São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central decidiu hoje cortar a Selic em 0,25 ponto percentual, de 14,25%
para 14%.
É o primeiro corte dos juros em mais de 4 anos. A taxa
teve várias altas consecutivas após as eleições de 2014 e estava
inalterada há mais de um ano no seu maior patamar em uma década.
Um
levantamento da Bloomberg com 55 economistas e instituições financeiras
contabilizava 33 que previam corte de 0,25 ponto percentual, 22 que
esperavam corte de meio ponto e 3 que apostavam em manutenção da taxa.
A
expectativa de corte partia da avaliação de que algumas pré-condições
estabelecidas pelo próprio BC para o início do afrouxamento monetário
estavam sendo cumpridas.
Uma delas era a queda da inflação de
alimentos, reforçada após a divulgação dos índices de setembro, que
vieram bem abaixo do esperado.
“A inflação recente mostrou-se mais
favorável que o esperado, em parte em decorrência da reversão da alta
de preços de alimentos”, diz o comunicado de hoje.
A outra era o
avanço da agenda de reformas fiscais, que teve um passo significativo
com a aprovação em primeiro turno da emenda constitucional que
estabelece um teto para os gastos públicos corrigido pela inflação.
“Os
primeiros passos no processo de ajustes necessários na economia foram
positivos, o que pode sinalizar aprovação e implementação mais céleres
que o antecipado”, diz o comunicado, ressaltando que o caminho “é longo e
envolve incertezas”.
Os dados de atividade econômica e mercado de
trabalho também vem decepcionando, o que permite ao BC descartar novas
fontes de pressão sobre os preços.
A queda do preço da gasolina e a força do real também contavam a favor do corte.
Quando
o Copom aumenta os juros, encarece o crédito e estimula a poupança, o
que faz com que a demanda seja contida e faça menos pressão sobre a
atividade e os preços. Cortar os juros causa o efeito contrário.
A decisão foi por unanimidade e sem viés e a ata será divulgada na próxima terça-feira, 25 de outubro.
O
último Boletim Focus aponta uma expectativa média do mercado de que a
Selic termine 2016 em 13,5% e 2017 em 11%. A próxima reunião, a última
do ano, está marcada para os dias 29 e 30 de novembro.
Veja a íntegra do comunicado:
“O Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 14,00% a.a., sem viés.
O cenário básico do Copom pode ser resumido pelas seguintes observações:
O
conjunto dos indicadores divulgados desde a última reunião do Copom
sugere atividade econômica um pouco abaixo do esperado no curto prazo,
provavelmente em virtude de oscilações que normalmente ocorrem no atual
estágio do ciclo econômico. A evidência disponível é compatível com
estabilização recente da economia brasileira e possível retomada gradual
da atividade econômica. A economia segue operando com alto nível de
ociosidade;
No âmbito externo, o cenário ainda apresenta
interregno benigno para economias emergentes. No entanto, as incertezas
sobre o crescimento da economia global e, especialmente, sobre a
normalização das condições monetárias nos EUA persistem;
A inflação recente mostrou-se mais favorável que o esperado, em parte em decorrência da reversão da alta de preços de alimentos;
As
expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus para 2017
recuaram para em torno de 5,0% desde o último Copom e do Relatório de
Inflação (RI) do terceiro trimestre, e seguem acima da meta para a
inflação, de 4,5%. As expectativas para 2018 e horizontes mais distantes
já se encontram em torno desse patamar; e
As projeções
do Copom para a inflação de 2016 nos cenários de referência e mercado
recuaram desde a divulgação do último RI e encontram-se em torno de
7,0%. No horizonte relevante para a condução da política monetária, o
comportamento das projeções em relação ao RI mais recente variou
conforme o cenário. No cenário de referência, a projeção para 2017
recuou para aproximadamente 4,3%, enquanto que a projeção para 2018
encontra-se em torno de 3,9%. No cenário de mercado, a projeção para
2017 manteve-se praticamente inalterada em torno de 4,9% e a projeção
para 2018 aumentou para aproximadamente 4,7% – ambas acima da meta para a
inflação para esses dois anos-calendário, de 4,5%.
O Comitê identifica os seguintes riscos domésticos para o cenário básico para a inflação:
Por
um lado, (i) o processo de aprovação e implementação dos ajustes
necessários na economia é longo e envolve incertezas; (ii) o período
prolongado com inflação alta e com expectativas acima da meta ainda pode
reforçar mecanismos inerciais e retardar o processo de desinflação;
(iii) há sinais de pausa recente no processo de desinflação dos
componentes do IPCA mais sensíveis ao ciclo econômico e à política
monetária, o que pode sinalizar convergência mais lenta da inflação à
meta; e
Por outro lado, (iv) a inflação mostrou-se mais
favorável no curto prazo, o que pode sinalizar menor persistência no
processo inflacionário; (v) o nível de ociosidade na economia pode
produzir desinflação mais rápida do que a refletida nas projeções do
Copom; (vi) os primeiros passos no processo de ajustes necessários na
economia foram positivos, o que pode sinalizar aprovação e implementação
mais céleres que o antecipado.
Considerando o cenário
básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações
disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa
básica de juros para 14,00% a.a., sem viés. O Comitê entende que a
convergência da inflação para a meta para 2017 e 2018 é compatível com
uma flexibilização moderada e gradual das condições monetárias. O Comitê
avaliará o ritmo e a magnitude da flexibilização monetária ao longo do
tempo, de modo a garantir a convergência da inflação para a meta de
4,5%.
A magnitude da flexibilização monetária e uma
possível intensificação do seu ritmo dependerão de evolução favorável de
fatores que permitam maior confiança no alcance das metas para a
inflação no horizonte relevante para a condução da política monetária,
que inclui os anos-calendário de 2017 e 2018. O Comitê destaca os
seguintes fatores domésticos: (i) que os componentes do IPCA mais
sensíveis à política monetária e à atividade econômica retomem
claramente uma trajetória de desinflação em velocidade adequada; e (ii)
que o ritmo de aprovação e implementação dos ajustes necessários na
economia contribuam para uma dinâmica inflacionária compatível com a
convergência da inflação para a meta. O Comitê avaliará a evolução da
combinação desses fatores.
Votaram por essa decisão os
seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Anthero de
Moraes Meirelles, Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes
Ferreira, Luiz Edson Feltrim, Otávio Ribeiro Damaso, Reinaldo Le Grazie,
Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel.”
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