O procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, encaminhou parecer ao Supremo Tribunal Federal (STF) em
que defende a legalidade dos grampos em que o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva foi flagrado em conversas pouco republicanas durante as
investigações da Operação Lava Jato, discutindo com a hoje presidente
afastada Dilma Rousseff a assinatura do termo de posse na Casa Civil "em
caso de necessidade". A manifestação do chefe do Ministério Público
está inserida no processo em que a Advocacia Geral da União (AGU)
questionou no STF a validade das escutas e a publicidade dos áudios, na
época em poder do juiz federal Sergio Moro.
A
AGU defendia que os grampos eram ilegais porque atingiriam a presidente
Dilma, autoridade com foro privilegiado que não poderia ter sido
monitorada por ordem do juiz Moro. Na época, o então ministro José
Eduardo Cardozo afirmava que o foro privilegiado de Dilma exigiria que
eventuais monitoramentos fossem feitos apenas com aval do STF. Para
Janot, no entanto, os grampos não são irregulares porque não tiveram a
presidente afastada como alvo, já que buscaram rastrear conversas do
ex-presidente Lula, então sem foro, que pudessem ser úteis às
investigações sobre o escândalo do petrolão. O procurador-geral não
analisou possíveis ilegalidades na divulgação dos grampos, tornados
públicos por autorização de Moro.
"O
levantamento do sigilo (...), por si só, igualmente não caracteriza
violação da competência criminal do Supremo Tribunal Federal. É preciso
enfatizar à exaustão: só poderia se cogitar da violação de competência
se, diante da prova produzida (mesmo que licitamente, como no caso), a
reclamação indicasse, a partir desta, elementos mínimos da prática de um
fato que pudesse em princípio caracterizar crime por parte da
presidente da República", disse Rodrigo Janot em sua manifestação.
Em
março, o ministro Teori Zavascki, relator do petrolão no Supremo
Tribunal Federal, decretou sigilo sobre os grampos telefônicos que
flagram diálogos entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Em pedido de liminar entregue ao STF, a AGU
afirmava que a decisão de Moro colocou em risco a "soberania nacional".
"Tomar a decisão de divulgar o conteúdo de conversas envolvendo a
presidente da República coloca em risco a soberania nacional, em ofensa
ao Estado democrático republicano", dizia o texto. Para a AGU, Moro
"usurpou a competência do STF" ao tornar públicos os grampos envolvendo
Dilma. "A decisão de divulgar as conversas da presidente - ainda que
encontradas fortuitamente na interceptação - não poderia ter sido
prolatada em primeiro grau de jurisdição, por vício de incompetência
absoluta. Deveria o magistrado ter encaminhado o material colhido para o
exame detido do tribunal competente."
Desde
a revelação dos grampos, a PGR já pediu a abertura de inquérito para
investigar a presidente afastada Dilma Rousseff, seu padrinho político
Luiz Inácio Lula da Silva e o advogado-geral da União José Eduardo
Cardozo por suspeitas de tentarem barrar as investigações da Lava Jato.
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