As equipes encolheram e os salários
para as novas contratações também. “Antes da crise, as empresas estavam
oferecendo remunerações até 20% maiores do que a média para fechar
contratos com novos profissionais, hoje o que se vê são ofertas
salariais que correspondem a 70% e 80% da média”, diz Marcelo Braga,
sócio da Search RH.
Para ele, é a velha lei da oferta e da procura azedando as negociações acerca dos pacotes de remuneração. “Há exceções, claro, mas, em geral, com a crise a tendência é de redução nos salários”, diz.
Com a estimativa
de um milhão de postos de trabalho fechados nos últimos 12 meses, a
disputa mais acirrada nos processos de recrutamento e seleção faz com
que muitos profissionais aceitem rendimentos menores e até cortejem
cargos hierarquicamente inferiores aos seus empregos anteriores.
Sim,
há diretores voltando às cadeiras gerentes, gerentes disputando vagas
de coordenadores e até gestores flertando com posições de especialista.
Situação
inevitável para quem está desempregado? A necessidade dá o tom,
obviamente. “Melhor reduzir do que ficar sem rendimento algum”, diz
Braga. Para ele, repensar a pretensão de salário variável e negociar
redução de salário fixo é o mais indicado caso esta seja a condição para
uma recolocação no mercado. Ainda mais com previsões pessimistas já
respingando em 2016. “Acredito que comece a melhorar apenas em 2017”,
diz Braga.
Jogo de xadrez
Carlos Felicíssimo, sócio do Group4, compara a situação a um jogo de xadrez. De um lado o mercado
e o julgamento de recrutadores em relação à inflexibilidade ou não dos
executivos em aceitar pacotes menos robustos. Do outro, os profissionais
que necessitam de uma recolocação ao mesmo tempo em que não querem
perder ritmo no movimento crescimento na carreira. “Um receio dos
recrutadores é que o executivo que aceitou um salário menor saia na
primeira oportunidade mais vantajosa de mercado que bater à sua porta”,
diz Felicíssimo. Já os profissionais, diz ele, se perguntam: por que a
empresa pode me demitir quando ela quer mas, se eu saio após pouco
tempo, eu me queimo? “No fim do dia, é claro que todo mundo joga para
ganhar”, diz.
De acordo com
ele, situação financeira e o potencial de carreira da posição devem ser
levados em conta na tomada de decisão. Você vai usar esse cargo para
ganhar uma carona até outro melhor ou ele traz uma possibilidade de
crescimento em médio e longo prazo?
Arrogância ou baixa autoestima só atrapalham
O
desconforto pode ser consequência direta da readequação, seja ela
salarial e/ou de posicionamento de carreira. “Por isso profissional deve
levar em conta que uma decisão deste tipo não deve ser tomada por
impulso”, diz Braga.
Demostrar
uma atitude arrogante por já ter ocupado cargos mais altos na
hierarquia ou abaixar a cabeça envergonhado e deprimido por ter se
sujeitado a um salário menor são armadilhas.
A
dica do sócio da Search RH é continuar investindo em qualificação e
assim, aumentar o valor do seu passe quando a tormenta dissipar. “A
crise torna urgente o corte de custos mas não de investimentos. Educação
é um investimento e vai trazer retorno”, diz Braga.
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