O ex-deputado Eduardo Cunha foi preso nesta quarta-feira em Brasília.
A informação foi confirmada pela Polícia Federal. A ordem de prisão
preventiva – ou seja, sem data prevista para soltura – foi expedida pelo
juiz federal Sergio Moro, que conduz os processos resultantes da Lava
Jato em Curitiba. Cunha foi preso perto da casa em que vive na capital
federal. Ainda segundo a PF, o ex-deputado já está a caminho do hangar
da corporação em Brasília para embarque rumo a Curitiba. A previsão de
chegada na capital paranaense é entre 17 e 18 horas.
A prisão
preventiva de Cunha leva em conta investigações que apontam que o
empresário Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira pagou propina ao
ex-deputado para ser beneficiado em um contrato de aquisição dos
direitos de participação na exploração de um campo de petróleo no Benin.
Ao todo, teria sido pago a Cunha 1,311 milhão de francos suíços, o
equivalente a 1,5 milhão de dólares. Na transação, o ex-diretor da Área
Internacional da Petrobras Jorge Zelada teria atuado como intermediário
no acerto dos valores.
O Ministério Público conseguiu mapear o
caminho do dinheiro movimentado na transação e a participação do lobista
ligado ao PMDB João Augusto Henriques, apontado como destinatário de
pelo menos 10 milhões de dólares em propina na transação. Nas
investigações, foram encontrados registros de que a offshore Acona
Internacional repassou 1,311 milhão de francos suíços para a conta Orion
SP, que pertence a Eduardo Cunha. A partir da Orion, novos repasses
foram feitos para contas ligadas ao política e à mulher dele, a
jornalista Cláudia Cruz, que também responde a processo na Lava Jato.
Moro atendeu a pedido do Ministério Público Federal. Em despacho
datado de ontem e tornado público nesta quarta-feira (confira abaixo), o
juiz autorizou que os agentes da PF entrassem na casa de Cunha “com as
cautelas devidas para evitar incidentes desnecessários”.
Ao pedir a
prisão de Cunha, o MP alegou que há risco de o ex-parlamentar
atrapalhar as investigações e também de fugir do país, já que ele tem
dupla nacionalidade, brasileira e italiana.
“Enquanto não houver
rastreamento completo do dinheiro e a total identificação de sua
localização atual, há um risco de dissipação do produto do crime, o que
inviabilizará a sua recuperação. Enquanto não afastado o risco de
dissipação do produto do crime, presente igualmente um risco maior de
fuga ao exterior, uma vez que o acusado poderia se valer de recursos
ilícitos ali mantidos para facilitar fuga e refúgio no exterior”, disse
Sergio Moro no despacho em que determinou a prisão do ex-presidente da
Câmara dos Deputados.
Para embasar a necessidade de prender o
ex-deputado, os procuradores citam diversas ações de Cunha, quando ele
ainda ocupava a presidência da Câmara, para atravancar as investigações,
como a convocação da advogada Beatriz Catta Pretta para depor à CPI e
as manobras no Conselho de Ética para enterrar o processo que pedia a
cassação do ex-deputado.
Afirmou Moro na decisão: “Os episódios
incluem encerramento indevido de sessões do Conselho de Ética, falta de
disponibilização de local para reunião do Conselho e até mesmo ameaça
sofrida pelo relator do processo”. Ainda segundo o juiz, a cassação não
suprimiu os riscos que ensejam a prisão, até porque o ex-deputado agiu
por intermédio de terceiros, “inclusive agentes que não são
parlamentares”.
Na quinta-feira passada, Moro ratificou a ação penal aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
contra o ex-deputado pelos crimes de corrupção passiva, evasão de
divisas e lavagem de dinheiro. Como Cunha teve o mandato cassado em
setembro e perdeu o foro privilegiado, caberá a Moro julgá-lo por
suposto recebimento de propina em contratos da Petrobras para exploração
de petróleo em um campo no Benin, na África, ocultada em contas na
Suíça.
O ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF,
havia encaminhado a Moro em setembro, poucos dias após a cassação de
Eduardo Cunha, as duas ações penais já abertas contra o ex-deputado no
Supremo. Sergio Moro seguiu o Ministério Público Federal do Paraná e não
aceitou a denúncia inicialmente oferecida pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, contra Cunha por crime eleitoral. Janot havia
acusado Cunha de omitir as contas no exterior de suas declarações de
bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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