Herdeiro do Grupo Odebrecht, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, preso
desde junho do ano passado em Curitiba, apresentou ao juiz Sergio Moro,
da 13ª Vara Federal, suas alegações finais no processo em que é acusado
de participar do esquema de corrupção instalado na Petrobras e atacou o
Ministério Público Federal por, segundo ele, promover uma "espetaculosa
investigação" com o único objetivo de conseguir que ele seja condenado
na Operação Lava Jato. As alegações finais da defesa são a última fase
antes de a sentença ser anunciada.
Marcelo
Odebrecht e outras doze pessoas respondem, neste processo, pelos crimes
de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa por suspeitas
de irregularidades e pagamento de propina em seis contratos de obras e
serviços da Petrobras: no consórcio Conpar (Odebrecht, UTC Engenharia e
OAS) que atuou em obras da Carteira de Coque da Refinaria Presidente
Getúlio Vargas (Repar), no consórcio RNEST-Conest (Odebrecht e OAS) na
refinaria Abreu e Lima (PE), no consórcio Pipe Rack no Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no consórcio TUC Construções
(Odebrecht, UTC PPI - Projeto de Plantas Industriais Ltda.) para obras
das Unidades de Geração de Vapor e Energia no Comperj, no consórcio OCCH
(Odebrecht, Camargo Correa e Hochtief do Brasil) para construção do
prédio sede da Petrobras em Vitória e no contrato de fornecimento de
nafta da Petrobras para a Braskem, empresa controlada pela Odebrecht.
Um
dos pontos altos das investigações, as mensagens apreendidas nos
celulares de Marcelo Odebrecht e que, na avaliação do Ministério
Público, significariam orientações a subordinados para minar as
investigações ou destruir provas são tratadas pelos advogados do
empreiteiro como "estratégia de defesa" formulada pelo empresário e
"lembretes dele para ele mesmo". "Essas notas elaboradas pelo defendente
Marcelo Odebrecht para si mesmo não consubstanciavam mensagens que
pudessem conter algum tipo de orientação ou revelação que o vinculasse a
qualquer atividade criminosa, mas tratava-se simplesmente de anotações
que serviam como lembretes para averiguação e consequente discussão no
âmbito interno do conteúdo de matérias jornalísticas que eram veiculadas
no curso das investigações relativamente a executivos de empresas do
Grupo Odebrecht", diz a defesa.
Embora
o Ministério Público alegue que as mensagens apreendidas no celular do
executivo indiquem uma possível orientação para destruição de provas, os
advogados argumentam que "a maior parte das anotações não guarda
qualquer relação com fatos investigados na Operação Lava Jato". "Todas
as notas foram escritas depois dos supostos fatos criminosos que se quer
atribuir ao defendente Marcelo Odebrecht", afirmam os defensores.
Na
peça de defesa enviada a Sergio Moro, boa parte da argumentação é
utilizada para atacar o Ministério Público e a própria isenção do juiz
para julgar o caso. Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato, na
versão apresentada pelos advogados, "exploram de forma desleal e
distorcida fatos relacionados ao defendente com a finalidade de criar um
ambiente a ele desfavorável na mídia e perante a opinião pública, na
tentativa de legitimar uma futura condenação sem provas". A defesa alega
não haver provas da atuação de Marcelo Odebrecht nos crimes
investigados na Lava Jato, diz que ele não tinha ingerência sobre as
diversas empresas do Grupo Odebrecht e afirma que o Ministério Público
estaria utilizando uma versão deturbada da chamada Teoria do Domínio do
Fato para incriminar o executivo. O Ministério Público, diz, "procura
agora encher com nada o oco da acusação, fazendo uma utilização de todo
equivocada da teoria do domínio do fato, quando não se baseia em
inaceitáveis conjecturas e presunções para tentar sustentar uma denúncia
absurda e insubsistente".
Ao
longo da instrução do processo que envolve o herdeiro do Grupo
Odebrecht, os investigadores encontraram, por exemplo, um e-mail
endereçado a Odebrecht e, que o executivo Roberto Prisco Ramos fala em
"sobrepreço" de até 25.000 dólares por dia. Na versão da defesa do
empreiteiro, considerada risível por policiais que atuam no caso, a
palavra "sobrepreço" não seria superfaturamento, mas sim um termo
técnico utilizado na conversa, o valor dos serviços a ser prestado pelas
empresas (fee) após a apuração do valor do custo (cost) pela empresa
Sete Brasil.
Na tentativa de
demonstrar que Marcelo Odebrecht não tinha controle sobre as decisões
tomadas pelas empresas do Grupo e que ainda assim o Ministério Público
estaria tentando aplicar a Teoria do Domínio do Fato para leva-lo à
condenação, os advogados de defesa do empreiteiro citam que o Grupo
Odebrecht tem dez pessoas jurídicas distintas e que apenas os negócios
de engenharia e construção estão subdivididos em mais de 300 novas
empresas. "Trata-se de uma tentativa absolutamente desesperada de se
atribuir ao defendente Marcelo Odebrecht a prática de algum crime
(qualquer um!), nem que para isso seja preciso deturpar maliciosamente
teorias ou, até mesmo, aplicar construções absolutamente alheias à
órbita penal. Tudo nos leva à lamentável conclusão de que qualquer coisa
vale para condenar Marcelo Odebrecht", argumenta o criminalista Antonio
Nabor Bulhões.
Além de
alegarem inocência do empreiteiro, os advogados de defesa também
questionam a imputação de organização criminosa, já que esse tipo penal
não existia na época em que a maior parte do esquema de corrupção teria
funcionado, levantam a suspeição do juiz Sergio Moro por suposto
"prejulgamento" de Marcelo, dizem que o magistrado teria adotado uma
"inaceitável postura inquisitorial" e alegam, entre outros pontos, ter
havido cerceamento de defesa, já que Moro negou pedidos para a produção
de provas extras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário