Executivos da construtora Odebrecht estão assinando desde a
manhã desta quarta-feira os acordos de delação premiada com a
Procuradoria-Geral da República (PGR) para colaborar com as
investigações da Operação Lava Jato. A delação do grupo é chamada de a
“delação do fim do mundo”, pois promete implodir o mundo político — e até o juiz Sergio Moro faz votos de que “o Brasil sobreviva”.
Conforme revelou VEJA no mês passado,
o acordo envolve os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da
Silva, o atual, Michel Temer, tucanos de alta plumagem, como José
Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin, peemedebistas fortemente ligados a
Temer, como o senador Romero Jucá e o ministro Geddel Vieira Lima, e os
dois principais nomes do PMDB no Rio de Janeiro: o prefeito Eduardo
Paes e o ex-governador Sérgio Cabral.
As revelações na delação da
empreiteira, que faturou 125 bilhões de reais em 2015 e reuniu 400
advogados para costurar o acordo, levam procuradores da força-tarefa da
Lava Jato a constatar que “se os executivos comprovarem tudo o que
dizem, a política será definida como a.O. e d.O” – antes da Odebrecht e
depois da Odebrecht.
Devido ao grande volume de informações, a
previsão dos investigadores é que todos os documentos do acordo sejam
entregues até amanhã (quinta-feira), quando deve ser concluído
formalmente o processo de colaboração tanto da empresa, quanto dos
executivos. A Odebrecht preparou um comunicado público que vai ser
distribuído na imprensa e nas redes sociais do grupo pedindo desculpas
pelo ilícitos assim que for concluída o processo de assinatura.
A grande delação
Do
pouco que já veio a público sobre a delação da Odebrecht, é possível
reunir uma coleção de superlativos e prever um terremoto político sem
precedentes. Só entre os políticos de categoria presidencial, já se sabe
que:
– O ex-presidente Lula recebeu favores, como a reforma do
seu sítio em Atibaia, no interior paulista. A contrapartida vinha na
forma de contratos para a Odebrecht no Brasil e no exterior;
– A
ex-presidente Dilma teve uma parte de suas campanhas financiada pelo
caixa dois da empreiteira, com pagamentos feitos no exterior ao
marqueteiro João Santana. Marcelo Odebrecht também deve relatar um
encontro que teve com a então presidente na Cidade do México, em maio de
2015, no qual a advertiu que a Lava-Jato poderia terminar mal para
ambos;
– O atual presidente Michel Temer, quando ainda era vice de
Dilma, participou de uma reunião com Marcelo Odebrecht no Palácio do
Jaburu, na qual pediu uma doação de 10 milhões de reais para o PMDB. O
dinheiro foi entregue em espécie ao hoje ministro-chefe da Casa Civil
Eliseu Padilha;
– O tucano José Serra, duas vezes candidato à
Presidência da República, recebeu 23 milhões de reais para sua campanha
ao Planalto em 2010. Parte do dinheiro saiu de contas da empreiteira na
Suíça.
Fora da galeria presidencial, o estrago parece quase
ilimitado. Em Brasília, já se tornou palpável um clima de pânico em
certos núcleos parlamentares, que pressentem o desastre que se avizinha.
“O
conteúdo desses anexos é avassalador”, diz um dos advogados que
participaram das negociações. Recentemente, durante uma conversa com um
interlocutor de Brasília, o sempre contido juiz Sergio Moro fez o
seguinte comentário: “Pela extensão da colaboração, haverá turbulência
grande. Espero que o Brasil sobreviva”.
A
delação da Odebrecht, se bem explorada — já que, por regra, delatores
são obrigados a contar tudo o que sabem caso queiram se beneficiar da
redução de pena —, também deve ajudar a esclarecer esquemas de corrupção
em países como a Venezuela, onde a empresa ajudou clandestinamente o
projeto político de Hugo Chávez, e Angola, onde a família do
ex-presidente Lula colheu alguns milhões em parceria com a empreiteira.
Uma
chave importante para desvendar o mistério é um arquivo, até agora
guardado pela Odebrecht, com os segredos do Meinl Bank, um banco de
Antígua, paraíso fiscal do Caribe, que a empreiteira comprou para
gerenciar as propinas pagas em outras partes do mundo.
Quando a
Lava-Jato começou, Marcelo deu ordens para que todos os registros das
operações clandestinas fossem apagados. Os dados foram recuperados pelos
investigadores e serão apresentados quando o acordo de delação for
assinado. Como previu o juiz Sergio Moro, a turbulência deve ser
realmente grande. Mas o Brasil precisa passar por isso — até mesmo para
que sirva de lição.
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