Crise do Governo Dilma pode empurrar o PT para uma nova cisão
A situação
do Governo de Dilma Rousseff, que sofre com baixos índices de aprovação
está imerso em uma crise econômica e parece cada dia mais se curvar às pressões do PMDB
no Congresso, pode empurrar o Partido dos Trabalhadores para uma nova
cisão, de acordo com especialistas. Na história recente, a legenda, que
vive sua própria crise atormentado pelo escândalo da Petrobras, já
passou por um processo parecido outras duas vezes: em 1992, quando uma
de suas correntes internas foi expulsa e deu origem ao PSTU, e em 2004,
ano em que uma nova debandada de militantes deu origem ao PSOL. No final
de abril, a Esquerda Marxista, uma das correntes mais radicais do
partido, já aprovou em assembleia sua saída do PT.
“Em
2005, durante um momento de crise provocada pelo mensalão, as alas
moderadas do partido quase perderam as eleições internas”, explica
Oswaldo Amaral, cientista político da Unicamp e autor do livro As transformações na organização interna do Partido dos Trabalhadores entre 1995 e 2009
(Alameda Editorial). Este grupo principal que lidera a legenda desde
1995 – conhecido como Construindo um Novo Brasil – é considerado “à direita” dentro do espectro político do PT.
“Em momentos de crise, como agora, o bloco que comanda o partido acaba
sendo alvo de muitas críticas das correntes de esquerda”, explica.
Segundo o professor, dificilmente estas tendências mais radicais
conseguirão ganhar as eleições internas do partido, e isso pode provocar
novas cisões na legenda, como ocorreu no passado.
No Congresso do partido, realizado em junho, o abismo entre as lideranças petistas e seus militantes
ficou claro: enquanto os políticos culpavam a mídia pela crise da
legenda, boa parte dos militantes pedia uma alteração na política de
alianças e uma guinada governamental para a esquerda.
O PSOL foi criado por dissidentes do PT
que se diziam insatisfeitos com o que chamaram à época de
“fisiologismo” do partido e com as “amplas alianças” estabelecidas pela
coordenação da legenda. Mas hoje as críticas à atuação não partem só da
esquerda política: o próprio ex-presidente Lula atacou o partido, que
segundo ele só estaria interessado em “cargos”. “O Lula é um político.
Ele está preocupado em se desvincular do Governo, já que ninguém quer
ficar perto de um Governo com baixos índices de popularidade”, explica
Amaral.
Ao lado de José Dirceu, o ex-presidente foi um dos
artífices do processo chamado de modernização do partido: "Nos anos 90
houve um encontro onde o Lula chegou a chorar porque foi feita uma
critica dura dos militantes pelo partido ter aceitado dinheiro de
empresa", diz Amaral. Até então o dinheiro de empresa era malvisto. "Mas
à partir de 94 as lideranças viram que só com doação de militante e
venda de bandeirinha não conseguiriam vencer a eleição. O Dirceu
comandou esse processo, de aproximação com o empresariado".
Basicamente são três fatores principais [que podem afastar os militantes], de ordem econômica, ética e política”
Parlamentares
do próprio partido também têm criticado o Governo e principalmente o
ajuste econômico implementado no segundo mandato de Dilma. O senador
Lindbergh Farias tem criticado abertamente o ministro da Economia,
Joaquim Levy. No mais recente pronunciamento, pediu que o Planalto se
mire no exemplo da Grécia do esquerdista Syriza, que tenta resistir a um plano de austeridade.
O fogo-amigo
não vem só de Lindbergh. Pouco tempo depois, foi a vez da Executiva
Nacional do partido, reunida em São Paulo no dia 25 de junho, divulgar
uma resolução na qual defende redução da meta de superávit e reversão da
alta de juros, pilares da política econômica de Levy. O diretório
central também mirou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e
chegou a cogitar convocá-lo para dar explicações sobre o que militantes consideram "vazamentos seletivos" da operação Lava Jato.
Para
o coordenador da área de Ciências Políticas da PUC-Rio, Eduardo Raposo,
vários motivos podem empurrar militantes situados “à esquerda” dentro
do PT para fora do partido. “Basicamente são três fatores principais: de
ordem econômica, ética e política”, explica o professor. De acordo com
ele, as correntes mais radicais dentro da legenda criticam a condução da
economia e os ajustes do ministro Joaquim Levy: “Para alguns militantes
a política de ajuste fiscal é uma coisa de direita, já foi dito
inclusive que ajuste fiscal é coisa de tucano”.
Do ponto de vista
ético e político, a crise provocada pelo escândalo de corrupção na
Petrobras investigado pela operação Lava Jato é outro golpe que afasta
do partido alas historicamente mais ligadas a movimentos sociais. Raposo
afirma que o mensalão já representou um duro golpe à imagem do PT por
abalar uma de suas principais virtudes, que era a ética. Neste cenário,
“as novas investigações afastam ainda mais o partido de suas origens”.
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