A força-tarefa da Operação
Lava-Jato teme que a decisão do ministro Teori Zavascki de tirar das
mãos do juiz Sérgio Moro o processo contra o ex-presidente Lula e
criticar atos do juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba iniba outros
magistrados de primeira instância que receberam processos desmembrados
da Lava-Jato. Na avaliação desses investigadores, os outros juízes podem
se sentir menos à vontade para abrir o sigilo de investigações sobre
crimes contra a administração pública.
Já
advogados que defendem investigados na operação acreditam que a posição
de Teori vai evitar apenas a divulgação desnecessária ou fora de hora
de informações que possam prejudicar os suspeitos. Nas palavras de um
advogado criminalista ouvido pelo GLOBO, o ministro “reequilibrou o
jogo”, que estava a favor da acusação. Para ele, alguns fatos divulgados
pelos investigadores da Lava-Jato servem apenas para deixar a opinião
pública contra os acusados, promovendo um “julgamento prévio”.
Os
investigadores que trabalham na força-tarefa, porém, avaliam que o
“puxão de orelha” de Teori em Moro foi “além da conta”, especialmente
pelo fato de o juiz do Supremo ter discutido o mérito de atos do
magistrado.
— Teori não é
juiz corregedor — reclamou um dos investigadores, que aposta na
distensão do clima entre o Supremo e a Justiça Federal em Curitiba
depois de Moro ter enviado carta pedindo desculpas aos ministros e
afirmando não ter havido motivação político-partidária na divulgação de
diálogos de Lula com políticos e integrantes do governo detentores de
foro privilegiado.
A um
interlocutor, o juiz revelou ter se surpreendido com a reação negativa
de alguns setores da sociedade, que criticaram a exposição dos grampos.
Moro também ficou descontente quando soube que a Polícia Federal havia
colocado em um processo público a lista de políticos beneficiários de
pagamentos da Odebrecht, na semana passada.
SIGILO DE PLANILHA
O
juiz decretou sigilo no processo horas após a imprensa ter publicado as
primeiras reportagens sobre a planilha apreendida em fevereiro na casa
de um executivo da empreiteira. Tanto a força-tarefa quanto pessoas
próximas ao juiz relatam que o magistrado foi duro ao reclamar da
divulgação com integrantes da PF — não apenas pelo possível efeito de
reação de políticos citados como pela importância de manter o sigilo
desta prova para a investigação em curso.
Os
documentos que provocaram o descontentamento do juiz e fizeram também
este processo ser remetido ao STF foram colocados no sistema eletrônico
de acompanhamento processual da Justiça Federal do Paraná. Esse sistema
pode ser abastecido por policiais federais, procuradores, advogados das
partes de cada ação e pelo próprio juiz do caso. A PF costuma anexar aos
processos evidências encontradas no cumprimento de mandados de busca,
muitas vezes antes de terminar a análise do material.
A
lista da Odebrecht, por exemplo, ainda não tinha sido esmiuçada pelos
investigadores quando foi tornada pública, segundo um policial. Na
opinião dele, o material pode ser interessante para a investigação
porque parece mostrar um padrão parecido com aquele encontrado nas
listas do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, que, de acordo
com a PF, tinha a função de operacionalizar o pagamento de propinas.
*Enviado especial a Curitiba
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