Governo acaba com programa que foi vitrine da última eleição
O
programa do governo federal de entrega de máquinas para pequenos
municípios recuperarem estradas vicinais foi enterrado neste segundo
mandato da presidente Dilma Rousseff. As 18 empresas que ganharam
bilhões em 2014 vendendo escavadeiras, niveladoras e caçambas para 5 mil
municípios por meio do PAC 2 Equipamentos não receberam neste ano nem
3% do que ganharam no mesmo período do ano passado, poucos meses antes
das eleições.
Em 2014, essas empresas figuraram entre as 200 que
mais faturaram em contratos com a União, que promovia a entrega de
equipamentos em cerimônias oficiais pelo interior do País, contando às
vezes até com a presença da presidente.
De janeiro a abril daquele
ano, as fornecedoras receberam R$ 2,5 bilhões, segundo levantamento do
Estadão Dados feito nas contas do governo federal - valor que caiu para
R$ 75 milhões neste ano. Se for levado em conta apenas o gasto via
Ministério do Desenvolvimento Agrário, responsável pelo programa, as
empresas não receberam nem um centavo do governo em 2015.
A curva
dos gastos federais com a compra desses equipamentos no primeiro governo
Dilma é crescente: o repasse às revendedoras de máquinas foi subindo de
maneira vertiginosa até 2014, ano em que o governo registrou o maior
déficit primário nas contas públicas da série histórica, iniciada em
1997.
O valor gasto com essas empresas naquele ano chegou a R$ 5,5
bilhões - 60% foram desembolsados pelo Ministério do Desenvolvimento
Agrário. No total, a pasta diz ter comprado mais de 19 mil máquinas que
foram distribuídas para praticamente todos os municípios brasileiros de
pequeno porte. O objetivo era recuperar estradas vicinais, facilitar o
acesso das zonas rurais aos centros urbanos e melhorar o escoamento da
produção agrícola.
Críticas
O programa foi
levado a cabo sem que nenhum indicador de execução dessas obras tivesse
sido criado pelo governo federal. Desde o início, o único objetivo
colocado para o programa, conforme o Plano Plurianual 2012-2015, era
doar máquinas aos municípios. A falta de acompanhamento para saber se os
municípios estavam usando os equipamentos de forma correta e se as
estradas estavam melhorando foi alvo de críticas em relatório da
Controladoria-Geral da União sobre as contas de 2013 do Ministério do
Desenvolvimento Agrário.
Segundo a CGU, apenas acompanhar o total
de doações é "insuficiente para concluir sobre a efetividade da ação". O
órgão diz que o governo federal não investiu na capacitação de mão de
obra para operar os equipamentos e não designou responsáveis no
ministério para verificar os resultados.
"Constata-se ausência de
normativos definindo procedimentos e rotinas de avaliação dos resultados
quantitativos e qualitativos da ação, no âmbito do Ministério do
Desenvolvimento Agrário, por meio de indicadores de gestão que monitorem
o uso e a manutenção dos equipamentos, a quantidade e a qualidade das
obras e/ou serviços realizados, e os impactos para o público-alvo", diz o
relatório.
Na época, o ministério informou à CGU que havia
contatado a Universidade de Brasília para, em parceria, criar
indicadores de avaliação do programa. Questionada pelo jornal "O Estado
de S. Paulo", no entanto, a pasta não disse quais foram os indicadores
criados ou a conclusão dos trabalhos. Afirmou apenas que a parceria com a
UnB foi concretizada e que os resultados estão sendo avaliados.
Segundo
o ministério, o programa atingiu seus objetivos. "A demanda pelos
equipamentos partiu dos próprios municípios, que não tinham condições de
equipar seus parques de máquinas para realizar a recuperação e
manutenção das estradas vicinais e o enfrentamento aos períodos de
seca", informou em nota. Ainda de acordo com a pasta do Desenvolvimento
Agrário, o programa já estava planejado para não ter continuidade neste
ano. Com informações do Estadão Conteúdo.
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