O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deu início nesta
quinta-feira, 13, ao julgamento de um recurso apresentado pelo PSDB
contra decisão da ministra Maria Thereza de Assis Moura, que havia
rejeitado uma ação que pedia a impugnação do mandato da presidente Dilma
Rousseff à Corte eleitoral. O caso foi retomado nesta manhã após pedido
de vista feito pelo ministro Gilmar Mendes em março. A sessão, no
entanto, foi encerrada em seguida após pedido de vistas de Luiz Fux.
Os
ministros Gilmar Mendes e Luiz Fux haviam indicado um voto pela
aceitação do recurso. O presidente do Tribunal, ministro Dias Toffoli,
não participou do julgamento, alegando que tinha compromisso agendado
com parlamentares.
Mendes deu início à análise do caso fazendo um
duro voto pela aceitação do recurso. O ministro aproveitou o julgamento
para dirigir críticas à relatora do caso, ministra Maria Thereza de
Assis Moura, que havia decidido pelo arquivamento do processo. Em seu
voto, Gilmar disse que a ministra rejeitou o recurso apresentado pelo
PSDB "sem instruir o processo, sem, portanto, sequer citar os
investigados", argumentou.
Em tom de crítica, ele disse que a
ministra "daria uma brilhante contribuição ao Brasil esclarecendo esse
fenômeno. Corrupção na Petrobrás resulta em lavagem de dinheiro nas
doações eleitorais, veja, isso precisa ser esclarecido. Se não com
efeito prático, para a história desse país", disse.
Para
justificar a demora em devolver o processo ao Plenário do TSE, Mendes
disse que levou cinco meses porque "a toda hora tinha que fazer
atualizações" no caso devido à evolução da Lava Jato. "A cada nova
operação, há fatos conexos aqui", argumentou. "Puxa-se uma pena e vem
uma galinha na Lava Jato."
Quanto às investigações sobre o esquema
que desviou recursos da Petrobrás, disse que "não se cuida em
transportar para o Tribunal Superior Eleitoral análise de todos os fatos
apurados na Operação Lava Jato", mas "busca-se tão somente verificar
se, de fato, recursos provenientes de corrupção na Petrobrás foram ou
não repassados para a campanha presidencial", argumentou. Gilmar citou
então os depoimentos prestados por três delatores da Lava Jato: o
ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, o doleiro
Alberto Youssef e o empreiteiro e dono da UTC, Ricardo Pessoa.
Ao
citar os desvios de 3% dos contratos da Petrobrás para o esquema que
envolvia empreiteiras e políticos, Gilmar disse que "não é difícil
adivinhar que parte desses recursos pode ter vindo para a campanha. As
triangulações têm sido reveladas e isso precisa ser no mínimo
investigado", argumentou.
O ministro disse ainda que a Justiça
eleitoral "não pode ficar indiferente a esse tipo de exame ou
liminarmente indeferir um pedido de busca esclarecer. Não se trata de
cassar mandato aqui, mas de ver o que ocorreu", argumentou. O magistrado
pediu ainda que Ricardo Pessoa seja ouvido para esclarecer o caso.
"Imagine que se possa demonstrar a partir desse depoimento que esse
senhor Ricardo Pessoa, que os R$ 7 milhões que sua empresa doou foram
claramente fruto de propina?", disse.
Além disso, o ministro citou
a prisão de José Dirceu, na semana passada, dizendo que, ao fundamentar
a detenção dele, o juiz Sérgio Moro falou em "lavagem de dinheiro". Com
isso, Gilmar afirma que o argumento apresentado pelo PSDB, acompanhado
de "mínimo suporte probatório pode, sim, qualificar-se como abuso de
poder econômico, o que, a meu ver, justifica a necessária instrução do
feito, em busca da verdade dos fatos, respeitando as garantias do
contraditório e da ampla defesa", disse.
Já o ministro Luiz Fux
elogiou o voto de Gilmar Mendes e disse que talvez tivesse votado
diferente no ano passado, quando o Tribunal aprovou as contas de
campanha de Dilma, devido ao aparecimento de novos fatos envolvendo a
Lava Jato. "Se muitos de nós soubessem o que sabemos agora, nem teríamos
acompanhado o relator que aprovou as contas com ressalvas", disse.
O
caso foi proposto pela Coligação Muda Brasil, pela qual o senador Aécio
Neves (PSDB-MG) concorreu às eleições presidenciais no ano passado. O
partido argumenta na ação que houve abuso de poder político na campanha
de Dilma, com convocação de rede nacional de rádio e televisão,
manipulação na divulgação de indicadores sociais, uso indevido de
prédios e equipamentos públicos para atos próprios de campanha e
veiculação de propaganda institucional em período proibido. Além disso, o
PSDB aponta a existência de suposto abuso de poder econômico com
realização de gastos de campanha acima do valor limite, financiamento de
campanha com doações oficiais "contratadas pela Petrobrás como parte da
distribuição de propinas", entre outros.
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