O PMDB saiu ontem em defesa do ministro da Saúde, Marcelo
Castro, cujo desgaste tem se ampliado por causa das declarações
polêmicas e do avanço das epidemias de dengue e de zika no País. O
presidente da República em exercício, Michel Temer, que assumiu ontem o
cargo após viagem da presidente Dilma Rousseff ao Equador, disse em
breve entrevista que Castro “merece” continuar no comando da pasta.
Questionado
se Castro continuava firme e forte no cargo, ele respondeu: “Eu acho
que ele merece (continuar)”. O vice, entretanto, evitou comentar as
recentes declarações do ministro. Anteontem, Castro disse que o governo
estava “perdendo feio” a guerra contra o Aedes aegypti. “Isso é uma
questão da Saúde”, afirmou Temer.
Durante todo o dia de ontem, a
avaliação dentro do partido foi de que Castro está sendo alvo de setores
do PT, que, para eles, não aceitaram a perda do comando da pasta e
tentam “fritar” o ministro e jogar a responsabilidade da epidemia de
dengue e de zika no colo do PMDB.
Até o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto do governo, do próprio Castro e
defensor da saída do PMDB da gestão Dilma Rousseff, saiu em apoio ao
atual ministro. “Eles sempre querem jogar no colo dos outros seus
problemas. Esse mosquito está aí há muito tempo e não fizeram nada
contra ele”, afirmou.
Deputados antigoverno reforçaram as
acusações. “Querem que em 30, 60 dias ele já tenha condições de mostrar
resultado. Acredito no trabalho dele mais para frente. Não é
simplesmente ligar ou desligar uma tomada. O PT não aceitou até agora
perder o ministério e avança neste sentido de exigir a resolução em tão
pouco tempo”, disse Carlos Marun (PMDB-MS).
“Já tem mais de uma
década que o PT comanda a Saúde. O mosquito é petista. E, se Marcelo
tiver que sair porque não é um grande frasista, é mais um motivo para a
presidente Dilma sofrer impeachment”, afirmou Lúcio Vieira Lima
(PMDB-BA), comparando as polêmicas frases de Marcelo Castro a
declarações da presidente Dilma.
Congresso. O desgaste de Castro
avançou até mesmo sobre a acirrada disputa pela liderança da sigla na
Câmara. Hugo Motta (PB), candidato de Cunha, manifestou-se logo cedo
pelo Twitter. “Bom dia amigos, quero registrar o nosso apoio e confiança
no trabalho do ministro Marcelo Castro a frente do Ministério da
Saúde”, afirmou. Já o atual líder e responsável pela indicação de
Castro, Leonardo Picciani (RJ), foi pessoalmente ao Ministério da Saúde
conversar com seu correligionário. “São setores que trabalham contra a
aliança do PMDB e do governo que tentam instalar uma crise que não
existe”, afirmou Picciani, aliado do governo.
Aliados do ministro
afirmam que ele pretende evitar dar declarações polêmicas para se manter
na pasta. A avaliação é de que o ministro, chamado por correligionários
de “frasista” e “folclórico”, precisa se preservar para evitar que
Dilma decida trocá-lo em meio à crise provocada pelo aumento do número
de casos de dengue e zika no País. Ao deixar o ministério no fim da
manhã, Castro disse em tom de brincadeira que havia sido proibido de dar
declarações por sua assessoria de imprensa.
‘Hibernação’. A
situação do ministro se agravou depois que, anteontem, ele repetiu que o
governo estava “perdendo feio” a guerra contra o mosquito da dengue. O
ministro, segundo aliados, deve entrar numa fase de “hibernação” para
impedir que saia da pasta, para a qual foi designado em outubro. Desde a
posse ele coleciona declarações polêmicas – na ocasião, defendeu a
cobrança da CPMF “no crédito e no débito”.
Apesar de reconhecer
que as recentes declarações do ministro da Saúde foram “infelizes”, a
presidente Dilma Rousseff decidiu dar mais prazo para Castro mostrar
serviço. O Planalto teme uma nova e mais intensa crise com Temer e o
PMDB.
A avaliação inicial é de que a costura política para que ele
chegasse ao cargo foi difícil e ainda não houve tempo hábil para que o
peemedebista faça seu trabalho no ministério. / ISADORA PERON, DANIEL
CARVALHO, CARLA ARAUJO e RICARDO BRITO
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