O ministro Teori Zavascki,
relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF),
determinou o sequestro dos bens do senador Benedito de Lira (PP-AL) e do
presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara,
Arthur Lira (PP-AL), no valor total de R$ 4,2 milhões. A decisão teve
como ponto de partida um pedido do grupo de trabalho da Polícia Federal
responsável pelas investigações sobre políticos suspeitos de
envolvimento com fraudes em contratos entre empreiteiras com a
Petrobras.
Zavascki
determinou o sequestro de bens no valor de R$ 2,6 milhões de Arthur Lira
e de R$ 1,6 de Benedito Lira. Pelas investigações da Polícia Federal,
as cifras corresponderiam aos valores que os dois receberam do dono da
UTC e Constran, Ricardo Pessoa, um dos principais delatores da
Lava-Jato. O dinheiro teria como origem desvios na Petrobras. Os dois já
foram alvo de denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot em novembro.
As acusações contra o senador e o deputado estão estão amparadas também
em depoimentos dos delatores Paulo Roberto Costa, ex-diretor de
Abastecimento da Petrobras e do doleiro Alberto Youssef.
Segundo
relatório das investigações, Pessoa, Paulo Roberto e Youssef sustentam
que Arthur e Benedito Lira "se beneficiaram com o recebimento de
quantias periódicas indevidas, oriundas do pagamento de propinas por
empresas que tinham contratos com a Petrobras, em razão do controle pelo
Partida Progressista (PP) da Diretoria de Abastecimento, ocupada por
Paulo Roberto Costa, tudo em troca de votar a favor de projetos de
interesse do governa federal".
Num
dos depoimentos mais comprometedores contra os dois parlamentares,
Ricardo Pessoa disse que Arthur Lira exigiu R$ 1 milhão, caso o
empresário quisesse manter contratos com a Petrobras. Pessoa relata que o
encontro ocorreu no escritório dele, na avenida Alfredo de Souza
Aranha, número 384, sala 911, em São Paulo, antes das eleições de 2010.
Segundo Pessoa, Lira disse que era o novo líder do PP e qualquer assunto
relacionado à Petrobras deveria ser tratado com ele. O deputado teria
exigido a propina de forma incisiva.
"Arthur
Lira pediu R$ 1 milhão ao declarante de forma bastante contundente; Que
questionado sobre por que disse contundente, respondeu que foi cobrado
de maneira bastante incisiva e assertiva, como uma demonstração de que
Arthur Lira sabia que tinha créditos a serem cobrados do declarante,
provenientes de contratos firmados com a Petrobras e direcionados ao
Partido Progressista; Que Arthur Lira deixou bastante claro que a
continuidade dos pagamentos era uma condição para que as portas da
Petrobras permanecessem abertas", disse Pessoa, segundo relato da PF.
Na
conversa, o presidente da CCJ teria tentado demonstrar que era o PP,
partido dele, quem mandava na Petrobras. O PP controlava a diretoria de
Abastecimento por meio do ex-diretor Paulo Roberto Costa. Em depoimento à
PF em 25 de maio, Arthur Lira deu respostas evasivas sobre as relações
que mantém com Ricardo Pessoa. Segundo a PF, o deputado disse apenas
que, num encontro com João Santana, um dos sócios de Pessoa, soube que o
empresário também era dono da Constran e não apenas da UTC.
A
partir da delação premiada, Pessoa disse também que Benedito de Lira
pediu a ele dinheiro para pagar dívida com um agiota. Na transação,
ficou acertado que o dono da UTC daria R$ 400 mil ao senador. Mais
tarde, o dinheiro seria abatido da propina que Pessoa repassaria a
Youssef para manter contratos com a Petrobras.
"Nesta
conversa Benedito de Lira disse que precisava de dinheiro para pagar
dívidas de agiotagem e para a sua campanha como senador; Que Benedito de
Lira mencionou ao declarante que tinha uma divida e estava sendo
cobrado por um agiota de Pernambuco ", afirmou Pessoa. Youssef teria
dito, então, a Pessoa : "você pode descontar de mim". Para o empresário,
a declaração "significou que Youssef permitiu que fosse descontado do
caixa referente à Petrobras os valores pagos a Benedito de Lira".
O
advogado Pierpaolo Bottini, responsável pela defesa do deputado e do
senador, disse que iria buscar mais informações sobre a decisão de
Zavascki e, só então, se manifestaria sobre o assunto. Ele disse, no
entanto, que a medida pareceu um exagero tendo em vista que a denúncia
contra os dois parlamentares foi apresentada ao STF em novembro e, desde
então, não surgiram fatos novos no caso.
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