Um grupo
empresarial que recebeu R$ 3,7 milhões da GFD, empresa usada para lavar
dinheiro do doleiro Alberto Youssef, repassou quase a mesma quantia para
a construtora OAS durante a finalização das obras de um prédio no
Guarujá onde o ex-presidente Lula tem apartamento. Entre 2009 e 2013, a
empresa de Youssef fez vários pagamentos para a Planner, uma corretora
de valores mobiliários. Em 2010, a Planner pagou à OAS R$ 3,2 milhões.
A
suspeita do Ministério Público Federal é que parte do dinheiro de
Youssef repassado à Planner possa ter sido usado para concluir a obra
iniciada pela Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), que foi
presidida pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Vaccari e Youssef
estão presos na Operação Lava-Jato.
O
repasse da GFD para a Planner aparece entre os primeiros documentos
analisados pela Polícia Federal depois da quebra de sigilo fiscal das
empresas de Youssef. Já a negociação financeira entre a OAS e a Planner
consta do processo que investiga irregularidades na Bancoop que tramita
na 5ª Vara Criminal de São Paulo, segundo documentos obtidos pelo GLOBO
em cartório de registro de imóveis do Guarujá.
A
OAS afirmou na terça-feira que a Planner foi usada apenas para a
emissão de debêntures (títulos da empresa). Carlos Arnaldo Borges de
Souza, sócio da Planner, afirmou que o dinheiro da GFD refere-se à
“compra e venda de ações”. Disse ainda que o repasse de R$ 3,2 milhões
para a OAS foi resultado da compra de debêntures emitidas pela
construtora, que deu o imóvel em hipoteca. Luiz Flávio Borges D’Urso,
advogado de Vaccari, não quis se manifestar por desconhecer a operação.
O
Edifício Solaris é emblemático. Lula é dono de um tríplex avaliado
entre R$ 1,5 milhão e R$ 1,8 milhão. Vaccari é dono de um apartamento
avaliado em R$ 750 mil no mesmo prédio. Além dos dois, também é dona de
imóvel no edifício Simone Godoy, mulher de Freud Godoy, que foi
segurança do ex-presidente Lula.
O
Instituto Lula voltou a negar nesta terça-feira que o ex-presidente
possua apartamento no Edifício Solaris. Afirmou que a família de Lula é
dona de uma cota no empreendimento, adquirida em nome de dona Marisa
Letícia Lula da Silva em 2005 e quitada em 2010. A família não teria
escolhido ainda se receberá de volta o dinheiro investido ou um dos
apartamentos.
A Planner usou
duas empresas do grupo. Enquanto a corretora recebeu de Youssef, a
Planner Trustee repassou recursos para a OAS. A construtora havia
assumido as obras do Edifício Solaris em 2010, depois que a Bancoop se
tornou insolvente. Logo em seguida, a Planner repassou os R$ 3,2 milhões
à OAS e recebeu o empreendimento como garantia da construtora.
O
Ministério Público de São Paulo, que denunciou Vaccari em 2013, vai
reabrir as investigações sobre o relacionamento da OAS com a Bancoop, e
as provas serão compartilhadas com os procuradores da Operação
Lava-Jato. Os promotores querem saber o que levou a OAS a assumir obras
de uma cooperativa habitacional insolvente.
Cerca
de 3 mil cooperados ficaram sem seus imóveis quando a cooperativa
quebrou. Além do Solaris, a empreiteira assumiu pelo menos oito
empreendimentos da Bancoop, num total de 2.195 unidades habitacionais.
A
Planner fez diversas operações financeiras com a Bancoop. Relatório do
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostra que o
Sindicato dos Empregados de Estabelecimentos Bancários de São Paulo, que
também foi presidido por Vaccari, repassou R$ 18,1 milhões para a
Bancoop e, no mesmo dia, a cooperativa transferiu o montante para a
Planner. Foi ainda a Planner que administrou o Fundo de Investimento em
Direitos Creditórios da Bancoop, criado em 2004, que recebeu R$ 26,2
milhões dos fundos de pensão de estatais Petrus (Petrobras), Funcef
(Caixa) e Previ (Banco do Brasil). A operação com os fundos deu prejuízo
de R$ 12 milhões à cooperativa.
A
Planner recebeu ainda pelo menos um depósito de uma das empresas de
fachada usadas para desviar dinheiro da Petrobras, a Empreiteira
Rigidez, no valor de R$ 59 mil.
O
promotor José Carlos Blat, do MP de São Paulo, já havia descoberto que o
dinheiro da Bancoop irrigou campanhas do PT. Para isso, o partido usou
empresas de fachada, que prestaram falsos serviços à cooperativa.
Vaccari é réu por estelionato, formação de quadrilha, falsidade
ideológica e lavagem de dinheiro. Em abril passado, ele foi preso na 12ª
etapa da Lava-Jato, e responde na Justiça Federal sob acusação de
receber propina do esquema de corrupção na Petrobras.
A
Lava-Jato ainda investiga porque a OAS teve prejuízo na compra de um
apartamento, no mesmo prédio, da cunhada de Vaccari, Marice Correia de
Lima. Ela tinha um apartamento declarado por R$ 200 mil e o vendeu à
construtora por R$ 432 mil. A OAS, no entanto, revendeu o imóvel por
menos: R$ 337 mil. Marice teria recebido, a mando do doleiro Youssef, R$
244 mil provenientes da OAS.
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