O ministro Gilmar Mendes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta segunda-feira que o dinheiro
desviado da Petrobras poderá ser usado para financiar as eleições
municipais deste ano. Para o ministro, "certamente haverá tentativas de
burlar a legislação" no próximo pleito.
-
Essa é uma questão delicada sobre a qual nós vamos ter que discutir. Se
de fato houve apropriação de recursos ilícitos em montantes muito
significativos pode ser que esses recursos venham para as eleições em
forma de caixa 2 ou até na forma disfarçada de caixa 1 porque nós vamos
ter doação de pessoas físicas. Pode ser que recursos sejam dados a essas
pessoas para que elas façam a doação aos partidos políticos ou aos
candidatos. Então, tudo isso precisa ser olhado com muita cautela -
disse Mendes durante evento na Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp).
Na visão do
ministro "será um desafio" coibir o caixa 2 no próximo pleito, o
primeiro depois da proibição do financiamento privado de campanha.
Mendes, que assume a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em
maio, foi voto vencido no julgamento sobre o tema no STF em setembro do
ano passado.
- Temos uma
eleição desafiadora. Pela primeira vez vamos ter uma eleição sem doação
de pessoa jurídica privada. Portanto, corremos o risco de termos caixa
2, não cumprimento do que está na legislação e, para isso, temos que
contar com o auxílio da comunidade, dos vários setores, OAB, Ministério
Público, CNBB, para evitar que esses abusos desautorizem, tornem um
desvalor para o nosso sistema. Não podemos tornar essa eleição agora um
império do caixa 2, um mundo de faz de conta. Por isso, temos um grande
desafio.
O ministro pediu
ajuda a sociedade na fiscalização dos recursos nas próximas eleições,
que escolherão prefeitos e vereadores. Mendes reconheceu que a Justiça
Eleitoral não possui fiscais para dar atenção a todos os municípios
brasileiros.
- Não dispomos
de fiscais na Justiça eleitoral para dar atenção a todos os 5.800
municípios. A própria sociedade terá que fiscalizar. A disputa
municipal, às vezes, é muito mais acirrada do que a disputa nacional.
Então, é muito provável que haja ânimo de violar a legislação,
especialmente na ausência de uma fiscalização mais visível.
A
respeito dos pedidos de cassação de mandato da presidente Dilma
Rousseff e do vice Michel Temer, que estão sendo analisados pelo TSE, o
ministro diz não acreditar que haja manobras para protelar a decisão da
Corte.
- Não acredito que
haja manobras dilatórias. E se houver o Tribunal dispõe de mecanismo
para inibir. Quer dizer, eventualmente decidir ouvir uma testemunha em
Marte, ou coisas do tipo, são manobras que de vez em quando ocorrem,
claro que estou falando em sentido figurado, mas coisas desse tipo o
juiz pode indeferir, provas impossíveis ou coisas dessa índole. De modo
que não acredito que haja essa possibilidade, nem cogito que, de fato, a
assessoria jurídica da presidente e do vice vá se orientar nesse
sentido. Não nesse sentido, não me parece ser o padrão adequado.
Acredito que nesse período vamos ter essa decisão e é bom para o País.
Se for uma decisão de rejeição pacifica essa temática. Se for uma
decisão eventual de acolhimento também se resolve o tema.
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