O dólar subiu mais de 1 por
cento ante o real nesta segunda-feira e encerrou agosto no maior patamar
desde fevereiro de 2003, no patamar de 3,62 reais, pressionado pelo
cenário interno conturbado e por incertezas externas, fatores que devem
manter a moeda norte-americana em alta.
Operadores
ressaltaram, contudo, que o mercado está propenso a exageros. Embora não
descartem a possibilidade de o dólar aproximar de 4 reais nos próximos
meses, a tendência é, segundo eles, que termine o ano acima dos níveis
atuais, mas longe dos picos que atingir no curtíssimo prazo.
O
dólar avançou 1,17 por cento, a 3,6271 reais na venda, maior nível desde
27 fevereiro de 2003 (3,662 reais), e acumulou alta de 5,91 por cento
em agosto. No ano, a moeda norte-americana acumula avanço de 36,42 por
cento.
"O mercado percebeu que o dólar está muito sensível e
qualquer notícia relacionada a agências de classificação de risco deve
impulsionar (a moeda)", disse o operador de câmbio da corretora Spinelli
José Carlos Amado, referindo-se à perspectiva de perda do selo de bom
pagador.
"Mas, se o dólar chegar perto de 4 reais, acredito que apareçam vendas, principalmente da parte de estrangeiros", acrescentou.
Preocupações
com o cenário político no Brasil e a economia local, de um lado, e com a
desaceleração da economia chinesa e a perspectiva de alta de juros nos
Estados Unidos, do outro, vêm levando especialistas a prever ainda mais
altas do dólar.
Nesta sessão, a apreensão ganhou força com a
notícia de que o Orçamento enviado pelo governo ao Congresso para 2016
projeta déficit primário de 30,5 bilhões de reais para o ano que vem.
Investidores entenderam que essa decisão deixaria o Brasil mais próximo
de perder seu grau de investimento, o que provocaria intensa fuga de
capitais dos mercados locais.
"Não há nada de animador, nada de
boas notícias", disse o superintendente de câmbio da corretora Tov,
Reginaldo Siaca. "Desde que me entendo por gente, este está sendo um dos
piores momentos para o mercado financeiro".
A apreensão com o
cenário local somou-se à pressão vinda dos mercados externos e levou a
moeda norte-americana a saltar em relação ao real mesmo diante da maior
intervenção do Banco Central.
O BC fez nesta sessão leilão de
venda de até 2,4 bilhões de dólares com compromisso de recompra. A taxa
de corte dos contratos com recompra em 4 de novembro de 2015 foi de
3,721000 reais e a dos contratos com recompra em 2 de dezembro de 2015
foi de 3,756334 reais.
Além disso, o BC sinalizou que deve rolar
integralmente os swaps cambiais, contratos equivalentes a venda futura
de dólares, que vencem em outubro.
"O BC não consegue estancar a
alta do dólar, e nem quer. Ele quer deixar claro que está ali para
fornecer liquidez, mas o problema agora não é de liquidez, é de
fundamentos", disse o superintendente de derivativos de um importante
banco nacional.
Na máxima desta sessão, o dólar subiu 2,77 por
cento, a 3,6845 reais, ao maior nível intradia desde 16 de dezembro de
2002, quando foi a 3,7000 reais. Na primeira metade do pregão, o
movimento do câmbio foi amplificado pela disputa pela formação da Ptax
de agosto, taxa calculada pelo BC que serve de referência para diversos
contratos cambiais.
Nas últimas sessões do mês, operadores
costumam disputar para deslocar as cotações de forma a garantir uma Ptax
mais favorável a suas operações. A taxa fechou a 3,6467 reais para
venda.
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