Em meio a uma semana de fortes especulações sobre a falta de sintonia entre a equipe econômica do Governo Dilma Rousseff,
o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse ao EL PAÍS Brasil que não
pretende sair do cargo. “Não tenho a intenção de deixar o Governo”,
afirmou ele na noite desta quarta-feira, quando questionado sobre o tema
que movimentou o mercado. A declaração faz parte de uma entrevista, já
marcada com o jornal, que será publicada na íntegra neste domingo. Na
segunda-feira, dia 7, Levy vai participar de um evento sobre
infraestrutura, em Madri, promovido pelo EL PAÍS.
O ministro
reiterou sua permanência à frente da Fazenda no mesmo dia em que a
presidenta Dilma Rousseff utilizou uma entrevista coletiva para
desmentir os rumores de que ele estivesse desgastado dentro do Governo. A
possibilidade de que Levy deixe Brasília abalou a confiança do mercado
financeiro, que vê nele um alicerce para a frágil economia neste
momento. “É um desserviço para o país esse processo de transformar e
falar que o ministro está desgastado”, afirmou a presidenta.
Os
boatos sobre as desavenças na equipe econômica só cresceram depois que
Levy apareceu, nesta segunda-feira, ao lado do ministro do Planejamento,
Nelson Barbosa, para apresentar o Orçamento de 2016, reconhecendo um
déficit de 30 bilhões de reais. Normalmente falante, Levy estava calado.
Coube a Barbosa dar todas as explicações necessárias. Mas o desconforto
do ministro era nítido entre os jornalistas que acompanharam a coletiva
de imprensa. Dois dias depois, foi a vez de Dilma reafirmar a Levy no
cargo, mas o recado da presidenta não foi suficiente para estancar os
boatos. Nesta quinta o dólar disparou, chegando a bater 3,80 reais,
gerando um ruído que obrigou o ministro a adiar sua ida para a reunião
do G-20, na Turquia. Ele seguiu para o Palácio do Planalto para se
reunir às pressas com a presidenta Rousseff e o ministro Barbosa. Sua
viagem estava marcada para as 16h45.
Levy se sentiu contrariado
com a apresentação final do Orçamento, pois ele desejava apresentar uma
proposta com mais cortes e sem déficit. Foi voto vencido nas negociações
com o ministro Barbosa. Apesar de não ter ficado 100% satisfeito, o
ministro manteve, então, seus compromissos na agenda e suas viagens para
a Turquia e para Madri confirmadas. Na conversa com o EL PAÍS, ele
aparentou estar tranquilo e confiante na evolução do seu projeto para
retomar a confiança. “Em 2016 já veremos trimestres de crescimento”,
afirmou.
A bolsa de apostas sobre o tempo de permanência do
ministro da Fazenda no Governo de Rousseff começou desde o primeiro dia
em que ele assumiu o cargo no dia primeiro de janeiro. A impressão geral
de seus colegas economistas é que ele não aguentaria trabalhar num
ambiente em que a liderança não acata medidas impopulares. Mas Levy
saiu-se vitorioso em uma série de medidas consideradas neoliberais para
um Governo petista, e despertou a fúria de categorias que se sentiram
atingidos pelas suas tesouras.
Para o mercado financeiro, Levy
representa um bastião de estabilidade ao lado do vice-presidente, Michel
Temer. Há quem atribua a manutenção do grau de investimento do país ao
ministro, que trabalhou por três anos no Governo Lula, e antes de
aceitar o convite de Rousseff esteve no Bradesco. Por isso, sua saída
seria considerada desastrosa num momento delicado em que o Executivo e o
Congresso tentam se pacificar. A opinião geral é que Levy é respeitado
no Parlamento. Mas num momento de incertezas e de um imbróglio político
que parecem infindáveis, a confiança de que a presidenta Rousseff possa
tirá-lo - ou que ele saia por sua própria vontade - ainda é pequena.
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