SÃO PAULO - O empresário
Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, afirmou em depoimento à Justiça
ter depositado dinheiro de propina da Petrobras diretamente na conta do
Partido dos Trabalhadores (PT). Segundo ele, as propinas da diretoria de
Serviços da Petrobras eram pagas ao gerente Pedro Barusco, e o diretor
de Serviços da Petrobras, Renato Duque, sempre o encaminhou a João
Vaccari Neto, então tesoureiro do partido.
Pessoa
afirmou que a cobrança de propina em contratos com a Petrobras começou
com o deputado José Janene, do PP, quando Paulo Roberto Costa assumiu a
diretoria de Abastecimento. Na diretoria de Serviços, o primeiro contato
foi feito por Pedro Barusco e, depois, o diretor Renato Duque passou a
pedir contribuições financeiras por meio de Vaccari.
O juiz Sérgio Moro quis saber se a contribuição ao PT era mesmo parte do acerto da propina, se essa relação ficava clara.
-
Mais clara impossível, eu depositava oficialmente na conta do Partido
dos Trabalhadores. Nunca paguei nada ao Duque, estava pagando a Vaccari -
afirmou o empresário.
O
empresário disse que o pagamento de propina começou por volta de 2005 e
existia mesmo que não houvesse cartel ou acerto entre as empresas para
vencer licitações.
-
Independente de ter pacto de não agressão ou arranjo entre empresas, eu
era procurado para pagar. Tem contrato que não tinha arranjo e tivemos
que pagar - afirmou o empresário.
-
Não sei se todas (as empresas) eram solicitadas ou admoestadas para
isso. Mas sempre fui solicitado e tive que comparecer firmemente com
esses pagamentos.
Procurado, o PT informou que todas as doações recebidas pelo partido foram legais e declaradas para a Justiça Eleitoral.
Pessoa
confirmou ter feito pagamento de propinas em duas obras, da Repar e do
Comperj, onde a UTC participou ao lado da Odebrecht. As duas empresas
não falaram sobre quanto seria o valor a ser pago, apenas dividiram
responsabilidades em relação ao pagamento.
-
Na Repar ficamos encarregados de pagar diretoria de Abastecimento e a
Odebrecht, de resolver o problema da diretoria de Serviços. No Comperj
ficamos encarregados de pagar a Vaccari e Barusco. A diretoria de
Abastecimento ficou a cargo de Márcio resolver o que fazer - contou,
explicando que o valor da propina era pactuado entre todos os
participantes do consórcio, já que o custo era do consórcio.
O
empresário afirmou que recebeu o primeiro aviso de cobrança de propina
na Petrobras do deputado federal José Janene, do PP, por volta de 2005,
quando Paulo Roberto Costa assumiu a diretoria de Abastecimento e que
houve alguns jantares na casa do parlamentar, onde ficou estipulado o
pagamento. Logo em seguida, a diretoria de Serviços acompanhou.
Pessoa
afirmou que, depois de alguns anos, chegou a conversar com Márcio
Faria, da Odebrecht, e Eduardo Leite, sobre o fim do esquema, já que não
havia sentido em continuar pagando propina.
EXECUTIVOS RECLAMAVAM DE PROPINA
O
ex-vice-presidente da Camargo Correa, Eduardo Leite, afirmou à Justiça
Federal que a Camargo Corrêa pagou propina "em todos os contratos" com a
Petrobras. Ele disse que negociou valores irregulares com os
ex-diretores Renato Duque (Serviços) e Paulo Roberto Costa
(Abastecimento) e com o ex-gerente de Serviços Pedro Barusco.
-
Pelo o que eu sabia na época, todas as empresas prestadoras de serviços
junto a Petrobras tinham obrigação desse pagamento. Isso era comentado
no mercado. E por uma ou duas vezes, encontrando com executivos, eles
chegaram até a reclamar desse pagamento.
Segundo
Leite, Márcio Faria, da Odebrecht, e Ricardo Pessoa, da UTC, foram
alguns dos executivos que se queixaram de ter que pagar propina para
funcionários corruptos:
- Você começa a conversar sobre o cliente e aí a reclamação recorrente era o volume de recurso que você tinha que informar.
O
MPF convocou os funcionários de carreira da Petrobras Luis Antônio
Scarva e Sérgio Costa, que participaram da licitação e contratação das
obras da Repar. Ambos declaram ao juiz Sérgio Moro terem sido
pressionados para aprovar a contratação da obra.
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