O Conselho Federal de
Odontologia (CFO) reconheceu em novembro de 2015 a homeopatia como uma
especialidade odontológica. A prática é cada vez mais comum nos
consultórios, sendo muito eficaz em alguns tratamentos bucais, como
gengivites, abscessos e dor de dente. Ela estimula a defesa do organismo
ao induzir, por meio da medicação homeopática, sintomas semelhantes aos
das doenças que precisam ser tratadas.
A
homeopatia tem como premissa agir pensando na clínica e na terapêutica.
De modo geral, a prática não se importa apenas com o órgão adoecido,
ela visa conhecer o paciente que está enfrentando o problema. “Nossa
abordagem é baseada, principalmente, em entender como as pessoas ficam
no processo de adoecimento. Isso é importante para sabermos qual
medicamento prescrever para o alívio da dor”, explica a presidente da
Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas Homeopatas (ABCDH),
Jussara Giorgi (CRO-SP 23332).
Essa
especialidade odontológica pode resolver problemas pontuais em qualquer
área da odontologia, como o pré-operatório de um paciente que vai fazer
uma cirurgia, e questões mais amplas, por exemplo, ansiedade e medo de
dentista. É útil também no tratamento de desordens bucais de origem
sistêmica, como herpes, sinusite, halitose e glossite, e de
implantodontia e perdas ósseas. Desde a anamnese ‒ um tipo de entrevista
realizada pelo profissional da saúde para diagnosticar uma doença ‒, o
cirurgião-dentista homeopata se preocupa em conhecer o indivíduo como um
todo, inclusive a personalidade. Ele pode levar o dobro do tempo ou
mais em uma consulta. Isso porque é necessário saber muito mais detalhes
sobre a saúde oral.
O
conhecimento obtido pelos profissionais na experiência clínica diária da
odontologia serve para identificar qual medicamento deve ser indicado
em um diagnóstico específico. “Sabendo tudo sobre a pessoa e conhecendo a
fundo o medicamento homeopático, posso indicar para cada caso clínico
um remédio específico”, afirma Jussara.
De
acordo com a dentista, não existe uma forma de generalizar o uso de
medicamentos homeopáticos. “Cada situação é única. Usamos o medicamento
exato para aquela pessoa e aquele quadro definido pelo profissional.” A
homeopatia trabalha com substâncias derivadas da natureza, que podem ser
de origem animal, vegetal ou mineral. Elas são diluídas e dinamizadas,
ou seja, são processadas em agitação, de forma manual ou por meio de
aparelhos, liberando energia ‒ responsável pela cura das doenças.
Os
efeitos da homeopatia acontecem por meio de um processo farmacológico.
“Existe uma forma própria para preparar o medicamento. Não é uma questão
de acreditar ou não nessa prática, mas sim de como usá-la corretamente
no paciente”, ressalta Jussara. Todos os remédios homeopáticos são
usados por via oral e não têm riscos de efeitos colaterais e reações
adversas. Além disso, é mais barato que um medicamento alopático ‒
aquele que produz no organismo uma reação contrária aos sintomas
originados pela doença, a fim de diminuí-los ou neutralizá-los.
Segundo
Jussara, a medicação alopática pode intoxicar o paciente, o que não
acontece com a homeopática, preparada de forma a minimizar os riscos à
saúde. “A homeopatia faz o mesmo serviço que a alopatia faria naquela
situação, caso fosse possível medicar.” Na ortodontia, por exemplo, não é
comum prescrever medicamentos aos pacientes, mas, se eles reclamarem de
dor durante algum procedimento odontológico, como a troca do fio do
aparelho, o dentista pode fazer uso tanto da homeopatia quanto da
alopatia, já que o organismo vai ser estimulado a se defender em ambas
as situações, reduzindo a dor naquele caso.
Como
a oficialização pelo CFO ainda é recente, o futuro da homeopatia ainda é
incerto. As universidades não têm essa especialidade como uma
disciplina nas grades curriculares e nem cursos de especialização. “O
que se tem é um tópico em algumas instituições, com uma carga horária
entre 30 e 40 horas, para o aluno conhecer a prática homeopática”,
informa Jussara. O cirurgião-dentista que busca se especializar na área
pode procurar associações e fundações, como a ABCDH, para fazer um curso
de homeopatia.
Alguns
profissionais e pacientes ainda são relutantes. Jussara comenta que esse
ceticismo se deve a conclusões equivocadas. “Muitas pessoas usam a
especialidade de forma errada e, então, é claro que ela não funciona.
Por isso, espalham informações infundadas.” As práticas homeopáticas
existem há mais de 200 anos e foram criadas pelo médico alemão Samuel
Hahnemann. “Elas evoluíram muito em pouco tempo. Isso aconteceu porque
voltam a tratar do sujeito e não somente da doença”, diz Jussara.
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