Cunha, ao sair da residência oficial da presidência da Câmara na 5ª; deputado se diz ‘perseguido’
DidaSampaio/Estadão
BRASÍLIA - O isolamento do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), diante do agravamento das denúncias contra ele
nos últimos dias já produz reflexos no Conselho de Ética, que deve
analisar seu processo por quebra de decoro parlamentar. Aliados calculam
que, em menos de 24 horas, ele perdeu cerca de metade dos votos que
tinha no colegiado e agora terá de apostar em manobras regimentais para
evitar a perda do mandato e, consequentemente, do foro privilegiado.
O
caso de Cunha chegou ao Conselho de Ética graças a uma representação
feita pelo PSOL e pela Rede com base em acusações da Procuradoria-Geral
da República de que ele manteria contas secretas na Suíça. Cabe ao
colegiado aprovar parecer indicando a cassação ou a manutenção do
mandato, após uma investigação. O julgamento sobre o destino político do
parlamentar é tarefa do plenário.
Aliados do peemedebista
contabilizavam, na noite de quinta-feira, de 11 a 14 votos a favor de
Cunha entre os 21 titulares do conselho – o presidente vota, mas só em
caso de empate. Na tarde do dia seguinte, após a divulgação dos
documentos que reforçam que o presidente da Câmara possui contas na
Suíça, o cálculo girava em torno de apenas cinco apoios. Foram colocados
em dúvida votos de PP, PSD e PR, antes considerados favoráveis. Os
votos dos deputados do DEM (1), do PSDB (2) e do PPS (1), para alguns
parlamentares, permanecem uma incógnita.
O Conselho de Ética não
permite troca de seus 21 membros, a não ser em situação de renúncia ou
morte. Em caso de ausência, o titular é substituído por um suplente do
mesmo partido. Faltam ser preenchidas duas vagas de suplência no bloco
do PT e duas no do PSDB.
Além das suspeitas crescentes, a
perspectiva de judicialização de movimentos de Cunha em favor do
impeachment da presidente Dilma Rousseff esvaziou qualquer ensaio de
aproximação do PT e de aliados do governo com o peemedebista para
salvá-lo. Diante da instabilidade do momento, deputados discutem a
situação de Cunha apenas nos bastidores.
Segundo um
correligionário do presidente da Câmara, o deputado perdeu o voto
daqueles que sustentavam o apoio na crença de que não havia provas ou de
que elas não apareceriam até o fim do julgamento. Este peemedebista diz
que a revelação dos documentos “tira o conforto de quem quer ajudá-lo” e
que, agora, Cunha passa a contar apenas com parlamentares que não
precisam dos chamados “votos de opinião” (baseados apenas na defesa de
princípios e valores) para se eleger.
Para ilustrar a situação de
Eduardo Cunha, um deputado do PMDB diz que os aliados caminharam com o
presidente até a “beira da cova”, mas “agora a cova chegou e ninguém vai
pular com ele”.
Um líder da oposição diz acreditar que o
peemedebista só conseguirá obter sucesso em caso de acordo ou se o
processo no conselho não for, de fato, aberto, porque, no plenário da
Câmara, o presidente da Casa perderia a votação. O processo só não é
aberto em caso de inépcia (quando não atende às exigências das normas
regimentais) ou falta de justa causa da representação apresentada,
aspectos que serão analisados pelo colegiado.
Um governista
próximo de Eduardo Cunha, no entanto, diz que o cenário é imprevisível e
que “pode ser que amanhã a situação dele fique menos ruim”, o que lhe
devolveria alguns votos.
Manobras. Profundo
conhecedor das regras da Casa, Cunha ainda tem a seu favor a
possibilidade de adotar manobras protelatórias e suscitar discussões que
podem alongar o processo no Conselho de Ética, contrariando os planos
do presidente do colegiado, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), que
diz pretender concluir a análise do caso do presidente da Câmara ainda
neste ano.
“Quero fazer o mais rápido possível. Quanto mais
rápido eu sair deste problema, melhor para mim”, disse Araújo. Ele
pretendia começar os trabalhos já nesta semana, mas deve ter que esperar
mais alguns dias. A Mesa Diretora tem até três sessões ordinárias para
devolver a representação contra Cunha ao colegiado, para que o processo
seja aberto. No entanto, só há duas sessões marcadas para esta semana. A
terceira está prevista apenas para a outra terça-feira, no dia 27,
segundo a Secretaria-Geral da Mesa.
De acordo com o Código de
Ética da Câmara, o relator do processo deve ser escolhido pelo
presidente do conselho a partir de três nomes de integrantes do
colegiado sorteados.
Em nota divulgada na sexta, Eduardo Cunha se
disse alvo de perseguição. “Alguma vez na história do Ministério Público
um procurador-geral respondeu a ofício de partido político da forma
como foi respondido com relação ao presidente da Câmara, em tempo
recorde para ser usado em uma representação ao Conselho de Ética?”,
questionou.
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