Nomeado nesta
sexta-feira, o novo secretário nacional de futebol e defesa dos direitos
do torcedor, Gustavo Perrella, é réu em duas ações civis por uso de
dinheiro público para fins pessoais e criação de cargo fantasma para um
funcionário da família, segundo informações oficiais do Tribunal de
Justiça de Minas Gerais e do Ministério Público mineiro.
Filho do
senador mineiro Zezé Perrella (PDT-MG), Gustavo seria responsável por
desvios de cerca de R$ 15 mil dos cofres públicos para abastecer o
helicóptero de uma empresa da família durante seu mandato de deputado
estadual, entre 2010 e 2014.
Ele também é acusado de criar um
cargo fantasma para o então piloto da aeronave, cujo salário teria sido
pago com dinheiro público. Trata-se do mesmo helicóptero onde quase meia
tonelada de pasta-base de cocaína foi encontrada pela Polícia Federal
em 2013.
A secretaria assumida por Gustavo Perrella é vinculada ao
Ministério dos Esportes, chefiado pelo peemedebista Leonardo Picciani
(RJ), nomeado em 13 de maio pelo presidente interino Michel Temer.
À
BBC Brasil, o Ministério Público mineiro, autor das denúncias, afirmou
que Perrella "custeava o combustível com recursos próprios e depois
pedia reembolso à Assembleia Legislativa de Minas Gerais". A promotoria
diz que "14 ou 15 viagens" teriam sido financiadas ilegalmente entre
2010 e 2013.
Procurado, o Ministério do Esporte negou que o
secretário seja réu nos casos. "Nas duas ações as quais o jornalista se
refere, o secretario não foi nem citado. O acusado só se torna réu
quando a Justiça aceita a denúncia, e isso não ocorreu", afirmou a
pasta, em nota.
A reportagem então enviou detalhes dos processos
obtidos pelo sistema do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que mostram o
nome completo de Perrella, classificado como "réu". Segundo o Tribunal,
o status dos processos é "ativo".
Por meio da assessoria do
Ministério do Esporte, o advogado do secretário, Sérgio Santos
Rodrigues, afirmou que o "site do Tribunal de Justiça deve estar errado e
que a resposta oficial é esta".
A reportagem voltou a conversar
com fontes no Ministério Público, que confirmaram a veracidade da
informação oficial e classificaram a possibilidade de erro no sistema do
tribunal como "impossível".
'Provas consistentes'
Ainda
segundo a promotoria, o então piloto da aeronave teria confirmado em
depoimento ao Ministério Público que não frequentava a Assembleia
Legislativa. Ele teria dito ainda que fora contratado para ter direito a
benefícios como "plano de saúde, vale alimentação e refeição".
Os
inquéritos foram instaurados depois que o helicóptero da família
Perrella foi apreendido com 445 quilos de pasta-base de cocaína, no
final de 2013.
Por decisão da Justiça Federal, em 2014, o helicóptero foi
devolvido à família, e Gustavo foi considerado inocente no caso
relacionado ao transporte de drogas.
"Temos aqui o dever de não
ajuizar qualquer ação se houver dúvidas sobre a consistência das provas
produzidas. Os elementos são extremamente robustos", disseram
representantes do Ministério Público mineiro à reportagem. "Perrella
usou a aeronave para fins privados e a abasteceu com dinheiro público."
"Foram dados prazos para que o acusado apresentasse
documentação para justificar o uso do dinheiro público para o
combustível. Nada foi apresentado", prosseguiu a promotoria.
Durante
visita a Londres, o novo ministro dos Esportes, Leonardo Picciani,
justificou à BBC Brasil a nomeação - e teceu elogios ao secretário.
"Foi
uma decisão profissional. Há poucas pessoas com as qualificações de
Gustavo. Fiquei impressionado com o trabalho dele ao reduzir a violência
nos estádios", disse.
O peemedebista ressaltou sua decisão de manter "grande parte do quadro técnico" da gestão anterior do ministério.
Crítica e nomeação
Gustavo Perrella virou secretário um mês após seu pai, o senador Zezé Perrella (PTB-MG) fazer críticas à nomeação de Picciani.
Em
entrevista à BBC Brasil minutos após a aprovação do processo de
impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo Senado, Perrella afirmou:
"Do
jeito que estão sendo feitas as composições dos ministérios, eu já vejo
alguma insatisfação dentro do PSDB, eu já vejo insatisfação dentro do
meu próprio partido, eu já vejo insatisfação aqui dentro com a maneira
que esses ministérios estão sendo montados".
O senador prosseguiu:
"Não porque a gente esteja buscando ministérios, mas está gerando
insatisfação. O Michel Temer já deu cargos, como no Rio de Janeiro. Ele
deu o Ministério do Esporte para uma pessoa que votou inclusive contra
ele. Isso acaba gerando mal estar dentro da base de apoio dele".
A
reportagem questionou o Ministério do Esporte sobre os comentários do
senador. A pasta informou que o ministro Picciani "não tem o que
comentar sobre eventuais declarações do senador".
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