A presidente Dilma Rousseff
afirmou nesta quinta-feira, em discurso durante ato com mulheres em
defesa do governo, que os vazamentos “seletivos” de informações das
investigações sobre corrupção no país estão sendo feitos para criar um
“ambiente propício para o golpe” e anunciou que pediu apuração
“rigorosa” ao ministro da Justiça, Eugênio Aragão.
“Na trama golpista eu gostaria
de destacar também o uso de vazamentos seletivos. A Constituição proíbe
vazamentos que hoje constituem vazamentos premeditados, direcionados,
com clara intenção de criar ambiente propício para o golpe. Não precisa
provar, basta vazar. Sempre se aposta na impunidade”, afirmou.
De
acordo com a presidente, o país poderá ver, nos próximos dias,
“vazamentos oportunistas e seletivos” e que “passou de todos os limites a
seleção muito clara de vazamentos no país”.
Nesta
quinta-feira, o jornal Folha de S.Paulo publicou informações atribuídas
a delação premiada de executivos da empreiteira Andrade Gutierrez em
que eles apontariam o uso de recursos de propinas por contratos de obras
federais sendo usados em doações legais à campanha da presidente. De
acordo com a GloboNews, o acordo de delação foi homologado pelo Supremo
Tribunal Federal.
Nos próximos dias, a Câmara dos Deputados deve votar em plenário a abertura do processo de impeachment contra a presidente.
Mais
uma vez, Dilma afirmou que seu impeachment é um golpe travestido de
legalidade, por não haver razões sólidas, na avaliação dela, por trás do
processo. Segundo a presidente, o próprio instituto da eleição ficará
“desmoralizado” pela falta de respeito ao voto de milhões de
brasileiros.
“Acredito que o
Brasil hoje precisa de um grande pacto. Mas nenhum pacto ou
entendimento prosperará se não tiver como premissa o respeito à
legalidade e à democracia. A primeira premissa é a defesa do respeito à
vontade popular”, disse.
“Sempre
busquei e buscarei consensos capazes de superar toda e qualquer crise.
Mas o pacto tem como ponto de partida algumas condições: o respeito ao
voto, o fim das pautas-bomba no Congresso, unidade pela aprovação de
reformas, a retomada do crescimento, a preservação de todos os direitos
conquistados pelos trabalhadores e a necessária, imprescindível e
urgente reforma política. Esse é o pacto que eu busco”, completou.
Ao
final do discurso, visivelmente emocionada, Dilma se referiu pela
primeira vez diretamente a uma reportagem que a apontou como sofrendo de
descontrole nervoso por conta da crise.
“Sempre
mantive o controle, o eixo e, sobretudo, a esperança. Enfrentei uma
doença difícil, que me debilitou no início. Mas eu sempre disse:
enfrenta que você supera. Eu estou enfrentando, desde a minha reeleição,
a sabotagem de forças contrárias e mantenho o controle, o eixo e a
esperança”, afirmou, embargando a voz.
“Eu não perco o controle, não perco o eixo, não perco a esperança. Porque eu sou mulher”.
Este
foi o terceiro ato em defesa do governo organizado pelo Palácio do
Planalto nas duas últimas semanas. De acordo com a assessoria da
Presidência, os encontros foram montados a partir de pedidos de grupos
que queriam demonstrar apoio à presidente.
No
ato desta quinta-feira, estiveram presentes grupos de sindicalistas, de
mulheres ligadas a partidos políticos e movimentos feministas e 11
mulheres fizeram discursos de apoio à presidente.
“Estamos
participando da defesa desse governo que é nosso. Queremos respeito a
esse mandato democrático, eleito pelo povo. Não vamos aceitar que a
Constituição seja rasgada. Mexeu com ela, mexeu conosco”, afirmou Creuza
Maria, presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas.
“Os ataques neste momento são do nível de um estupro político”, disse a filósofa Márcia Tiburi.
Há
duas semanas, Dilma recebeu juristas, advogados e defensores públicos,
entre outros da área jurídica. Na semana passada, um grupo de artistas,
como a atriz Letícia Sabatella, o escritor Raduan Nassar e a cantora
Beth Carvalho.
Eventos no
Planalto sobre programas de governo também se transformaram nas últimas
semanas em atos de defesa do mandato da petista.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu; Edição de Eduardo Simões)
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