O juiz Sérgio Moro afirmou, no
despacho em que decretou a prisão temporária de Ronan Maria Pinto, dono
do jornal Diário do Grande ABC, que o esquema criminoso que levou o
empresário a receber cerca de R$ 6 milhões, a mando do PT, pode ter
alguma relação com o homicídio do prefeito de Santo André Celso Daniel,
ocorrido em 2002. Segundo o juiz, o caminho do dinheiro mostrou que
Ronan ficou com metade do empréstimo retirado do Banco Schahin pelo
pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, quitado
fraudulentamente com propina de contrato da Petrobras.
"Chama
a atenção o malabarismo financeiro para viabilizar a transação, tendo o
valor transferido do Banco Schahin para Ronan Maria Pinto passado por
três intermediários (José Carlos Bumlai, Bertin Ltda e Remar
Agenciamento)", afirmou Moro no despacho.
O
juiz lembra que a operação financeira foi feita com a intermediação da
S2 Participações, empresa de Marcos Valério, já condenado como operador
do mensalão. Segundo ele, além de confirmar o fato, o publicitário
afirmou que o motivo do empréstimo seria que integrantes do PT estavam
sendo vítimas de "extorsão" da parte de Ronan. "Citou expressamente como
envolvidos Sílvio José Pereira, José Dirceu de Oliveira e Silva,
Gilberto Carvalho, Luiz Inácio Lula da Silva e Breno Altmann" diz.
Moro
afirma ainda que Bruno Daniel, irmão de Celso Daniel, afirmou ter
ouvido de Gilberto Carvalho e Miriam Blechior que existia um esquema
criminoso em Santo André, que envolvia repasses de valores de extorsão
ao PT e que o destinatário dos valores seria José Dirceu. Na época,
Bruno Daniel afirmou que não tinha conhecimento de Ronan no episódio nem
da prática de extorsão do empresário contra o PT.
"É
possível que este esquema criminoso tenha alguma relação com o
homicídio, em janeiro de 2002, do então prefeito de Santo André, Celso
Daniel", escreveu Moro.
O
empréstimo retirado em nome de José Carlos Bumlai no Banco Schahin, que
teria sido feito a pedido do PT, foi de R$ 12 milhões. Metade do valor
foi destinado a Ronan. O valor foi repassado a Bumlai, que repassou ao
frigorífico Bertin. A empresa, por sua vez, repassou à Remar
Agenciamento em oito parcelas pagas entre outubro e novembro de 2004, no
total de R$ 6,028 milhões. A Remar se encarregou de fazer os repasses a
Ronan, inclusive pagando fornecedores da Expresso Santo André, empresa
de ônibus do empresário.
Ronan teria chantageado petistas, diz MPF
O
assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, em 2002, voltou à
tona com a nova fase da Operação Lava-Jato, deflagrada nesta
sexta-feira. Embora a morte do prefeito não esteja dentro do objeto da
investigação, segundo o Ministério Público Federal (MPF), os
procuradores podem esbarrar no assunto ao apurar o motivo do empréstimo
de R$ 6 milhões ao empresário Ronan Maria Pinto dois anos após o
incidente.
Investigadores
que trabalham no caso dizem que o Ronan deve ser investigado pelo crime
de extorsão, já que, segundo o depoimento de Marcos Valério, ele teria
chantageado políticos petistas. Para esses investigadores há duas
hipóteses mais fortes para Ronan pedir um "cala-boca": ele denunciaria
fatos sobre a morte de Celso Daniel ou falaria sobre um esquema de
corrupção montado na prefeitura - e pelo qual, inclusive, ele foi
condenado ano passado.
Oficialmente, porém, o discurso é que nenhuma hipótese está descartada.
-
Nossa investigação é centrada no crime federal de lavagem de dinheiro.
Temos algumas hipóteses, mas ainda queremos descobrir por que o
empresário Ronan pediu os R$ 6 milhões - disse o procurador Diogo
Castor, que acrescentou: - Se surgirem evidências que liguem o caso à
morte de Celso Daniel, haverá compartilhamento de provas
Em
janeiro, os promotores do Ministério Público Estadual de São Paulo que
investigam a morte do prefeito de Santo André manifestaram interesse em
pedir o compartilhamento de provas com a Lava-Jato. Eles estavam
interessados justamente no depoimento de Bumlai que cita o empréstimo a
Ronan.
Os procuradores da
Lava-Jato terão que trabalhar rápido para que os crimes investigados na
27ª fase da Lava-Jato não prescrevam. Como os crimes de lavagem teriam
ocorrido em outubro de 2004, eles prescrevem se uma denúncia não for
oferecida até outubro deste ano.
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