Sucessão: processo deve ser bem planejado para evitar conflitos
Editado por Mariana Desidério, de EXAME.com
Como evitar o conflito entre gerações em uma empresa familiar
Escrito por Luiz Marcatti, especialista em empresas familiares
Escrito por Luiz Marcatti, especialista em empresas familiares
As empresas são palcos de convivência entre as pessoas, que se guiam
pelo desejo e pela necessidade de poder e dinheiro. Quando essas
relações são impactadas pela ambição, pessoal ou coletiva, o ambiente
torna-se propício a conflitos constantes que, se não administrados da
maneira correta, podem levar a perdas corporativas importantes.
No caso de empresas de controle familiar,
acrescentam-se questões emocionais, naturais nas relações entre
parentes, que podem potencializar os efeitos das disputas por poder e
dinheiro, transcendendo o ambiente empresarial e misturando-se com as
relações familiares.
Algo bastante possível de ocorrer é o surgimento de conflitos entre diferentes gerações que convivem na sociedade e na gestão dos negócios,
pela decorrência de mudanças naturalmente provocadas pela ação do
tempo: fundadores envelhecem, filhos crescem e começam a trabalhar nos
negócios da família.
A chegada da nova geração à empresa cria uma expectativa sobre como irão
conviver o tradicional e o novo, como será o relacionamento entre os
que têm seus modelos estabelecidos e os que têm novas percepções e
expectativas sobre os negócios. Não raramente, querendo mudar tudo de
uma vez.
Alguns aspectos precisam ser levados em conta na preparação das pessoas e
da própria empresa, a fim de mitigar riscos dessa ordem:
1 - No ambiente da sociedade: formalizar a relação com
um Acordo Societário, de forma a definir as regras de convivência e de
uso do poder, nas decisões mais relevantes para a companhia. Em empresas
de controle familiar, esse documento define os processos sucessórios,
dando o caminho mais adequado sobre como os herdeiros atuarão. Existem
instrumentos legais que criam obrigação para esses novos sócios, no
sentido de cumprir as cláusulas do acordo, mesmo não tendo sido seus
signatários.
2 - No ambiente da gestão: abrir a possibilidade de a
próxima geração vir trabalhar na empresa como uma opção de carreira, e
não apenas pelo fato de serem filhos dos donos. Muitos conflitos
pessoais e familiares vêm à tona por causa de vocações profissionais
frustradas pela obrigação de atender a um chamado dos pais. Outro
aspecto decisivo será a capacidade de pais e filhos se relacionarem
profissionalmente. Os pais devem dar claros sinais aos filhos e à
organização de que não haverá um tratamento com privilégios, mas dentro
das regras da empresa. Esses dois pontos talvez sejam os mais difíceis
de serem cumpridos integralmente, porém serão extremamente críticos caso
não aconteçam de fato, trazendo sérios prejuízos para a sociedade e
para a empresa.
3 - No ambiente da família: é onde tudo pode ser feito
para mitigar e administrar os riscos da entrada das novas gerações tanto
na sociedade quanto na operação e na administração dos negócios. Toda a
família deve passar por um processo de entendimento e conscientização
dos papéis e responsabilidades que tem, no sentido de criar e cuidar da
estabilidade das relações entre familiares, sócios e profissionais,
atuais e futuros, tendo sempre em mente a visão do coletivo, ou seja, o
que é melhor para a Família, para a Sociedade e para o Negócio.
Muitas empresas familiares, no mundo todo, alcançam sucesso nas suas
áreas de atuação graças ao talento, esforço e desempenho de seus
fundadores. Mas criar um negócio que alcança várias gerações dentro de
uma, ou de um grupo de famílias, depende de um alinhamento de interesses
entre todas as partes envolvidas, propiciando uma visão de futuro com
sustentabilidade, nas relações e nos negócios.
Luiz Marcatti é sócio da consultoria Mesa Corporate Governance.
Envie suas dúvidas sobre empresas familiares e empreendedorismo para pme-exame@abril.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário