Sob o título "Brasil: Eduardo Cunha inelegível até 2027", o jornal
francês Le Monde diz que Cunha ameaçou os colegas de represálias até os
minutos finais antes da votação, mas foi cassado aos gritos de "Fora
Cunha". A queda do ex-presidente da Câmara dos Deputados, na origem da
destituição da ex-presidente Dilma Rousseff, é manchete no mundo
inteiro.
"Acusado de corrupção e lavagem de dinheiro", Le Monde
assinala que Cunha volta a ser um cidadão como outro qualquer, que
deverá responder por suas ações diante da justiça. Segundoo diário, a Câmara brasileira "está muito longe de ser irrepreensível", mas não se curvou diante de "um homem indefensável".
O jornal francês descreve as manobras de Cunha que levaram
à instauração do processo de impeachment da ex-presidente Dilma
Rousseff. O texto se refere ao deputado cassado como um político
"ultraconservador, próximo dos evangélicos, antiaborto, defensor do
rebaixamento da maioridade penal para 16 anos, inimigo jurado da
ex-presidente Dilma, doutor em traquinagens políticas e mentiroso", por
ter negado, diante das evidências, que dispunha de contas bancárias no
exterior.
Le Monde relata a vida de luxo que o
peemedebista levava com a segunda mulher, a ex-jornalista Claudia Cruz.
"Com dinheiro de origem duvidosa, ela esvaziava butiques Chanel, Louis
Vuitton, Balanciaga, além de frequentar restaurantes e hotéis de luxo
enquanto o país atravessava uma das piores recessões de sua história."
Os
investigadores da operação Lava Jato suspeitam que Cunha, sua mulher e
uma das filhas do deputado cassado, Danielle Dytz, receberam propina do
esquema de corrupção na Petrobras, acrescenta Le Monde.
"Mesmo diante das provas mais implacáveis, o homem negou diante de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito ser o titular de contas na Suíça. Por
isso ele foi banido", explica o artigo.
"Manipulador sem escrúpulos"
Ao
sair de cena, Eduardo Cunha, descrito como "um manipulador sem
escrúpulos, vingativo e imprevisível, leva angústia à política
brasileira". Articulador do financiamento de campanhas, "dizem que ele é
capaz de derrubar 160 deputados e até o presidente Michel Temer". Será
que é um blefe, questiona Le Monde, antes de responder:
"Brasília treme". Para salvar sua pele e a da sua família, ele pode
fazer uma delação premiada, corroborando a profecia que ele mesmo lançou
aos colegas: "saibam que aqueles que hoje assumem o papel de juízes,
amanhã poderão ser julgados".
A versão espanhola deEL Paísafirma
que "o poderoso Eduardo Cunha, o político mais impopular do Brasil e
mentor do impeachment de Dilma Rousseff, perdeu o último cargo que o
ligava à vida pública". Já a versão em português, assinada pelo mesmo
jornalista, Afonso Benites, diz que ele se tornou um homem-bomba. "O
peemedebista nega que vá fazer delação, mas promete revelar tudo em um
livro", sublinha o diário espanhol.
Cassação esmagadora
Em Portugal, o jornalPúblico
diz em manchete que a cassação de Cunha foi esmagadora. "Dos 470
deputados que participaram na sessão quase todos votaram a favor da
saída", escreve o jornal português. "Ele foi acusado de falta de decoro
parlamentar por ter mentido sobre suas contas bancárias na Suíça, para
onde desviou verbas negociadas no âmbito do esquema de corrupção na
Petrobras, assinala o jornal Público, lembrando que Cunha ainda
está envolvido em outros dois processos que correm no Supremo Tribunal
Federal, além de ser investigado em mais nove denúncias.
O americano The Wall Street Journal
conta que Cunha caiu "por falta de ética e pela crescente revolta dos
brasileiros com a corrupção na política". O diário assinala que ele
chorou no plenário, em uma última tentativa de balançar a votação, e, em
tom desafiador, continuou negando as acusações.
O canal de TV Al Jazeera diz que Cunha corre o risco de ser preso, agora que perdeu a imunidade parlamentar.
O canal BBC World
observa que a votação era vista como crucial para a credibilidade do
Congresso. "Agora todas as atenções estão voltadas ao que o Sr. Cunha
vai fazer, uma vez que ele também é conhecido como o 'guardião dos
segredos' no Congresso, onde dezenas de outros políticos também são
acusados de fraude", informa o correspondente em Brasília.
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