terça-feira, 24 de maio de 2016

Da Funai à Lava Jato, Romero Jucá coleciona polêmicas e já perdeu ministério antes



Romero Jucá. © E. Rodrigues Romero Jucá.
Nem mesmo seu afastamento da pasta após os vazamentos aos quais o jornal Folha de S.Paulo teve acesso é inédito: em 2005 ele precisou deixar a Previdência durante o segundo mandato de Lula após pouco mais de três meses à frente do ministério. Ele sofreu grande desgaste com a divulgação de um episódio envolvendo a cessão de fazendas fantasmas para quitar empréstimos que somavam 18 milhões de reais do Banco da Amazônia feitos a uma empresa da qual era sócio nos anos de 1990. O então ministro afirmou que as acusações não se sustentavam, e eram fruto de disputas políticas em Roraima. O caso prescreveu, e em 2008 a Procuradoria-Geral da União arquivou o inquérito. À época ele afirmou que não iria entregar o cargo: caiu dois meses depois.

Há outros casos contra ele em curso. O ex-servidor da Receita Federal João Gruginski, um delator da Operação Zelotes, que investiga, entre outras coisas o tráfico de influência no Congresso, afirmou que lobistas teriam repassado 60 milhões para Jucá e para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Além disso, colaboradores da Justiça no âmbito da Lava Jato – entre eles empreiteiros – disseram que o peemedebista foi destinatário final de propinas oriundas do setor elétrico. O empresário Ricardo Pessoa, da UTC, disse em sua delação que o senador pediu 1,5 milhão de reais para a campanha eleitoral de um de seus filhos, que disputava o cargo de vice-governador em Roraima. Jucá nega qualquer envolvimento nos esquemas.
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, em depoimento à Polícia Federal Jucá afirmou que vive com seu salário, mas que “eventualmente” recebe doações de seus filhos, ambos empresários. A família seria proprietária de ao menos 12 companhias, de acordo com a reportagem, com interesses que variam de lojas de calcinha a mineradoras. Integrante da bancada ruralista no Senado, Jucá tem em seu currículo um projeto de lei que, pasmem, regulamenta a mineração em terras indígenas. A proposta foi duramente criticada por ambientalistas e pelas comunidades nativas, e alguns acusaram o peemedebista de legislar em causa própria, já que sua filha Marina Jucá é sócia da Boa Vista Mineração, que em abril de 2012 solicitou ao Governo autorização para extrair ouro em terras indígenas
Ele, que nega qualquer conflito de interesse na medida, é investigado pela Procuradoria-Geral da República por ter supostamente agido para beneficiar outra mineradora, a Vale S/A, ex-Vale do Rio Doce, maior empresa do setor no Brasil. O processo corre em segredo de Justiça.

Acordo com madeireiras na Funai

O senador já foi presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) em 1986. À frente da instituição, ele autorizou que os indígenas firmassem contratos com madeireiras para que a mata nativa fosse explorada, o que segundo especialistas ampliou o ritmo da degradação ambiental nas reservas. Também é creditada a ele a decisão que reduziu o território destinado aos índios Yanomami a limites inferiores aos definidos pela própria Funai anteriormente.
Outra polêmica de Jucá na Fundação foi a venda e permuta de madeiras nobres apreendidas para as próprias madeireiras em troca de serviços e benfeitorias nos territórios indígenas. Um desses casos, descrito no livro Etnodicéia Uruéu-Au-Au : o endocolonialismo e os Índios no Centro de Rondônia (Edusp), do antropólogo Mauro Leonel, envolveu a “alienação de 9.322 metros cúbicos de toras de madeira” para a empresa Cometa em troca "da construção de 45 quilômetros de estradas" ligando postos da Funai. A atuação questionável de Jucá à frente da Fundação foi premiada pelo então presidente José Sarney. Em 1988 ele foi nomeado governador da área que mais tarde viria a se tornar o Estado de Roraima.

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