O ex-ministro José Dirceu,
preso preventivamente nesta segunda-feira (3) em Brasília, na 17ª fase
da Operação Lava Jato, foi apontado pela Polícia Federal (PF) e pelo
Ministério Público Federal (MPF) como um dos criadores e beneficiários
do esquema de corrupção na Petrobras.
Segundo
os investigadores, José Dirceu, na época em que era ministro da Casa
Civil e homem forte do primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, nomeou Renato Duque para a Diretoria de Serviços, onde
foi iniciado o esquema de superfaturamento de contratos da Petrobras.
"É
evidente que José Dirceu tem um papel importante na indicação de
pessoas para a Petrobras. Creio que chegamos a um dos líderes
principais, que instituiu o 'esquema Petrobras' e que, durante o período
como ministro, aceitou que o esquema existisse e se beneficiou do
esquema também", disse o procurador federal Carlos Fernando Lima.
"Essa
rede de corrupção na petrolífera se constituiu no primeiro mandato de
Lula e repetiu de alguma maneira o esquema de subornos do mensalão",
disse o procurador. "O DNA é o mesmo, não tem muita diferença."
Ao
lado de Dirceu, o empresário e lobista Fernando Moura, que também foi
preso nesta segunda-feira, é apontado pela força-tarefa da Lava Jato
como um dos principais líderes do esquema de corrupção. Foi ele quem
levou o nome de Renato Duque a José Dirceu.
'Central de pixulecos'
Segundo
Fernando Lima, Dirceu recebia pagamentos do esquema desde a época em
que foi ministro. "José Dirceu foi beneficiário. Queremos mostrar que
ele e Fernando Moura foram os agentes responsáveis pela instituição do
esquema Petrobras desde o tempo do governo Lula. Desde aquela época [da Casa Civil], passando pelo mensalão, pela condenação [pelo Supremo Tribunal Federal],
pelo período em que ele ficou na prisão. Sempre com pagamentos. Esses
são os motivos nos quais está baseada a prisão", disse Fernando Lima.
De
acordo com Fernando Lima, a prisão de Dirceu foi decretada porque,
apesar de cumprir prisão domiciliar – em decorrência da condenação pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão –, ele continuava
agindo e recebendo recursos. Dirceu cumpre prisão domiciliar depois de
ter passado 12 meses na cadeia, que são parte da sua pena pelo mensalão.
Além
disso, acrescentou o procurador, o irmão de Dirceu, Luiz Eduardo,
esteve em várias empresas investigadas fazendo cobrança de pagamentos. O
irmão é apontado pela PF como laranja do ex-ministro e responsável por
receber recursos de empreiteiras com contratos com a Petrobras, mesmo
depois de deflagrada a Operação Lava Jato. Luiz Eduardo também foi preso
temporariamente nesta segunda, em Ribeirão Preto.
Segundos
os promotores, parte do dinheiro era entregue a Dirceu através da
empresa de consultoria JD, de sua propriedade, que era contratada para
operações de fachada por empresas privadas envolvidas no esquema da
Petrobras. Ao todo, a JD movimentou 39 bilhões reais, mas não está claro
quanto desse dinheiro tem relação com o esquema da Petrobras.
O
delegado federal Marco Antonio Ancelmo explicou que, em todo o período
de investigação da força-tarefa da Lava Jato, a JD não comprovou
efetivamente a prestação de serviços, apesar da apresentação de notas
fiscais emitidas como justificativa para pagamentos feitos por
empreiteiras com contratos com a Petrobras.
"A
empresa JD consultoria era, praticamente, uma central de pixulecos
[termo usado pelos envolvidos no esquema em referência ao pagamento de
propina]. Por todo tempo que essa investigação funcionou, não há uma
comprovação de que essa empresa tenha efetivamente prestado o serviço",
disse o delegado. A 17ª Fase da Operação Lava Jato é denominada
Pixuleco, em alusão ao termo.
Delações premiadas
Os
depoimentos dos lobistas Milton Pascowitch e Júlio Camargo foram
determinantes para a prisão de José Dirceu. De acordo com o delegado
Ancelmo, a força-tarefa da Lava Jato solicitou a prisão do ex-ministro
somente após confirmar que Dirceu tem envolvimento com o esquema de
corrupção na Petrobras.
"Estávamos
aguardando elementos que permitissem a confirmação de hipóteses que
tínhamos, que se confirmaram recentemente com o acordo de delação do
Pascowitch e Júlio e também situações que conseguimos confirmar, que até
um tempo atrás não tínhamos certeza", explicou.
Em
acordo de delação premiada, o lobista Milton Pascowitch disse que
intermediou o pagamento de propina a Dirceu e ao Partido dos
Trabalhadores. Já Júlio Camargo contou, também após assinar acordo de
delação premiada com a Justiça, que repassou R$ 4 milhões a Dirceu.
"Sanha persecutória"
A defesa de José
Dirceu disse que vai se manifestar após ter acesso aos documentos que
motivaram a prisão. Nas últimas semanas, Dirceu apresentou pedidos de habeas corpus preventivo para evitar uma prisão, mas os pedidos foram negados pela Justiça Federal.
Na
ocasião, o advogado Roberto Podval argumentou que a eventual prisão do
ex-ministro não se justificava, pois ele está colaborando com as
investigações desde o momento em que passou a ser investigado na Lava
Jato, alegando que José Dirceu é alvo de uma "sanha persecutória".
Preso
em Brasília, José Dirceu foi levado para a Superintendência da Polícia
Federal no Distrito Federal e depende de liberação do STF para que seja
transferido para Curitiba, onde estão concentradas as ações da Lava
Jato. O juiz federal Sérgio Moro já pediu autorização do Supremo para a
transferência.
Em prisão
domiciliar após condenação na Ação Penal 470, o processo do mensalão,
Dirceu já vinha sendo investigado desde o início do ano no âmbito da
Lava Jato.
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