Dólar sobe pela 6ª sessão seguida, a R$ 3,5374, por cenário político conturbado
O dólar subiu pela sexta sessão seguida nesta quinta-feira, chegando
a ser cotado a 3,57 reais durante o pregão, reagindo ao cenário
político conturbado no Brasil e a expectativas de alta de juros nos
Estados Unidos. O dólar fechou em alta de 1,39 por cento, a 3,5374
reais na venda, maior cotação desde 5 de março de 2003, quando fechou a
3,555 reais.
A valorização acumulada em seis sessões é de 6,25
por cento. Na máxima da sessão, o dólar subiu 2,35 por cento, a 3,5709
reais, mas perdeu força após o diretor de Política Monetária do Banco
Central, Aldo Mendes, afirmar em entrevista ao ValorPro, serviço do
jornal Valor Econômico, que o preço do dólar ante o real "está
claramente esticado" e que ele entende que "os agentes estão agindo
aparentemente com pouca racionalidade".
"O mercado entendeu os
comentários do Aldo como uma mensagem que o Banco Central não está
satisfeito com o atual patamar da moeda e pode aumentar o ritmo de
rolagem (dos contratos de swap cambial)", disse o especialista em câmbio
da Icap Corretora, Italo Abucater.
Nesta manhã, o BC deu
continuidade à rolagem dos contratos que vencem em setembro, vendendo a
oferta total de até 6 mil contratos. Ao todo, a autoridade monetária já
rolou o correspondente a 1,167 bilhão de dólares, ou cerca de 12 por
cento do lote total, equivalente a 10,027 bilhões de dólares.
Se
mantiver esse ritmo até o penúltimo dia útil do mês, como de praxe, o BC
rolará cerca de 60 por cento do lote. Pesquisa Datafolha mostrou nesta
quinta-feira que a impopularidade da presidente Dilma Rousseff é
recorde entre todos os presidentes desde 1990 e dois terços da população
acreditam que o Congresso deveria abrir processo de impeachment contra a
petista.
Nenhum dos operadores consultados pela Reuters nesta
sessão trabalha com o cenário de afastamento da presidente como base,
mas o mercado já embute alguma chance de isso se acontecer, segundo
eles. Somava-se a isso outras turbulências políticas, com atritos entre o
Legislativo e o Executivo gerando entraves para a aprovação de projetos
importantes para o governo no Congresso.
"Eles (Congresso)
estão atropelando a Dilma", disse o gerente de câmbio da corretora BGC
Liquidez, Francisco Carvalho. "Enquanto a situação estiver confusa como
agora, o dólar não vai parar de subir." A rebeldia da base aliada
também tem atraído a atenção dos operadores.
Na noite passada,
PDT e PTB anunciaram independência em relação ao governo na Câmara dos
Deputados, deixando a base aliada e ampliando as dificuldades
enfrentadas pela presidente Dilma no relacionamento com o Legislativo.
A
perspectiva de que os juros norte-americanos subam no mês que vem
também tem contribuído para elevar o dólar globalmente. Juros mais altos
nos EUA podem atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados
no mercado local. Por isso, operadores aguardam a divulgação, na
sexta-feira, do dado de geração de vagas no mercado de trabalho
norte-americano para calibrar suas apostas sobre a política monetária da
maior economia do mundo.
"O cenário interno é o que está
chamando atenção agora, mas no médio prazo, independentemente do que
acontecer aqui, o dólar vai subir", afirmou o operador de uma corretora
internacional. A Bradesco Corretora elevou nesta manhã suas projeções
para o câmbio no Brasil, estimando dólar a 3,60 reais no fim deste ano e
3,90 reais no fim de 2016, contra 3,25 e 3,40 reais, respectivamente.
O
Bank of America Merrill Lynch também revisou a perspectiva para o dólar
a 3,80 reais no fim do ano e a 4,10 reais no fim de 2016, ante projeção
anterior de 3,5 e 3,80 reais, respectivamente. (Reportagem adicional
de Flavia Bohone)
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