A eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da
Câmara é uma boa notícia para o governo do presidente interino Michel
Temer e péssima para seu antecessor no cargo, o deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), que está cada vez mais próximo de ser cassado.
Para
analistas políticos ouvidos pela BBC Brasil, o parlamentar reúne
condições para trazer mais estabilidade e governabilidade ao Palácio do
Planalto, contribuindo para o avanço das pautas de interesse de Temer no
Congresso.
Sendo bom para a administração Temer, naturalmente é
ruim para a presidente afastada Dilma Rousseff, que parece cada vez mais
distante de uma volta ao centro do poder.
E
quem pode sair ganhando também é o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que
articulou o apoio da bancada tucana a Maia e agora tem um aliado no
comando da Câmara.
Entenda as consequências da nova configuração de poder em Brasília:
Temer
Os
cientistas políticos ouvidos pela BBC Brasil foram unânimes em apontar a
vitória de Maia como algo bastante positivo para o Palácio do Planalto.
O professor da UnB David Fleischer avalia que a experiência de
Maia, que está no quinto mandato de deputado federal e conhece bem o
funcionamento da Câmara, deve contribuir para a votação de projetos de
interesse do governo na solução da crise econômica.
O analista
da consultoria Tendências Rafael Cortez destaca sua afinidade com as
propostas de Temer nessa área - o novo presidente da Câmara é quadro
histórico de um partido com linha ideológica clara de direita liberal,
portanto favorável a políticas de austeridade.
A equipe econômica
do governo tem desafios importantes na aprovação de propostas
polêmicas, como a criação de um teto rígido que limite o crescimento das
despesas do governo à inflação, e também a Reforma da Previdência.
"Trata-se de um nome bastante associado à agenda econômica do
Planalto. Assim, a eleição de Maia contribui positivamente para a
aprovação da PEC (proposta de emenda constitucional) que cria o limite
para o crescimento dos gastos e para o bom encaminhamento da reforma da
Previdência", escreveu Cortez, em relatório aos clientes da Tendências.
Além
disso, a vitória de Maia tem o aspecto positivo de afastar a influência
de Cunha da Câmara - o outro candidato forte na disputa pelo comando da
Casa, Rogério Rosso (PSD-DF), era mais próximo do peemedebista.
"Maia
era o melhor para Temer porque é totalmente descompromissado com Cunha,
e ainda mais descompromissado com Dilma e Lula", afirma Fleischer,
relembrando seu passado de persistente oposição aos governos petistas.
Mas, apesar desse histórico, o democrata foi capaz de construir diálogo com a esquerda e reunir apoio para derrotar Rosso.
"Acho
que o resultado foi muito positivo para o governo. Vai ter um
presidente (da Câmara) que não só é confiável, mas que vai ter uma
articulação mais ampla, fazendo uma pacificação das diferentes forças
políticas", opina o professor da Uerj Geraldo Tadeu Monteiro.
Cunha
A vitória de Maia reforça a probabilidade de que Cunha seja cassado em agosto.
Abalado
por sucessivas denúncias de corrupção, o peemedebista renunciou à
presidência da Câmara na semana passada em uma tentativa de tentar
salvar seu mandato.
No entanto, seu candidato preferido, Rogério
Rosso, foi derrotado, e, após o resultado da eleição na madrugada desta
quinta, o plenário foi tomado por um coro de "fora, Cunha!".
São necessários 257 votos dos 513 deputados para cassar o peemedebista. Maia teve apoio de 285 em sua eleição.
Em entrevista após a vitória, o democrata disse que pautará o pedido
de cassação do peemedebista no dia em que o plenário estiver com "quórum
adequado".
A declaração foi uma indicação de que privilegiará um
dia de grande presença de parlamentares - um quórum baixo poderia
beneficiar Cunha.
"Como ele controla a agenda, ele pode
manipular para colocar em pauta algo que seja extremamente importante,
para atrair muitos deputados para votar, e ao mesmo tempo pautar a
cassação de Cunha. O presidente da Câmara tem muito poder de manipular e
manejar a agenda", nota Fleischer.
Para piorar ainda mais a vida
de Cunha, a Comissão de Constituição e Justiça da Casa rejeitou nesta
quinta-feira, por ampla maioria, um recurso que tentava anular a decisão
do Conselho de Ética de recomendar sua cassação pelo plenário.
Dilma
O
candidato de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na
disputa pelo comando da Câmara era Marcelo Castro (PMDB-PI), ex-ministro
da Saúde da petista. No entanto, ele não chegou nem ao segundo turno.
"A
vitória de Maia é notícia muito ruim para Dilma porque ela articulou e
fez forte lobby em favor do Castro, como Lula também. Diminui as chances
de ela voltar, claro", acredita Fleischer.
Já para Monteiro o resultado não é tão relevante, porque Dilma não teria mais chances de retomar ao Planalto de qualquer forma.
"Dilma
não tem forças para voltar ao poder, isso está muito claro. Acho que
nem ao PT interessa ter a Dilma de volta. Quer ficar na oposição e ficar
criticando Temer pelo desemprego, tudo que tiver ruim", observa.
"Se
Dilma, por malabarismo da história, voltasse à Presidência, ela
voltaria com uma legitimidade tão comprometida, não sei em que condições
ela conseguiria governar", acrescentou.
Aécio Neves
Em sua primeira agenda como presidente da Câmara,
Maia visitou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) para agradecer o apoio na
sua eleição.
Após o encontro, indicou gostar da proposta do
tucano de colocar em votação uma reforma política - o tema é sempre
polêmico e acaba emperrando no Congresso.
"Aécio Neves está
trazendo uma pauta importante, que é a da reforma política. O sistema
político faliu, ruiu, e a ideia do senador Aécio Neves vem em boa hora. A
reforma política talvez seja, fora da pauta econômica, uma agenda
urgente", defendeu.
Para Rafael Cortez, da Tendências, a proposta
indica uma tentativa de Aécio de protagonizar uma agenda positiva, com
apoio de Maia, de olho nas eleições de 2018 para Presidência da
República.
"Essa eleição do Rodrigo Maia de alguma maneira pode
dar algum fôlego para o projeto do Aécio (de se candidatar em 2018),
especialmente nesse momento em que ele foi bastante questionado e se viu
enfraquecido por conta de citações na Lava Jato", ressalta.
"Também
equilibra um pouco as forças no interior da coalizão de governo entre o
PMDB e o bloco liderado pelo PSDB, a antiga oposição à Dilma",
acrescentou.
Por trás do apoio do PSDB à Maia estaria também um acordo para tentar eleger um tucano para comandar a Câmara a partir de 2017.
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