O pessimismo do
brasileiro com relação ao atual momento vivido pelo país e as condições
de se superar a crise a curto e médio prazos cresceu vertiginosamente ao
cabo de um ano. Na mesma linha que outros institutos de pesquisa de
opinião têm apontado recentemente, um estudo realizado em conjunto pela
Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e
Investimento) e TNS Brasil em outubro mostrou que 66% dos brasileiros
acreditam que o quadro recessivo do país ainda vai piorar. O número
supera em duas vezes o resultado de um ano atrás, quando a esperança por
melhorias com relação ao crescimento da economia era de 38%.
De
acordo com a pesquisa feita em outubro, 69% dos entrevistados agora
também acreditam que o Brasil caminha na direção errada após as últimas
medidas econômicas de ajuste fiscal. Só para se ter uma ideia, em 2004, a
mesma avaliação era compartilhada por 24%. Porém, a variação é pequena
em uma comparação com os dados dos meses de abril (65%) e julho (66%)
deste ano. O pessimismo com relação ao futuro somou 11% em março, o que
representa uma leve queda ante julho, quando ficou em 13%. A preocupação
também apresentou poucas alterações, permanecendo no elevado patamar de
66% - dois pontos abaixo o percentual registrado em abril, mas um acima
julho deste ano e nove dos números de outubro de 2014.
Maior
pessimismo também foi visto na avaliação sobre o consumo das famílias.
Em 2014, 35% dos entrevistados acreditavam em melhora, contra 30%
esperavam a manutenção do cenário e 35% esperavam piora. Essa relação
mudou para respectivos 12%, 19% e 62% em abril de 2015; 11%, 17% e 72%
em junho; e, mais recentemente, em outubro, 11%, 23% e 72%. Movimento
similar foi visto na percepção sobre o movimento da taxa de juros.
Enquanto no ano passado 24% esperavam por uma melhora, 27% acreditavam
na manutenção e 49% em piora, em outubro deste ano apenas 6% acreditam
que a situação vá melhorar neste quesito, o grupo dos que esperam
manutenção contou com 12% dos votos e a piora bateu a marca dos 82%.
Do
lado da oferta de crédito, um ano atrás, 39% estavam otimistas, 37% nem
tanto e 23% manifestaram posição pessimista. Em abril deste ano, a
relação se deteriorou para respectivos 12%, 26% e 62%. Um mês depois, o
pessimismo cresceu mais um tanto: 10%, 24% e 66%, respectivamente. Hoje,
68% dos entrevistados esperam piora na oferta de crédito para os
próximos meses e apenas 11% revelaram um olhar mais positivo. A pesquisa
ainda mostrou que 66% apontaram ter dívidas, sendo o cartão de crédito o
principal vilão (73%). Quando questionados se estariam dispostos a
tomar mais crédito, 82% dos entrevistados responderam que não. Entre os
18% que disseram que sim, a categoria de crédito consignado (36%)
aparece como a opção preferida, seguida pelos automotivo (33%) e
imobiliário (33%) empatados.
O endividamento, mostra a pesquisa da
TNS Brasil, tem uma explosiva combinação com a piora do mercado de
trabalho e o aumento da sensação de insegurança dos brasileiros com
relação às condições de conseguir manter o emprego atual. Apenas 36%
declararam-se seguros quanto à manutenção do emprego nos próximos meses,
enquanto 28% negaram e 36% disseram que estão desempregados - fator que
gera questionamento sobre o universo das entrevistas realizadas pela
pesquisa. Conforme apresentou o CEO da companhia, James Conrad, em
palestra realizada durante o 10º Simpósio Internacional Acrefi, a
pesquisa foi feita no campo online, contou com 1000 entrevistas
realizadas em todas as regiões do Brasil, com pessoas com idade entre 18
e 65 anos, sendo 51% mulheres e 49% homens.
Todo esse avanço de
pessimismo certamente acabaria por desembocar sobre um crescente
descrédito da presidente Dilma Rousseff em relação a parcelas cada vez
mais expressivas da sociedade - incluindo seu eleitorado natural,
altamente refratário ao ajuste fiscal proposto por sua equipe econômica e
que vai de encontro ao que foi apresentado durante a campanha eleitoral
do ano passado. Neste quesito, o estudo revela que a confiança sobre a
capacidade da petista reeleita em resolver cada uma das prioridades
listadas apresentou trajetória de queda quase que ininterrupta de
outubro de 2014 para cá. Quando questionados se a presidente conseguirá
promover a recuperação do crescimento econômico, apenas 7% dos
entrevistados responderam afirmativamente. Em julho, este número foi de
16%, enquanto em abril foi de 10%, e um ano atrás, 52%. Cenário similar é
visto com relação à reforma política - cujo otimismo recuou de 43% em
2014 para 6% hoje -, infraestrutura - de 46% para 10% - e reforma
tributária - de 38% para 6%.
A exceção ficou em dois quesitos, que
tiveram leve respiro no comparativo de julho para cá, mas também se
inserem em contexto dramático. O primeiro deles diz respeito à confiança
na redução da taxa de juros. Após chegar a bater a mínima de 3% no
início deste semestre, o indicador apresentou recuperação em outubro ao
marcar 7%. No entanto, quando comparado com patamares de um ano atrás, a
deterioração é expressiva: entre 5 e 14 de outubro do ano passado, a
crença de que Dilma seria capaz de trazer a taxa de juros a níveis mais
baixos era de 45%. O segundo quesito se refere à inflação: em 2014 a
confiança em uma redução no avanço dos preços ao consumidor era de 46%.
Em abril e junho ficou estável em 8%, enquanto no mês passado apresentou
leve alta para ainda modestos 11%.
Depois da reforma política, o
combate à inflação foi apontado pelos entrevistados como prioridade a
ser combatida pela presidente, conforme apontou a pesquisa da
consultoria TNS. A inflação, mostra o estudo, tem impactado no padrão de
consumo de 90%, sendo lazer (84%), vestuário (80%) e alimentação (74%)
as áreas mais afetadas pelas mudanças de hábitos dos entrevistados.
Quando a pergunta é sobre o prazo de validade da crise, a maioria não
soube responder tamanho clima de incertezas e pessimismo aflorado. Para
18%, as coisas melhorarão significativamente somente em 2018 - mesmo
percentual daqueles que esperam mudanças significativas na segunda
metade do ano que vem. É ver para crer. Quem dá mais? Enquanto isso não
acontece, cada vez mais brasileiros acreditam em piora de situação
financeira pessoal, padrão de vida, capacidade de fazer compras de casa e
investimentos em carro ou casa. A crise atingiu um dos grandes pilares
da economia brasileira dos últimos anos: a resiliência do consumo.
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