Ex-ministro da Justiça, o
jurista Michel Reale Jr. atacou nesta quinta-feira o governo federal ao
apresentar exposição na comissão especial do impeachment no Senado e
disse que o país está hoje diante de uma "ditadura da corrupção" que
precisa ser combatida com a retirada da presidente Dilma Rousseff do
poder. Ele defendeu haver crime de responsabilidade nos atos da petista
ao praticar pedaladas fiscais no Plano Safra e na edição de decretos
para a liberação de créditos e ironizou o bordão utilizado pelo
ex-presidente para propagar supostos feitos de seu governo. "O mantra de
que nunca antes na história do Brasil casa perfeitamente com o que
aconteceu com as operações de crédito. Nunca antes na história do Brasil
houve esse volume de operações de crédito com cheque especial que foram
feitos pelo governo", acusou.
O
jurista, que é um dos signatários do pedido de impeachment contra a
Dilma, começou sua manifestação, permeada por um discurso político, com
um desagravo às vítimas do torturador Brilhante Ustra, idolatrado pelo
deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) na votação da ação de impedimento na
Câmara, e disse que atualmente o Brasil uma "ditadura insidiosa da
propina e do gosto do poder", que "não vê limites" para permanecer no
controle do país. "Faço um desagravo por aqueles que foram vitimados por
Ustra e aos que sobreviveram. Fui presidente durante seis anos da
Comissão de Mortos e Desaparecidos pelo regime militar. Pelos meus olhos
passaram como filme de terras cenas nos porões da ditadura e porões do
Doi-CODI. Lamento que esse pedido de impeachment tenha se tornado uma
oportunidade que se homenagear um torturador. Esse pedido de impeachment
não pode se presta a isso. Visa à liberdade", disse.
"Há
dois tipos de ditadura: a explícita dos fuzis e a insidiosa da propina e
insidiosa pelo gosto do poder. É contra essa ditadura pelo gosto do
poder, que não vê limites para o uso da irresponsabilidade para a
condução da administração pública e que leva ao desastre da economia
pública, que devemos lutar", continuou. Em seguida, o jurista saiu em
defesa das investigações feitas pela Operação Lava Jato e disse que o
processo de impeachment permite que o país saia de dificuldades
financeiras e retome a estabilidade da economia.
"Se
é importante lutarmos contra a ditadura da corrupção, contra essa
ditadura da propina que tem dominado o país com o mensalão e o petrolão,
através da Operação Lava Jato, do Ministério Público e da Polícia
Federal, podemos mais rapidamente superar esse momento. Se existem meios
pelos quais podemos superar essas dificuldades, muito mais difícil é
superar as consequências decorrentes da quebra da estabilidade econômica
e do equilíbrio fiscal", completou.
Em
sua manifestação, Reale também argumentou que decisões de caráter
econômico, como as pedaladas fiscais, sempre foram tomadas com anuência
da presidente Dilma Rousseff, já que ela própria centralizava as
principais diretrizes de seu governo, e relatou a proximidade entre a
petista e o então secretário do Tesouro Arno Augustin. "Ninguém sabia
onde terminava um e começava outro. No caso das pedaladas, eram matérias
que seguiam a orientação daquele que era costumeiramente pessoa de
diálogo com a presidente", relatou. "A presidente era considera também a
ministra da Fazenda. Qual o nome do ministro da Fazenda? Dilma. Sua
personalidade centralizadora fazia que sempre tomasse para si o processo
de decisão. Fatos desta gravidade de orientação direta da economia
estão ligados a sua pessoa", disse Miguel Reale Jr.
Em
forte tom político, o ex-ministro também acusou o governo de
"irresponsabilidade profunda com a coisa pública". "Houve ganância do
poder com desprezo a um bem público fundamental. Dizer que é golpe? Isso
está previsto na lei 1079 [lei do impeachment]". A professora Janaína
Paschoal, que também assina o pedido de impeachment contra Dilma,
apresentará ainda hoje suas considerações na comissão especial do
impeachment.
Comissão especial do Senado ouve os autores do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff
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