admite nos bastidores que a tendência é de que a corte
dê parecer pela rejeição das contas, o que justificaria a investida
sobre Nardes.
Conforme um interlocutor da presidente, o argumento a
ser levado ao Supremo é o de que o relator, ao dar sucessivas
declarações que indicam sua “intenção” de recomendar a reprovação das
contas, constrange os colegas de plenário que, eventualmente, pretendam
votar diferentemente. Auxiliares do Planalto já levantam vídeos e outros
registros de entrevistas e palestras do ministro.
O TCU apontou
distorções de R$ 281 bilhões nas contas, entre elas as chamadas
“pedaladas fiscais”. Em sessão no mês passado, abriu prazo até o próximo
dia 22 para que Dilma apresente defesa. Na ocasião, Nardes elencou 13
irregularidades e argumentou que não havia condições de avaliar o
balanço que descreve a situação financeira, contábil, patrimonial e
orçamentária da União. Por isso, propôs que a presidente fosse ouvida,
sendo seguido por todos os demais. Como relator, o voto dele conduz a
apreciação.
Trâmite
De posse das
explicações, o TCU marcará uma nova reunião para decidir qual
recomendação fará ao Congresso, que é o responsável pelo julgamento das
contas. Os ministros podem indicar a aprovação, a reprovação ou mesmo se
abster de emitir uma opinião.
Este ano, o processo é permeado de
pressões políticas, pois a oposição e setores rebelados da base aliada
apostam num parecer adverso ao Planalto para pedir o impeachment da
presidente por suposta irresponsabilidade fiscal.
A ideia de
derrubar a decisão do TCU na Justiça evitaria que o documento chegasse
ao Congresso, onde o governo tem sido derrotado em sucessivas votações
com aval do PMDB, principal partido da coalizão governista.
A avaliação do Palácio do Palácio é que no Supremo –
que tem oito dos 11 ministros nomeados por Dilma e pelo ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva – seria mais fácil costurar uma saída para o
imbróglio das contas.
No alvo do governo está uma coletânea de
declarações de Nardes desde 16 de junho, véspera da sessão que tratou
das irregularidades nas contas. “Meu voto não será pela aprovação com
ressalvas”, disse na ocasião. Fixado o prazo para Dilma apresentar
defesa, o relator afirmou, em 3 de julho, que seria “muito difícil o
governo conseguir explicar” os problemas nas contas.
Em palestra
no último dia 2, o ministro esclarecia a representantes de prefeituras
gaúchas que a decisão do TCU é técnica, não política, quando cravou: “Eu
poderia aprovar com ressalvas, mas me propus a rejeitar”. “Não aprovei
as contas da presidente, mas poderia ter sido com qualquer governante,
porque o princípio (da Lei da Responsabilidade Fiscal) é o mesmo para
todos”, acrescentou.
No último dia 8, ao explicar ao Estado a
necessidade de discutir aspectos do processo em conjunto com os demais
integrantes do TCU, o relator justificou: “Qualquer melindre que eu
cause (aos outros ministros), eu posso perder um voto e todo o trabalho
ir por terra”.
Explicação
Questionado pela
reportagem, Nardes afirmou que tem falado em público sobre o relatório
que leu na sessão de junho, quando sustentou que as contas não estavam
em condições de ser apreciadas. “Em nenhum momento falei do voto futuro.
Se não puder explicar para onde vai o dinheiro do cidadão, o TCU deixa
de cumprir sua missão”, disse.
O governo também conduz uma
força-tarefa para reverter a tendência instalada entre os ministros do
TCU, que penderiam para a reprovação das contas. Além do lobby na corte,
já antevendo uma decisão desfavorável, o Planalto acionou ministros
para convencer líderes no Congresso de que as irregularidades não
ensejam um processo de impeachment e se referem ao primeiro governo
Dilma. Por isso, não poderiam ser usadas para interromper o atual
mandato da presidente, iniciado este ano.
Segundo auditores do
tribunal, entre as distorções apontadas, uma das mais graves é a
“pedalada fiscal”, já condenada pelos ministros do TCU em abril. Essa
manobra consiste em atrasar repasses do Tesouro Nacional para bancos
públicos, que usaram recursos próprios para continuar pagando em dia
benefícios sociais como o Bolsa Família e o seguro-desemprego.
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