A crise
política brasileira continua atraindo as atenções da imprensa
internacional. Nesta segunda-feira, o jornal americanoLos Angeles Times
divulgou um levantamento feito pela ONG Transparência
Brasil sobre os políticos que estão incumbidos de analisar o pedido de
impeachment da presidente Dilma Rousseff.
No
título da reportagem, a publicação diz: "Os políticos que votam o
impeachment da presidente do Brasil são acusados de mais corrupção do
que ela".
Ao longo do texto, o
jornal cita números pesquisados pela ONG sobre os integrantes da
Comissão Especial do Impeachment, formada na Câmara para emitir um
parecer sobre o pedido de afastamento da petista, e o Congresso como um
todo.
Segundo a Transparência
Brasil, dos 65 membros da comissão – formada por deputados de partidos
que apoiam o governo, da oposição e dos chamados independentes –, 37
enfrentam acusações de corrupção ou outros "crimes graves", conforme
cita a publicação americana.
"Cinco
membros da comissão são acusados de lavagem de dinheiro, outros 6 de
conspiração e 19 são investigados por irregularidades nas contas; 33 são
acusados ou de corrupção ou de improbidade administrativa; ao todo, 37
membros foram acusados, alguns deles de crimes múltiplos", afirma.
O LA Times
destaca ainda a presença, no colegiado, de Paulo Maluf
(PP-SP), ex-prefeito de São Paulo, afirmando que ele é "procurado pela
Interpol e que um tribunal de Paris recentemente o condenou à revelia
por lavagem de dinheiro e crime organizado". O parlamentar nega a
prática de crimes.
Dentre os
513 deputados da Câmara, segundo a Transparência Brasil, 303 são
investigados por algum crime. No Senado, o número também ultrapassa os
50%: 49 dos 81 senadores estão envolvidos em investigações.
O Los Angeles Times
pondera que os dados fornecidos pela ONG ainda não
incluem as informações mais recentes da 26ª fase da Operação Lava Jato,
deflagrada na semana passada, e que tem como alvo executivos da
Odebrecht e doleiros.
Uma
lista da construtora citando mais de 200 políticos de diversos partidos
que teriam recebido doações da empresa foi divulgada pela Polícia
Federal – e depois colocada sob sigilo pelo juiz federal Sergio Moro –,
mas ainda não há confirmação sobre a legalidade ou não desses repasses.
"Dilma Rousseff, por sua vez,
nunca foi investigada oficialmente ou acusada de corrupção, apesar de
ela ter uma impopularidade gigantesca atualmente e ser considerada
culpada pela recessão profunda em que o país se encontra", afirma o
jornal americano.
"Ela era
chefe do conselho administrativo da Petrobras quando a empresa esteve
envolvida no esquema de pagamento de propina que tem sido desvendado
pela Operação Lava Jato. Mas, para tirá-la do poder, os deputados estão
se valendo da acusação sobre a manobra orçamentária ("pedaladas
fiscais") para esconder o tamanho do deficit do país, e eles garantem
que essa é uma ofensa passível de impeachment."
O
jornal ainda menciona as investigações contra o vice-presidente Michel
Temer (PMDB), que seria o sucessor de Dilma em caso de impeachment.
"Michel Temer é suspeito, em investigações da Lava Jato, de estar
envolvido em um esquema de compra ilegal de etanol", afirmou, em
referência à delação do senador Delcídio do Amaral.
O peemedebista nega a prática de crimes.
Principal oponente da presidente na última eleição e
líder da oposição, Aécio Neves (PSDB) é "investigado pela Lava Jato",
afirma oLA Times . A publicação cita
documentos obtidos durante as apurações que indicariam que a família de
Aécio manteria conta bancária secreta em Liechtenstein, também
mencionada por Delcídio.
Aécio nega irregularidades. Até o momento, ele e Temer não são oficialmente investigados pela Lava Jato.
A
Comissão Especial do Impeachment aguarda a defesa da presidente Dilma
Rousseff sobre as acusações. A partir daí, o colegiado votará e emitirá
um parecer que será levado a plenário – o que o presidente da Casa,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), planeja fazer no próximo dia 17, um domingo.
A
abertura do processo de impeachment precisa de aprovação de dois terços
dos deputados antes de ir ao Senado. A presidente só será afastada caso
a maioria simples dos senadores também dê aval à decisão da Câmara.
Caso isso ocorra, ela ficará afastada por até 180 dias à espera do
julgamento final pela Casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário