O maior desastre
da mineração na história do Brasil não poderia ter vindo em pior momento
para os investidores em títulos da Vale.
A
maior produtora de minério de ferro do mundo já estava enfrentando
problemas com a queda dos preços dos metais e com a mais profunda
recessão econômica em seu país de origem nos últimos 25 anos.
A
ruptura de duas barragens operadas pela Samarco Mineração no início
deste mês está agora ameaçando elevar os custos pois a escala do
acidente quase certamente significa uma supervisão mais rigorosa. O
derramamento da Samarco enterrou uma vila, matou pelo menos 11 pessoas e
contaminou um rio de uma extensão de 853 quilômetros, deixando mais de
260 mil pessoas sem água potável. A Vale tem minas de minério de ferro
em todo o Brasil que são semelhantes às da Samarco – grandes
reservatórios de rejeitos de lama com resíduos da atividade de mineração
– e que agora sofrerão maiores controles dos órgãos ambientais.
Como
resultado, os investidores em debêntures estão se preparando para mais
sofrimento. Os US$ 2,25 bilhões de notas da Vale com vencimento em 2022
caíram 2,9 por cento desde 5 de novembro, três vezes a média dos
mercados emergentes.
“O perfil do caso
provavelmente vai causar algum tipo punitivo da recomendação por parte
dos reguladores do governo e supervisores da indústria”, disse Michael
Roche, estrategista do Seaport Global Holdings. “Isso só contribui para
uma condenação negativa sobre a empresa e o setor, o que não vai
contribuir para sua recuperação”.
A Samarco, uma
joint venture entre a Vale e a BHP Billiton, com sede em Melbourne,
disse em 6 de novembro que é muito cedo para determinar o que causou o
acidente e que as barragens foram consideradas de acordo com as normas
de segurança em uma inspeção em julho. A Samarco está trabalhando para
reforçar duas outras barragens para reduzir o risco para as estruturas,
disse a empresa na quarta-feira. Em uma declaração conjunta em 11 de
novembro, a BHP e a Vale disseram que estavam participando dos esforços
de salvamento, fornecendo ajuda às vítimas e tornando a área segura
novamente. E enquanto as licenças de funcionamento foram suspensas
indefinidamente, os dois proprietários disseram que estão comprometidos
em restaurar o empreendimento. A Vale disse que poderia levar anos para
limpar o Rio Doce.
A Samarco tem US$ 1,7 bilhão em
seguros contra interrupções de negócios e suspensão de operações,
enquanto a cobertura de responsabilidade civil é menor do que os 250
milhões de reais (US$ 66 milhões) já cobrados pelo órgão ambiental
Ibama, disse Luciano Siani Pires, diretor financeiro da Vale, em 16 de
novembro em uma teleconferência. A Vale não espera que as multas e
dívidas da Samarco sejam repassadas para os dois proprietários do
projeto, ele afirmou.
Em uma entrevista na semana
passada, o promotor estadual Guilherme de Sá Meneghin disse que vai
procurar penas máximas contra a Samarco, o que pode incluir a exigência
de uma indenização de R$ 1 bilhão (US$260 milhões) e o fechamento do
lugar de forma permanente.
O acidente também
danificou uma correia transportadora da mina da Vale em Mariana e fechou
a mina de Fazendão que alimentava a produção da Samarco. A Vale espera
que cerca de 18 milhões de toneladas de produção sejam perdidas como
resultado, que equivale a 5 por cento da produção anual.
Isso
levou o Bradesco a cortar sua estimativa para os lucros da Vale em 2016
em cerca de US$ 300 milhões, caindo para US$ 5 bilhões, enquanto o
Deutsche Bank afirmou que os custos de limpeza poderiam ultrapassar US$ 1
bilhão.
Para piorar as coisas, a economia do
Brasil vai encolher 2,5 por cento este ano e 0,5 por cento em 2016, de
acordo com a Standard & Poor’s. Seria a recessão mais longa desde a
Grande Depressão.
“Outras restrições para tornar a
mineração mais segura vão acabar encarecendo a atividade”, Russ Dallen, o
chefe de operações na Caracas Capital Markets, afirmou de Miami. “Eles
estão sendo atingidos por golpe duplo – o boom das commodities
terminou”.
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