BRASÍLIA - O atual ministro do
Turismo, Alessandro Teixeira, empregou uma tia da mulher, a ex-miss
bumbum Milena Santos, como secretária na Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial (ABDI). O órgão está vinculado ao governo
federal e foi presidido por Teixeira até o fim da semana passada, quando
foi empossado ministro pela presidente Dilma Rousseff. Após ser
questionado pelo GLOBO, a ABDI informou que demitiu a servidora.
A
tia de Milena é Delfina Alzira da Silva Gutierrez, que ocupou uma
função de confiança na ABDI com um salário de R$ 19.488,60. Trata-se de
um cargo de assessoramento especial da diretoria de nível 3 (CAE-3). A
ABDI é uma caixa-preta no governo e esconde contratações; cargos e
funções desempenhadas; salários e diárias pagas a funcionários e
diretores.
Teixeira é um nome
de confiança de Dilma e coordenou o programa de governo da petista na
campanha à reeleição. Um dos próceres do PT gaúcho e aliado de primeira
ordem da presidente, chegou a atuar como assessor especial do gabinete
presidencial. O economista foi escolhido para ser ministro do Turismo
diante da debandada do PMDB, que incluiu ex-titular da pasta Henrique
Eduardo Alves.
Apesar da
relevância dentro do governo e de ter virado ministro, Teixeira era um
servidor dos bastidores. Milena fez o marido sair do quase anonimato ao
publicar em sua página no Facebook, na última segunda-feira, um ensaio
de cinco fotos dentro do novo gabinete do marido. O ministro aparecia em
três das cinco fotos. A ex-miss bumbum usava um decote ousado e
escreveu na página social que acabara de se tornar "primeira-dama do
Ministério do Turismo". "Ao lado de um grande homem, existe sempre uma
linda e poderosa mulher", escreveu a modelo, que apagou a página na rede
social depois da forte repercussão negativa do caso.
DEMISSÃO
Ao
ser questionada pelo GLOBO por volta das 13 horas desta quarta-feira, a
respeito da contratação de Delfina e da relação familiar dela com
Milena, a ABDI informou que demitiu a servidora, às 16h30 desta quarta.
"Em função da mudança de direção da ABDI, e consequente reestruturação
do gabinete da Presidência, informamos que a senhora Delfina Silva
Gutierrez foi desligada desta agência", diz nota do órgão.
O
posicionamento é diferente do apresentado no dia anterior, quando a
reportagem procurou a agência e o Ministério do Turismo para comentarem
sobre a contratação. Ficou acertado entre os dois órgãos que caberia à
ABDI dar uma resposta. "A senhora Delfina Silva Gutierrez não possui
qualquer relação de parentesco ou consanguinidade com a senhora Milena
Santos, esposa do ministro de Estado do Turismo", dizia a nota enviada
ontem ao jornal.
Delfina é
irmã da mãe de criação de Milena, e não da mãe biológica, que vive nos
Estados Unidos. A modelo foi criada desde criança por essa mãe de
criação. A informação foi confirmada por pessoas próximas ao ministro.
A
assessoria do ministro reforçou nesta quarta que valia a nova nota da
ABDI. O ministro disse via assessoria de imprensa que "não há qualquer
parentesco consanguíneo e o cargo é de confiança". "Delfina atendia os
pré-requisitos técnicos para desempenhar a função", afirmou o ministro,
por meio da assessoria.
Antes
de demitir a servidora, no primeiro posicionamento à reportagem, a ABDI
também defendeu a "inquestionável experiência profissional e currículo
para ocupar o referido cargo". "Sendo graduada em administração de
empresas, fluente em inglês e espanhol. Com experiência de atuação nas
áreas de relações internacionais, licitações nacionais e internacionais,
contratos e convênios administrativos, além de vasto conhecimento nas
áreas de petroquímica, aeronáutica e metalurgia", dizia a primeira nota
enviada pela assessoria de imprensa.
Na
ABDI, Teixeira tinha duas secretárias, sendo uma delas a tia de Milena.
Uma terceira secretária foi retirada da função e alocada em outra
unidade. A saída dele da agência, vinculada ao Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), não alterou a
realidade de Delfina: ela ainda aparece como coordenadora de gabinete no
órgão.
ABDI: SALÁRIOS TURBINADOS
Uma
reportagem publicada pelo GLOBO em 28 de fevereiro revelou que a ABDI
virou reduto de um grupo que atuou na campanha à reeleição de Dilma, com
salários turbinados e pagamentos de altas diárias em viagens
internacionais. Militantes da campanha trocaram cargos no governo por
funções na agência com remunerações equivalentes ao dobro do que
recebiam.
Ao assumir o
comando da ABDI em fevereiro de 2015, com salário de R$ 39,3 mil,
Teixeira abrigou no órgão mais três militantes da campanha, ocupantes de
cargos de assessoramento especial da diretoria cujas remunerações
variam de R$ 19,4 mil a R$ 25,9 mil. É mais do que o dobro do valor pago
a esses assessores quando eles ocupavam cargos comissionados no Palácio
do Planalto ou no Ministério do Planejamento.
Em
junho do ano passado, o presidente da ABDI e demais diretores decidiram
editar uma resolução — mantida sob sigilo e sem publicidade no site da
agência — reajustando o valor das diárias para viagens internacionais da
diretoria executiva. No continente americano, o valor saltou de US$ 400
para US$ 700. Fora da América, as diárias saltaram de € 320 para € 700.
Ministros
de Estado, por exemplo, recebem entre 220 e 460 de diária, podendo
optar por dólar ou euro e com variação de valor conforme o destino da
viagem. Na ABDI, presidente e diretores podem viajar em classe executiva
— assessores que os acompanham também têm direito ao benefício.
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