Existe um plano B: como salvar as contas públicas em 2016 se a CPMF não for aprovada?
O governo brasileiro sofre com uma deterioração
das contas públicas que a cada déficit torna mais difícil pagar a dívida
pública e, portanto, aumenta o endividamento do País. Como se não
bastasse, o ajuste fiscal para corrigir este quadro é refém de uma crise
política na qual Executivo e Legislativo trocam farpas, acusações e
críticas, mantendo diversas medidas importantes na geladeira. Dentro
deste quadro, a salvação que o governo encontrou para fechar o ano que
vem com superávit primário é recriar um velho imposto conhecido dos
brasileiros, a CPMF que, de acordo com estimativas, geraria R$ 32
bilhões a mais de receita.
No entanto, o presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já cansou de falar que passar a
CPMF no Congresso com o capital político (ou melhor, a falta dele) de
que o governo dispõe hoje é praticamente uma missão impossível, e
diversos analistas concordam com ele. Até mesmo o ministro-chefe da
Secretaria do Governo, Ricardo Berzoini, admitiu que apesar do Executivo
não ter desistido de aprovar o imposto neste ano, é preciso ser
realista em relação ao calendário e há realmente pouco tempo até o fim
de 2015.
É importante lembrar que esta conta de que a CPMF vai
trazer R$ 32 bilhões aos cofres do governo leva em conta a aprovação da
medida este ano, para vigorar durante a maior parte de 2016. Sendo o
projeto do tributo uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que tem
de ser votado em dois turnos na Câmara e no Senado, aprovado por uma
maioria de três quintos e não uma maioria simples e que ele terá, em
caso de aprovação, uma quarentena de 90 dias antes de entrar em vigor, é
difícil de acreditar em uma aprovação rápida. O que levanta a dúvida: o
que o Planalto fará sem a CPMF?
A economista da Claritas,
Marcela Rocha, adereça ao problema explicando que os investidores estão
muito preocupados com as notícias sobre o déficit de 2015, mas por pior
que ele seja, ele não é tão importante quanto a situação de 2016. "Nas
próximas semanas teremos a discussão da Lei de Diretrizes Orçamentárias e
não vemos um plano B do governo se não passar a CPMF. O pessoal fala de
CIDE, de repatriação ou DRU, mas o governo não mostra uma urgência
nisso. Isso é o que mais preocupa", explica Marcela.
Dentro das
três opções que Marcela cita, a maior aposta do governo para conter o
rombo nas contas públicas é a questão da repatriação. Cada vez mais em
voga nos noticiários, o projeto que pretende regularizar ativos lícitos
no exterior pode trazer uma receita adicional bilionária ao governo
brasileiro, com estimativas que já vão de R$ 70 bilhões a R$ 150
bilhões. Valores estes que superam em muito o que o governo espera
arrecadar com CPMF.
Mas o que é a repatriação afinal e por que
ela é tão importante afinal? Basicamente, porque de acordo com dados
levantados por Dev Kar, economista-chefe da Global Finance Integrity e
ex-economista sênior do FMI (Fundo Monetário Internacional), entre 1960 e
2012, o Brasil perdeu cerca de US$ 590,2 bilhões em decorrência de fuga
de capitais, sendo 68,04% provenientes de saídas ilícitas. O projeto de
regularizar estes recursos que voltou a ganhar corpo neste ano com o
patrocínio do governo e evoluções das discussões no Congresso Nacional
pretende anistiar contribuintes que declararem voluntariamente recursos,
bens ou direitos de origem lícita, não declarados, remetidos ou
mantidos no exterior - ou seja, cuja irregularidade cometida não supere a
sonegação e evasão de divisas no momento do envio dos recursos a outros
países.
Contudo, se a esperança destas receitas bilionárias
estava cada vez maior conforme a repatriação ganhava destaque. Na semana
passada, quem esperava por um avanço recebeu um banho de água fria. O
projeto foi retirado da pauta da sessão da Câmara dos Deputados na
última quarta-feira após uma votação na qual a exclusão venceu por 193
votos a 175. Durante o início da discussão do projeto em plenário,
diversos deputados, inclusive da base do governo da presidente Dilma
Rousseff, argumentaram que seria melhor retirar a proposta da pauta,
alegando que não conheciam o texto da proposta.
Hoje, a
repatriação volta a ser votada, mas para o economista do Banco
Votorantim, Carlos Lopes, não há perspectivas para qualquer aprovação de
medida relevante ao ajuste fiscal no curto prazo. "Eles tentam uma
série de medidas, mas todos estes caminhos estão tendo muita dificuldade
no Congresso mesmo depois da reforma ministerial. Não tem muito um
plano B", explica.
Já o analista político Cristiano Noronha, da
Arko Advice, acredita que há uma grande chance da repatriação ir para
frente sim, basta ver que como o primeiro projeto foi aprovado com
unanimidade na Comissão Especial da Câmara. Para ele, haverá uma
aprovação, mas não necessariamente nesta semana. "Na semana passada,
havia uma certa resistência por alguns deputados, quanto à extensão da
lista de possibilidades de anistia. A avaliação é de que o parecer do
relator foi muito amplo, então o governo tem duas dificuldades. Uma é do
ponto de vista conceitual, que é trabalhar esta resistência e outra é a
questão política do governo conseguir se articular com a sua base para a
aprovação", explica.
No entanto, isso não significa que o
superávit de 2015 está salvo, uma vez que como bem lembrou Noronha, o
grau das receitas obtidas com o projeto depende muito de como o texto
vai sair do Congresso Nacional. A lei tem que ser, em primeiro lugar,
atraente para o próprio contribuinte, que deve ver incentivos em
regularizar a situação dos seus recursos.
E se não depender do Congresso
Na
avaliação de Carlos Lopes, há algumas receitas a que o Planalto pode
recorrer para não depender do Congresso, o que seria o melhor dos
mundos, já que é justamente a queda de braço entre Executivo e
Legislativo que está emperrando a maioria dos projetos. Mas parece haver
sempre um porém quando falamos de soluções para a crise atual. A
principal solução que não depende de Parlamento é o aumento da Cide,
contudo Lopes lembra que esta é uma solução que aumenta a já pressionada
inflação e tira espaço de manobra para reajustes de combustíveis pela
Petrobras (PETR3; PETR4).
Isso lembrando que a estatal atualmente
sofre para aumentar o caixa de modo a fazer frente com um pesado
endividamento. Sendo a petroleira uma das maiores empresas do País e
responsável por um percentual considerável dos investimentos do Brasil
inteiro, reduzir as opções da empresa para combater a crise atual parece
uma receita certa para agravar ainda mais o quadro de recessão
econômica que enfrentamos.
Com isso, segundo Lopes, é difícil
acreditar em algum superávit em 2016. As expectativas do Banco
Votorantim giram em torno de um déficit primário de 0,5% do PIB no ano
que vem. Mas os números podem ser piores ainda se não tivermos aprovação
de quaisquer planos A, B ou C. "Se não conseguir nenhum projeto desses,
a gente deve ir para números na casa de 1% de déficit no ano que vem",
opina.
As dificuldades que o governo terá para reduzir o déficit
do ano que vem são gigantescas e não parecem ter muitas perspectivas de
surpresas positivas. Por isso, é importante olhar de perto cada votação
do ajuste no Congresso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário