terça-feira, 13 de setembro de 2016

Queda de Cunha tem forte repercussão na imprensa internacional



Sob o título "Brasil: Eduardo Cunha inelegível até 2027", o jornal francês Le Monde diz que Cunha ameaçou os colegas de represálias até os minutos finais antes da votação, mas foi cassado aos gritos de "Fora Cunha". A queda do ex-presidente da Câmara dos Deputados, na origem da destituição da ex-presidente Dilma Rousseff, é manchete no mundo inteiro.

"Acusado de corrupção e lavagem de dinheiro", Le Monde assinala que Cunha volta a ser um cidadão como outro qualquer, que deverá responder por suas ações diante da justiça. Segundoo diário, a Câmara brasileira "está muito longe de ser irrepreensível", mas não se curvou diante de "um homem indefensável".

O jornal francês descreve as manobras de Cunha que levaram à instauração do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O texto se refere ao deputado cassado como um político "ultraconservador, próximo dos evangélicos, antiaborto, defensor do rebaixamento da maioridade penal para 16 anos, inimigo jurado da ex-presidente Dilma, doutor em traquinagens políticas e mentiroso", por ter negado, diante das evidências, que dispunha de contas bancárias no exterior.

Le Monde relata a vida de luxo que o peemedebista levava com a segunda mulher, a ex-jornalista Claudia Cruz. "Com dinheiro de origem duvidosa, ela esvaziava butiques Chanel, Louis Vuitton, Balanciaga, além de frequentar restaurantes e hotéis de luxo enquanto o país atravessava uma das piores recessões de sua história." 

Os investigadores da operação Lava Jato suspeitam que Cunha, sua mulher e uma das filhas do deputado cassado, Danielle Dytz, receberam propina do esquema de corrupção na Petrobras, acrescenta Le Monde. "Mesmo diante das provas mais implacáveis, o homem negou diante de uma Comissão Parlamentar de Inquérito ser o titular de contas na Suíça. Por isso ele foi banido", explica o artigo.

"Manipulador sem escrúpulos"

Ao sair de cena, Eduardo Cunha, descrito como "um manipulador sem escrúpulos, vingativo e imprevisível, leva angústia à política brasileira". Articulador do financiamento de campanhas, "dizem que ele é capaz de derrubar 160 deputados e até o presidente Michel Temer". Será que é um blefe, questiona Le Monde, antes de responder: "Brasília treme". Para salvar sua pele e a da sua família, ele pode fazer uma delação premiada, corroborando a profecia que ele mesmo lançou aos colegas: "saibam que aqueles que hoje assumem o papel de juízes, amanhã poderão ser julgados".

A versão espanhola deEL Paísafirma que "o poderoso Eduardo Cunha, o político mais impopular do Brasil e mentor do impeachment de Dilma Rousseff, perdeu o último cargo que o ligava à vida pública". Já a versão em português, assinada pelo mesmo jornalista, Afonso Benites, diz que ele se tornou um homem-bomba. "O peemedebista nega que vá fazer delação, mas promete revelar tudo em um livro", sublinha o diário espanhol.

Cassação esmagadora

Em Portugal, o jornalPúblico diz em manchete que a cassação de Cunha foi esmagadora. "Dos 470 deputados que participaram na sessão quase todos votaram a favor da saída", escreve o jornal português. "Ele foi acusado de falta de decoro parlamentar por ter mentido sobre suas contas bancárias na Suíça, para onde desviou verbas negociadas no âmbito do esquema de corrupção na Petrobras, assinala o jornal Público, lembrando que Cunha ainda está envolvido em outros dois processos que correm no Supremo Tribunal Federal, além de ser investigado em mais nove denúncias.

O americano The Wall Street Journal conta que Cunha caiu "por falta de ética e pela crescente revolta dos brasileiros com a corrupção na política". O diário assinala que ele chorou no plenário, em uma última tentativa de balançar a votação, e, em tom desafiador, continuou negando as acusações.
© Fournis par RFI
 
O canal de TV Al Jazeera diz que Cunha corre o risco de ser preso, agora que perdeu a imunidade parlamentar.

O canal BBC World observa que a votação era vista como crucial para a credibilidade do Congresso. "Agora todas as atenções estão voltadas ao que o Sr. Cunha vai fazer, uma vez que ele também é conhecido como o 'guardião dos segredos' no Congresso, onde dezenas de outros políticos também são acusados de fraude", informa o correspondente em Brasília.

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