Às 7h50 da última quarta-feira, um segurança do ex-presidente Lula
chegou ao Aeroporto Oscar Laranjeira, em Caruaru, no agreste de
Pernambuco. Diligente, comunicou que um Gulfstream G200, avião executivo
de luxo e alta performance, estava a caminho da cidade. Minutos depois,
dois representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) e o vice-prefeito Jorge Gomes (PSB) estacionaram seus carros no
local. Estavam apreensivos, porque não havia militantes para oferecer
uma recepção calorosa a Lula. “Eles vão chegar. Pode ficar tranquilo”,
disse um dos líderes do MST ao segurança, tentando amenizar a tensão.
Uma hora mais tarde, só oito pessoas aguardavam o ex-presidente. “Vamos
partir para o plano B. Acho melhor receber o Lula no hotel. Manda o
pessoal para lá”, ordenou o guarda-costas. Em seguida, ele trancou a
porta de entrada do saguão do aeroporto, que é público, para evitar que
alguém fotografasse o deserto que aguardava Lula, aquele que já foi um
dos políticos mais populares do mundo. “O cara”, como disse o presidente
americano Barack Obama, numa ocasião em que se encontraram.
Lula
desembarcou às 9h13 acompanhado do senador Humberto Costa (PT-PE).
Driblou as poucas pessoas curiosas que o aguardavam e deixou o aeroporto
pelos fundos. “Pensei que ele fosse ao menos pegar na minha mão e me
cumprimentar”, reclamou Augusto Feitosa, funcionário do aeroporto. Os
tempos são outros. A popularidade e o prestígio de Lula também. Caruaru é
testemunha dessa transformação. Em 27 de agosto de 2010, o então
presidente desembarcou no mesmo Oscar Laranjeira ao som de uma orquestra
formada por estudantes de uma escola pública. O saguão estava lotado.
Sorridente, Lula abraçou eleitores e posou para fotos ao lado de
autoridades como Fernando Haddad, então ministro da Educação, hoje
prefeito de São Paulo, e a então primeira-dama do Estado de Pernambuco,
Renata Campos. Em seu último ano de mandato, Lula beneficiava-se do
crescimento econômico, que atingiu 7,5% em 2010. Nem o céu parecia lhe
servir de limite. “Se a gente continuar mais dez anos do jeito que está,
daqui a pouco chega a Caruaru e pensa que está em Paris, em Madri, de
tão chique.”
Caruaru continua Caruaru. Figura entre as doze piores
cidades para viver no Brasil. E Lula deixou de ser Lula. Lidera no
quesito rejeição entre os nomes cotados para disputar a Presidência em
2018. Na quarta-feira passada, Lula discursou em Caruaru num auditório
com capacidade para setenta pessoas. A plateia era formada por
militantes do MST e da CUT, que preferiram tomar o café da manhã do
hotel a esperar o petista no aeroporto. A programação previa uma
coletiva de imprensa. Não ocorreu. Só Lula e áulicos falaram. Mas o
ex-presidente mantém um fotógrafo e uma equipe de documentaristas,
sempre a postos para captar as melhores cenas. Enquanto estava no hotel,
um militante rompeu o cerco de seguranças e tirou uma foto com Lula,
mas a equipe do ex-presidente o obrigou a apagá-la. A imagem mostrava
uma garrafa de uísque ao fundo. Não pegaria bem nas redes sociais, foi a
justificativa apresentada.
Depois do evento, Lula saiu pela
garagem, num carro com os vidros fechados, e percorreu um trajeto de
apenas 400 metros até o trio elétrico que o esperava para um novo
discurso. “Ele parece estar meio distante do povo, com um olhar
desconfiado”, observou a funcionária pública Conceissão Pessoa. Em cima
do trio elétrico Pantera Fashion, Lula discursou para 2.000 pessoas.
Cinco ônibus, com capacidade para cinquenta passageiros, foram fretados
por 1.000 reais cada um, pagos em dinheiro vivo, para postar a claque
diante da estrela petista. A programação da semana passada, por exemplo,
previa uma passagem pela cidade do Crato, no Ceará, onde ele receberia o
título de doutor honoris causa da Universidade Regional do Cariri. A
segurança fora informada de que estava sendo organizado um protesto de
alunos contra a concessão da honraria. A visita foi cancelada.
Em
Caruaru, Lula foi ainda a um assentamento agrário do MST. Uma banda de
pífanos, também contratada por cerca de 1.000 reais, animou a festa. À
mesa, famílias convidadas puderam se servir de macaxeira, jerimum,
cuscuz, carne guisada e suco de acerola. Lula bebia cachaça e água.
Estendia o braço direito para o alto, com o punho cerrado, e discursava
contra o “golpe” que derrubou Dilma. No fim da tarde, às 17 horas, o
ex-presidente partiu para o Recife no avião de prefixo PR-WTR, o mesmo
que as empreiteiras Odebrecht e OAS usavam para transportá-lo ao
exterior. À noite, na capital pernambucana, num evento em praça pública,
Lula criticou o presidente interino Michel Temer e o juiz Sergio Moro,
que em breve julgará um pedido de prisão contra ele. Falou à plateia e
também à equipe que produz um documentário sobre o “golpe”. Com a chuva,
os militantes começaram a se dispersar, e Lula teve de encerrar o
espetáculo.
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