Delator indica que Odebrecht sabia de propina para Campos
Por Mateus Coutinho, Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, e Julia Affonso
Em
novo depoimento à força-tarefa da Lava Jato, o executivo da Camargo
Corrêa e delator Dalton dos Santos Avancini afirmou que a empreiteira
pagou R$ 8,7 milhões em propina para a campanha de Eduardo Campos
(ex-PSB, morto no ano passado em um acidente aéreo) ao governo de
Pernambuco por meio de um contrato fictício do Consórcio CNCC, liderado
pela Camargo Corrêa. É a primeira vez que o delator, que já admitiu R$ 110 milhões de propina a ex-diretores da estatal, cita repasse para a campanha de um político.
Avancini
afirmou em seu depoimento prestado no dia 6 de maio deste ano que a
propina era referente a um outro contrato, este de terraplenagem das
obras da refinaria, vencido pela Camargo em um outro consórcio formado
Odebrecht, Camargo Corrêa, Galvão Engenharia e Queiroz Galvão. Segundo o
delator, cada uma destas empresas teriam pago propinas individualmente
ao candidato ao governo do Estado. "Eis que Camargo Corrêa veio pagar
8.7 milhões de reais titulo de propina em favor da campanha de Eduardo
Campos para o Governo de Pernambuco por meio de um contrato fictício com
Master Terraplenagem, junto ao Consórcio CNCC onde Camargo era líder
poderia operacionalizar tais pagamentos sem ter de dar explicações",
afirmou o executivo.
O
depoimento, um dos elementos que serviu de base para a deflagração da
14ª etapa da Lava Jato nesta sexta-feira, 19, que levou à prisão os
presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, cita ainda uma conversa
sobre a propina com o diretor da Odebrecht, Marcelo Reis, também preso
nesta sexta. Segundo o relato, o delator "presume que os demais
consorciados tenham feito o mesmo (pago propina), observando que,
conforme mencionado naquele termo (outro trecho do depoimento), Márcio
Faria da Silva, diretor da Odebrecht, disse que esse valor sobre a
terraplenagem da RNEST (a propina para Eduardo Campos) seria devido
(para as empresas)".
Ele não detalhou como
os repasses influenciariam na obra, tocada pela Petrobrás, estatal do
governo federal e nem citou em que ano foi feito o repasse (Campos foi
eleito em 2006 e em 2010 para o governo do Estado). A terraplenagem é
uma das etapas iniciais da obra de Abreu e Lima, que começou em 2007, um
ano após a eleição vencida por Campos no Estado. Na época, o político
era aliado do governo federal, tendo atuado depois de eleito para a
implementação na obra, uma das maiores do País, no Estado. Não é a
primeira vez que o nome do ex-governador aparece no escândalo, no
ano passado, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa afirmou
ter intermediado o pagamento de propina de R$ 20 milhões para campanha
de Campos em 2010.
'Retorno'.
Além de envolver outros executivos, o delator detalhou como a Camargo
Corrêa fazia para "recuperar" o dinheiro da propina a partir do contrato
com a Petrobrás. Questionado pela Polícia Federal sobre como a empresa
seria "ressarcida" da propina, o delator afirmou que "o valor seria
devolvido no lucro global do consórcio, já inflacionado pelos valores
acrescidos com essa finalidade", disse.
De
acordo com Avancini, a Camargo Corrêa inseria o "custo" da propina na
rubrica de "contingências" dos contratos, que consideram fatores
variáveis na execução da obra e que podem afetar o custo do
empreendimento. "O custo da propina era inserido na rubrica
'contingências' o qual demandava diversos fatores variáveis, como clima
(caso não houvesse o pagamento de verbas de chuvas), fatores
trabalhistas, riscos técnicos, riscos financeiros, dentre outros",
relatou o executivo.
A prática já havia sido
revelada aos investigadores da Lava Jato pelo ex-gerente jurídico de
Abastecimento da Petrobrás Fernando de Castro Sá. Em depoimento aos
investigadores, ele afirmou que a estatal deixou de considerar índices
pluviométricos para iniciar obras de terraplenagem de Abreu e Lima, o
que elevou os custos da obra.
Segundo o
ex-gerente jurídico, havia um consenso que a obra de Abreu e Lima não
começaria em período de chuva, por causa da terraplenagem, técnica usada
para aplainar o terreno. Porém, ao assumir o comando da obra, a
Diretoria de Serviços teria alterado os padrões de contratação, que
anteriormente levavam em contas índices pluviométricos.
COM A PALAVRA, O PSB: O
Partido Socialista Brasileiro (PSB) informa que todos os recursos que
financiaram as campanhas de Eduardo Campos para o governo de Pernambuco
foram arrecadados legalmente. Inclusive, a conta referente a 2010 foi
aprovada pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco.
COM A PALAVRA, A QUEIROZ GALVÃO: "A
Queiroz Galvão nega veementemente qualquer pagamento ilícito a agentes
públicos para obtenção de contratos ou vantagens. A companhia informa
ainda que todas as suas doações seguem rigorosamente à legislação
eleitoral. A Queiroz Galvão reitera que sempre pautou suas atividades
pela ética e pelo estrito cumprimento da legislação".
Nenhum comentário:
Postar um comentário