A presidente Dilma Rousseff
voltou a falar de "golpe" e em "má-fé" na condução do processo do
impeachment de que é alvo. Dilma lançou a terceira fase do programa
Minha Casa Minha Vida no Palácio do Planalto, nesta terça-feira, com
forte presença de movimentos sociais.
-
Que processo é esse? É um processo golpista - afirmou Dilma, que
ressaltou por várias vezes que o país não está em um sistema
parlamentarista, no qual há a figura do primeiro-ministro, eleito por
voto proporcional, em vez do majoritário.
-
Não existe essa conversa: "Não gosto do governo, então ele cai". Não
existe isso. Existe no parlamentarismo. Não gosto do primeiro-ministro,
derruba o gabinete. Está previsto - disse a presidente, e completou em
outro momento: - Impeachment sem crime de responsabilidade é o quê? É
golpe.
Dilma declarou que não
há irregularidades em seus dois mandatos ou em sua vida pregressa, e
condenou o clima de intolerância por que passa o Brasil. A presidente
fez um apelo para que não haja ódio nas manifestações.
A
petista disse que os que querem seu afastamento serão responsáveis por
retardar a volta do crescimento econômico. Além disso, ao anunciar as 2
milhões de casas que serão construídas na terceira fase do Minha Casa
Minha Vida - a meta divulgada antes era de 3 milhões de unidades
habitacionais -, Dilma defendeu a permanência de investimentos do
governo em programas sociais, mesmo diante das "dificuldades públicas e
notórias" por que passa a economia nacional.
-
Mesmo diante das dificuldades que nós temos, públicas e notórias, pelas
quais a economia do Brasil passa, é importante que a gente perceba que
nós não podemos ajustar a economia para cortar programas sociais.
Dilma
iniciou seu discurso relembrando datas históricas do Brasil, e
ressaltou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ela foram os
únicos governos a garantir a tantos brasileiros a casa própria. A
presidente Dilma Rousseff ressaltou que as conquistas sociais de seu
governo e de Lula "incomodam muita gente".
PROGRAMA NUNCA VISTO, DIZ KASSAB
Primeiro
a discursar, o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, afirmou antes de
Dilma que, proporcionalmente, o Minha Casa Minha Vida é um programa
"nunca" visto durante toda a "história da humanidade"
-
O Brasil foi descoberto há 516 anos, tornou-se independe há 193 anos, e
a república foi instalada há 126 anos. Em todo esse tempo, sabem
quantos governos foram capazes de implementar um programa habitacional
que garantisse a milhões de brasileiras e brasileiras a realização do
sonho da casa própria? - perguntou Dilma, respondendo: - A resposta é
simples. Somente dois governos. O governo do presidente Lula e o meu
governo.
— Proporcionalmente,
o Brasil oferece um programa habitacional que nunca se viu na história
da humanidade — afirmou Gilberto Kassab.
Kassab
foi interrompido várias vezes por palavras de ordem pela permanência de
Dilma na Presidência. A presidente desceu a rampa para o Salão Nobre do
Palácio do Planalto aguardada de perto por integrantes de movimentos
sociais. Geralmente, a área pela qual Dilma passa nessas cerimônias é
isolada.
A fala mais forte
pró-governo foi a do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto,
Guilherme Boulos, que, no fim do ano passado, recusava-se a levar seu
grupo para protestar contra o impeachment.
Apesar
de deixar seu recado à presidente no discurso, falando que os
trabalhadores não querem pagar a conta, com o ajuste fiscal, Boulos
atacou a tentativa de "golpe" e de "fascismo" no Brasil. O líder do MTST
não mencionou diretamente o vice-presidente, Michel Temer, mas chamou
Eduardo Cunha, presidente da Câmara, de "bandido".
—
Esse povo que tá nas ruas, presidenta, não quer o ajuste fiscal. Quer
que o andar de cima pague a conta da crise, e não os trabalhadores,
disse Boulos, e completou, no fim de sua fala: — Vai ter luta, vai ter
resistência. Não passarão com esse golpe de araque no Brasil.
Na
semana passada, um grupo de juristas foi ao Planalto criticar duramente
o impeachment. Desde que Lula foi empossado na Casa Civil, no último
dia 16, o público que acompanha as cerimônias no Salão Nobre do palácio,
o maior espaço para eventos internos, grita palavras de ordem contra o
"golpe", atacando a Organização dos Advogados do Brasil, entidades que
apoiam o impeachment e a imprensa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário