Físicos estão à caça de ondas gravitacionais – pequenas vibrações no
tecido do espaço-tempo – desde que Albert Einstein previu a existência
delas há um século. Ondas gravitacionais existem, e finalmente foram
encontradas por cientistas.
É
isso o que dizem pesquisadores do LIGO (Observatório de Ondas
Gravitacionais por Interferômetro Laser), que vêm trabalhando há semanas
para confirmar que a primeira detecção direta de uma onda gravitacional
realmente aconteceu. Sinais falsos já foram detectados anteriormente, e
mesmo que rumores circulem há cerca de um mês, a equipe do LIGO quis
ter certeza absoluta da descoberta antes de fazer um anúncio oficial.
E
esse anúncio finalmente aconteceu. As ondas gravitacionais foram
observadas na manhã do dia 14 de setembro de 2015, pelos dois detectores
LIGO, localizados em duas cidades a 3.000 km de distância nos EUA. A
fonte? Um buraco negro supermassivo que colidiu há 1,3 bilhão de anos.
Quando isso aconteceu, cerca de três vezes a massa do Sol foi convertida
em energia em uma fração de segundo.
Descobrindo as ondas
Ondas
gravitacionais são vibrações no universo causadas por algum tipo de
evento cósmico energético, de explosão de estrelas a fusão de buracos
negros supermassivos. Conforme elas se propagam através do espaço e do
tempo, as ondas gravitacionais causam pequenos tremores nos átomos que
compõem a matéria.
Einstein as previu na sua teoria geral de
relatividade em 1916, e sua existência foi indiretamente demonstrada em
1980, mas foi só quando o detector LIGO foi ligado em 2002 que a caçada
pelas ondulações no espaço-tempo ficou realmente séria.
Visualização de ondas gravitacionais. Crédito da imagem: Werner Benger / Wikimedia
A
primeira geração do experimento LIGO, que durou oito anos, não foi
sensível o bastante para detectar essas ondas. Isso é compreensível.
Ondas gravitacionais são minúsculas: os tremores atômicos que passam
pelo nosso mundo quando dois buracos negros colidem em uma galáxia
distante são da ordem de um bilionésimo de um bilionésimo do diâmetro de
um átomo.
O LIGO usa lasers de alta potência para medir mudanças
pequenas na distância entre dois objetos posicionados a milhares de
quilômetros de distância. Milhões de coisas podem atrapalhar essa busca,
incluindo a vibração causada pela passagem de um trem, um terremoto na
Terra, e a realidade inconveniente de que todos os objetos com
temperatura acima do zero absoluto estão vibrando o tempo inteiro.
Após
uma série de atualizações feitas entre 2010 e 2015, o LIGO voltou a
funcionar no ano passado. Com lasers mais potentes e um sistema
melhorado de isolamento das vibrações do solo, as possibilidades de
detecção da primeira onda gravitacional nunca foram maiores. Alguns
cientistas até previram que teríamos nossa primeira detecção positiva em
2016 – mas poucos imaginavam que isso aconteceria tão rápido.
Na
verdade, as ondas gravitacionais foram detectadas quase que
imediatamente pelo LIGO. A equipe então passou meses investigando
exaustivamente potenciais distúrbios ambientais ou instrumentais para
confirmar que o sinal era real. O estudo foi aceito para ser publicado
pela Physical Review Letters.
Buracos negros
De
acordo com a teoria da relatividade de Einstein, quando um buraco negro
orbita em direção a outro, eles perdem energia lentamente, o que faz
com que eles se aproximem gradualmente. Nos minutos finais dessa fusão,
eles aumentam consideravelmente a velocidade, até que, finalmente, se
movendo a mais ou menos metade da velocidade da luz, eles se unem,
formando um buraco negro maior. Uma tremenda explosão de energia é
liberada, propagando-se através do espaço como ondas gravitacionais.
Os
dois buracos negros por trás de tudo possuem 29 e 36 vezes a massa do
Sol, respectivamente. Os pesquisadores do LIGO estimam que, durante o
pico da colisão cósmica, a energia liberada foi 50 vezes a de todo o
universo visível.
“Essa observação foi maravilhosamente descrita
na teoria geral da relatividade de Einstein formulada há 100 anos, e
representa o primeiro teste da teoria em gravidade forte”, disse Rainer
Weiss, o primeiro a propor o LIGO como forma de detecção de ondas
gravitacionais nos anos 1980. “Seria fantástico ver o rosto de Einstein
se pudéssemos contar isso a ele.”
Um novo capítulo na exploração do cosmos
A
descoberta das ondas gravitacionais foi assunto de rumores nas últimas
semanas. Cientistas ficaram empolgados e deixaram escapar a informação
em diversas ocasiões. Na semana passada, o físico teórico Clifford
Burgess, da Universidade McMaster (Canadá), enviou um email para todo o
departamento dizendo que o LIGO encontrou um sinal real e “espetacular”
da fusão de dois buracos negros.
Essa descoberta confirma um
aspecto importante da teoria da relatividade, e vai muito além disso.
Ele praticamente abre um novo capítulo na nossa exploração do cosmos, um
em que a radiação eletromagnética não será nossa única ferramenta para
“olhar” o universo. Como o astrofísico do MIT Scott Hughes disse ao
Gizmodo, podemos usar ondas gravitacionais para sondar objetos
celestiais misteriosos como buracos negros e estrelas de nêutrons, que
normalmente não têm luz.
“Há muita informação rica codificada nas
ondas gravitacionais,” ele explicou, notando que a forma da ondulação no
espaço-tempo pode revelar o movimento e tamanho do objeto que a
produziu. “Como astrônomo, tento pensar sobre como vamos do ‘som’ da
forma de onda medida pelo LIGO, para os parâmetros que produzem a forma
de onda.”
Hughes também destaca que, assim que nossos detectores
forem sensíveis o suficiente para detectar ondas gravitacionais
regularmente, poderemos começar a construir um censo dos eventos mais
energéticos do universo. “Conseguir dados demográficos é uma das
principais coisas a se fazer em uma era de detecção,” ele disse.
“Seja
lá quando a primeira detecção acontecer, vai ter uma festa, sem
dúvidas,” ele continuou. “Mas, depois disso, quando a detecção se tornar
rotineira, é aí que as coisas vão ficar realmente interessantes.”
Uma caçada de mais de um século chegou ao fim. Mas uma nova exploração cósmica está apenas começando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário