Nem mesmo seu afastamento da pasta após os vazamentos aos quais o jornal Folha de S.Paulo teve acesso é inédito: em 2005 ele precisou deixar a Previdência durante o segundo mandato de Lula
após pouco mais de três meses à frente do ministério. Ele sofreu grande
desgaste com a divulgação de um episódio envolvendo a cessão de
fazendas fantasmas para quitar empréstimos que somavam 18 milhões de
reais do Banco da Amazônia feitos a uma empresa da qual era sócio nos
anos de 1990. O então ministro afirmou que as acusações não se
sustentavam, e eram fruto de disputas políticas em Roraima. O caso
prescreveu, e em 2008 a Procuradoria-Geral da União arquivou o
inquérito. À época ele afirmou que não iria entregar o cargo: caiu dois
meses depois.
Há outros casos contra ele em curso. O ex-servidor da Receita Federal João Gruginski, um delator da Operação Zelotes,
que investiga, entre outras coisas o tráfico de influência no
Congresso, afirmou que lobistas teriam repassado 60 milhões para Jucá e
para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Além disso,
colaboradores da Justiça no âmbito da Lava Jato – entre eles
empreiteiros – disseram que o peemedebista foi destinatário final de
propinas oriundas do setor elétrico. O empresário Ricardo Pessoa, da
UTC, disse em sua delação que o senador pediu 1,5 milhão de reais para a
campanha eleitoral de um de seus filhos, que disputava o cargo de
vice-governador em Roraima. Jucá nega qualquer envolvimento nos
esquemas.
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, em
depoimento à Polícia Federal Jucá afirmou que vive com seu salário, mas
que “eventualmente” recebe doações de seus filhos, ambos empresários. A
família seria proprietária de ao menos 12 companhias, de acordo com a
reportagem, com interesses que variam de lojas de calcinha a
mineradoras. Integrante da bancada ruralista no Senado, Jucá tem em seu
currículo um projeto de lei que, pasmem, regulamenta a mineração em terras indígenas.
A proposta foi duramente criticada por ambientalistas e pelas
comunidades nativas, e alguns acusaram o peemedebista de legislar em
causa própria, já que sua filha Marina Jucá é sócia da Boa Vista
Mineração, que em abril de 2012 solicitou ao Governo autorização para
extrair ouro em terras indígenas
Ele, que nega qualquer conflito
de interesse na medida, é investigado pela Procuradoria-Geral da
República por ter supostamente agido para beneficiar outra mineradora, a
Vale S/A, ex-Vale do Rio Doce, maior empresa do setor no Brasil. O
processo corre em segredo de Justiça.
Acordo com madeireiras na Funai
O
senador já foi presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) em
1986. À frente da instituição, ele autorizou que os indígenas firmassem
contratos com madeireiras para que a mata nativa fosse explorada, o que
segundo especialistas ampliou o ritmo da degradação ambiental nas
reservas. Também é creditada a ele a decisão que reduziu o território
destinado aos índios Yanomami a limites inferiores aos definidos pela
própria Funai anteriormente.
Outra polêmica de Jucá na Fundação
foi a venda e permuta de madeiras nobres apreendidas para as próprias
madeireiras em troca de serviços e benfeitorias nos territórios
indígenas. Um desses casos, descrito no livro Etnodicéia Uruéu-Au-Au : o endocolonialismo e os Índios no Centro de Rondônia
(Edusp), do antropólogo Mauro Leonel, envolveu a “alienação de 9.322
metros cúbicos de toras de madeira” para a empresa Cometa em troca "da
construção de 45 quilômetros de estradas" ligando postos da Funai. A
atuação questionável de Jucá à frente da Fundação foi premiada pelo
então presidente José Sarney. Em 1988 ele foi nomeado governador da área
que mais tarde viria a se tornar o Estado de Roraima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário