O que o presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, tem a ver com a família de Zico, um
dos maiores jogadores da história? Muito mais do que você imagina...
Em caso revelado pelo jornal O Globo,
o irmão do "Galinho", Antônio Antunes Coimbra (popular Tunico), acusa
Cunha de perseguí-lo depois de ter reprovado a filha do deputado,
Camilla Ditz da Cunha, em exame de carteira de motorista do Detran do
Rio de Janeiro, em 5 de junho de 2008, na Ilha do Fundão.
Segundo
Tunico, Camilla foi reprovada na prova de baliza, primeiro por não dar
seta na hora de indicar que estava estacionando (três pontos de punição)
e depois por tentar sair da vaga com o freio de mão puxado (mais dois
pontos). O irmão de Zico, que era o examinador exterior (havia outro
dentro do carro), foi o responsável por comunicar a garota da
reprovação. Mal sabia ele o que iria acontecer com a sua vida...
Pouco
após o ocorrido, Tunico nunca mais foi chamado para fazer os exames.
Dias depois, ficou sabendo que estava na mira de Eduardo Cunha, que à
época era "apenas" o vice-líder do PMDB na Câmara (desde 1º de fevereiro
de 2015, ele é presidente).
Em carta enviada ao Detran, o
deputado acusou Coimbra de tentar extorquir sua filha. O irmão de Zico,
em tempo recorde, foi submetido a uma sindicância interna e acabou
suspenso por 30 dias, sem salário e sem poder realizar mais exames.
Desde
então, Tunico tenta reverter o processo, que tramita desde 2009, na 8ª
Vara da Fazenda Pública do Rio de Janeiro. Em sua defesa, ele usou até
um e-mail enviado pelo então governador do RJ, Sérgio Cabral, ao
presidente do Detran, Sebastião Faria, no qual o político elogia a
família Coimbra e detona Eduardo Cunha.
"A família Antunes é
sinônimo de honestidade e caráter. Esse senhor [Cunha] que acusa um
membro da família é sinônimo do que há de pior na vida pública
brasileira. Por favor, se inteire e coloque os pingos nos is!", escreve
Cabral, antes de arrematar.
"No meu governo, bandido não tira onda de mocinho".
O
e-mail foi escrito por Cabral a pedido de Edu Antunes Coimbra, o outro
irmão de Zico, que jogou no Vasco, no Flamengo e na seleção brasileira,
além de ter sido, depois da aposentadoria, treinador do escrete
nacional, além de Botafogo e Fluminense.
Contudo, de nada adiantou...
"Fiz
tudo o que podia. Minha família deu todo o apoio. Um dos meus irmãos,
Edu, chegou a apelar a Sérgio Cabral. O governador prometeu para mim,
num jogo beneficente no Maracanã, que tomaria providências. Mas nada
aconteceu. Prevaleceu a palavra do Eduardo Cunha", reclamou Tunico, ao O Globo.
Procurado
pelo jornal, a assessoria de Cunha disse que "tudo o que o presidente
(da Câmara) tem a falar foi dito à época e por escrito". O Detran, por
sua vez, confirmou a punição a Tunico, mas não quis se manifestar sobre o
caso.
O dia do exame
Antes da suspensão, o
irmão de Zico examinava cerca de 20 candidatos por dia. De acordo com
ele, Camilla Cunha foi avaliada por ele e mais um instrutor: Jairo
Ferreira de Melo, que acompanhou a candidata dentro do carro. Tunico
afirma ter tentado tranquilizar Camilla antes do exame, e, após as
falhas da garota, sentiu-se no dever de consolá-la, dizendo que ninguém
era infalível e que em breve ela teria outra chance.
Em depoimento à Justiça, Jairo contou que Camilla recebeu o resultado chorando.
Seis
dias depois da reprovação da filha, Eduardo Cunha enviou carta ao
presidente do Detran, Sebastião Faria, alegando que Camilla havia sido
abordada antes do exame por um funcionário do posto do Detran/Fundão,
que exigiu R$ 400 para aprová-la. A garota teria recusado, mas, segundo
Cunha, percebeu que os outros candidatos haviam pago.
"Em seguida,
no momento da prova da minha filha, o fiscal Antônio Antunes Coimbra
sequer olhou o que ela fazia, retirou os pontos, alegando que não teria
colocado a seta. Confirmei que este fato não aconteceu ao falar ao
telefone com o seu instrutor", escreveu o deputado.
A sindicância
contra Tunico foi instaurada no mesmo dia, levando só um mês para ser
finalizada. Coimbra acabou punido por insubordinação, já que o Detran
não recebeu provas da suposta tentativa de extorsão.
No relatório,
há sinais de uma suposta confusão envolvendo Tunico no dia do exame de
Camilla Cunha e uma denúncia anônima contra o examinador, datada de
abril de 2008, no qual um suposto candidato garante ter pago propina ao
examinador.
"Reconheço: já bati bota com o presidente de bancas
examinadoras. Naquele ano mesmo, no Fudão, me insurgi contra a mudança
de traçado da prova, que passou a ter um trecho na contramão. Mas,
desonesto, jamais", defendeu-se Tunico.
Hoje aposentado, depois de
prestar serviços ao Detran entre 1973 e 2015, o irmão de Zico só
lamenta. Como os funcionários ganhavam gratificações por cada exame
realizado, ele diz ter sofrido um "baque financeiro".
De acordo
com Tunico, a maior prova a seu favor foi o arquivamento do caso na 37ª
Delagacia Policial do Rio de Janeiro (na Ilha do Governador). Como
Camilla não apareceu para depor, o delegado Fábio Asty Dantas não abriu
inquérito policial.
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