As provas que levaram à deflagração da 35ª fase da Operação Lava Jato
e levaram o ex-ministro Antonio Palocci à prisão por suas relações com a
Odebrecht reforçam o talento dos executivos da empreiteira em criar
apelidos e codinomes aos destinatários de propina em contratos públicos.
Se na 26ª fase da operação, batizada de Xepa, uma planilha já atribuía
apelidos como Caranguejo (Eduardo Cunha), Proximus (Sergio Cabral),
Nervosinho (Eduardo Paes) e Atleta (Renan Calheiros) a políticos,
e-mails trocados entre Marcelo Odebrecht e os subordinados Benedicto
Barbosa Júnior, Isaias Ubiraci Santos e Hilberto Mascarenhas, que agora
vêm à tona, mostram outros nomes curiosos.
As alcunhas Casa de
Doido, Shark, Rasputin, Bolinha, Pavão, Gordo/Magro, Ganso, Barba Negra,
Barba Verde, Sasquar, Beija Flor, Dunga, Voador, Cassino e Dat By Day
são vinculadas a obras no estado do Rio de Janeiro, como Maracanã, o
complexo penitenciário de Japeri, a estação General Osório do metrô, em
Ipanema, o aeroporto Santos Dumont e “Programa Social RJ”. Proximus, ou
Cabral, também é citado como “vascaíno”. O ex-governador é ligado à
“liquidação” de um milhão de reais a ser feita por meio do emissário
“orelha” mediante a senha “tomate” em um shopping da Zona Sul carioca.
Santista,
Corintiano, Vizinho, Estrela, Brasileiro, Ibirapuera, Campinas, Casa de
Doido-SP e Cambada em SP são os nomes usados pelos executivos para
detalhar, geralmente por meio de tabelas com valores discriminados, como
se daria a divisão de valores relacionados a contratos com a Empresa
Metropolitana de Transporte Urbano (EMTU) e as linhas 2 e 4 do metrô,
ambas em São Paulo. À época em que os e-mails foram trocados, entre 2004
e 2006, o prefeito da capital paulista era o hoje ministro José Serra
(PSDB) e o governador do estado, assim como atualmente, Geraldo Alckmin
(PSDB).
Os
nomes Betão, Zambão, Legislador e Operador aparecem ligados a valores
na obra do Porto de Rio Grande (RS), enquanto no Porto de Laguna (SC) os
beneficiados são Alemão, Figueirense e Lagoa.
Outros apelidos não
são vinculados a obras específicas. É o que ocorre nos casos de
Emília, ligada a sete milhões de reais divididos em 17 saques entre
março de 2006 e janeiro de 2007, além de Turista, Lampadinha, Inimigo,
Guerrilheiro, Serrote, Kibe, Velhinhos 1 e Velhinhos 2.
Apesar do
esforço em esconder os nomes de políticos e funcionários públicos com os
quais se relacionava, um dos e-mails da equipe capitaneada por Marcelo
Odebrecht cita Rui Falcão como beneficiário de quatro parcelas mensais
de 50.000 reais, dos quais 10.000 reais viriam do cofre da Odebrecht, a
título de “apoio no processo de invest.” na linha 4 do metrô. Os nomes
dos ex-vereadores paulistanos Ricardo Montoro (PSDB) e Tião Farias
(PSDB) são citados ao lado dos valores 6.000 e 3.000, respectivamente,
por “pedido RJS”.
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