Posto que e eis que são conjunções que assumiram outros valores com o passar do
tempo
Eis que estamos diante de duas expressões, amplamente
difundidas nas situações comunicativas e passíveis de serem discutidas, tendo
em vista alguns aspectos a elas pertinentes. Sabemos, pois, que a dinâmica da
língua está condicionada, muitas vezes, a fatores semânticos, dada a ocorrência
de uma determinada palavra originalmente possuir um significado, e com o passar
do tempo ir recebendo outros.
Nesse sentido, cabe ressaltar que tal fato ocorreu com as expressões em
questão, visto que de uma dada categoria de conjunções, passaram-se a outra,
tornando-se perfeitamente aplicáveis, levando em consideração o contexto em que
se encontrarem inseridas. Assim, no intuito de melhor ilustrarmos tal
afirmação, partiremos do seguinte exemplo:
O discurso foi amplamente aplaudido, posto que
agradou a todos.
A expressão “posto que”, tida em seu sentido original, representava um
valor concessivo, demarcado pela ideia de contraste, oposição. Dessa forma,
regia o subjuntivo e tinha como “parceiras” as conjunções: ainda que, mesmo
que, por mais que, se bem que, embora, entre outras. No entanto, o tempo foi
passando, passando, até que ela assumiu também a posição de conjunção
explicativa e causal.
Assim sendo, voltemos ao exemplo anterior e constatemos que o discurso
poderia ser assim manifestado, sem que houvesse alterações de significado,
observe:
O discurso foi amplamente aplaudido, visto que/ uma
vez que/ agradou a todos.
Outra ocorrência que bem ilustra o caso em questão é o fragmento
pertencente a uma das criações de Vinícius de Morais, intitulada “Soneto de Fidelidade”:
[...]
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama (grifos nossos)
Mas que seja infinito enquanto dure.
Que não seja imortal, posto que é chama (grifos nossos)
Mas que seja infinito enquanto dure.
Fonte: http://www.releituras.com/viniciusm_fidelidade.asp
A expressão “eis que”, por sua vez, originalmente constituída por uma
ideia de tempo (quando), modernamente adquiriu um valor causal, expresso também
pelas conjunções acima retratadas. Dessa forma, vejamos a evolução:
Estava andando pelo bosque e de repente eis que
ele surgiu do nada. (... quando ele surgiu do nada)
Você deve repensar o que fez, eis que não
tinha o direito de agir daquela forma. (visto que, uma vez que).
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