Dragões, cavalos
com cabeça de leão e cordeiros com sete olhos. Essas são algumas das
visões do Apocalipse - uma palavra que vem do grego antigo "revelação" e
é descrita no último, mais estranho e mais controverso livro da Bíblia
cristã.
O "livro da revelação" consiste em uma série de visões
que seriam uma profecia do fim dos tempos. Foi usado ao longo da
história para explicar desastres que vão da peste ao aquecimento global,
passando pelo acidente nuclear de Chernobyl.
Algumas figuras e
palavras conhecidas, como por exemplo Armagedom, também vêm do
Apocalipse, embora nem todos saibam disso. E o livro tem diversas
influências em livros, cinema e música até hoje.
Mas, quando João escreveu o livro, no século 1, ele não estava apenas querendo explicar acontecimentos futuros.
Alguns
acadêmicos acreditam que ele usava códigos e símbolos para alertar os
cristãos da época sobre a adoração ao imperador de Roma e lançar um
ataque ao poderoso regime.
O "número da besta" - 666 - é, talvez, a referência
mais famosa do Apocalipse. O trecho que o cita diz: "Quem tiver
discernimento, calcule o número da besta, pois é número de homem, e seu
número é 666".
Até hoje, 666 é usado para falar sobre a imagem do mal. Mas qual seria o significado por trás dele?
Era
comum, na Antiguidade, usar números para disfarçar um nome. Nos
alfabetos grego e hebraico, toda letra tem um número correspondente.
Então, se você somasse todas as letras do seu nome, você tinha um código
numérico.
O professor Ian Boxall, da CUA (Catholic University of America), dá um exemplo com Anna.
"A" vale 1 e "N" vale 50. Anna, então, seria 102.
Se você escrever o nome do imperador Nero Cesar no alfabeto hebraico, a equação fica: 200+60+100+50+6+200+50=666.
Historiadores acreditam que a perseguição de Nero a
cristãos em Roma fez com que ele fosse uma figura odiada pelos primeiros
cristãos.
Outros mitos
Diversos outros mitos conhecidos vêm do Apocalipse - e têm relação com a situação de Roma na época.
Nem
todo mundo sabe, por exemplo, que Armagedon vem da Batalha do
Armagedon, descrita no livro. O nome Armagedon é baseado no nome do
Megido, um monte que hoje fica em Israel.
Segundo estudiosos,
"ar" (ou "har") significa monte em hebraico, e "magedom" (ou "magedo")
equivale a Megido. Na época de João, o Megido era um sangrento campo de
batalha e abrigava uma das legiões mais cruéis de Roma.
A batalha do Armagedom é uma luta entre o bem o mal - Deus e Satã - durante os últimos dias do mundo.
Já
os cavaleiros do Apocalipse são quatro homens, em cavalos nas cores
branca, vermelha, preta e verde. Eles soltariam no mundo a morte,
guerra, fome e conquista, representando a violência resultante de
escolher não seguir a palavra de Deus - a Roma imperial.
Outra
imagem famosa do livro é a da besta do apocalipse e suas sete cabeças,
que emerge do oceano e exige ser adorada. O nome de uma blasfêmia está
escrito em cada uma das suas cabeças.
A besta seria Roma, e suas cabeças representariam os
sete imperadores que a Roma antiga havia tido naquele tempo. Os nomes
de blasfêmias representam a tendência dos imperadores romanos de se
chamarem de deuses.
Influências
Até hoje, o Apocalipse tem influência na cultura a aparece em várias referências modernas.
Entre os filmes que fazem referência a ele estão O Sétimo Selo (1957), Fim dos Dias (1999), Filhos da Esperança (2006) e É o Fim (2013) - todos usam a imagem do fim do mundo.
Na literatura, estão entre os exemplos best sellers como a série Deixados para Trás (1995), O Nome da Rosa, de Umberto Eco (1980) e Revelação, de CJ Sansom.
Muitos músicos, de compositores clássicos a bandas de heavy metal, foram influenciados por temas da revelação.
O Iron Maiden batizou seu disco de 1982 de The Number of the Beast (O número da besta), enquanto o álbum do Muse de 2006, Black Holes and Revelations, traz os Cavaleiros do Apocalipse na capa.
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