CURITIBA — O marqueteiro João
Santana admitiu, em depoimento prestado na manhã desta quinta-feira à
Polícia Federal (PF), ter recebido recursos da Odebrecht e de Zwi
Skornicki em conta não declarada no exterior. Ele seguiu a mesma linha
do depoimento de sua mulher, Mônica Moura Santana, que também confirmou
os pagamentos. A força-tarefa da Lava-Jato investiga se os depósitos
feitos saíram do contrato da Petrobras para a plataforma P-52 ou de
sondas fornecidas pela Sete Brasil. Também nesta quinta-feira, o juiz
Sérgio Moro renovou a prisão temporária do marqueteiro e da mulher dele,
que estão presos na carceragem da PF em Curitiba onde devem permanecer
até o final da semana que vem.
—
Ele abriu esta conta em 1998 para receber recursos de uma campanha
realizada na Argentina. Foi a forma que ele tinha de receber. Na época,
achava que não tinha problema (deixar de declarar no Brasil), porque
eram recursos recebidos em outro país — disse o advogado Fábio Tofic,
que atribuiu os pagamentos a dívidas referentes a serviços prestados
fora do Brasil, em países como Panamá e Angola.
Segundo
ele, os US$ 4,5 milhões depositados por Zwi Skornicki, operador de
propinas para o estaleiro Keppel, são referentes a uma “doação ao
partido angolano”, realizada por meio de Skornick.
—
Era uma dívida antiga. Nessa área de marketing eleitoral, você demora
para receber recursos. Ela (Mônica) disse que tinha este valor a
receber, que cobrava insistentemente, e que foi informada de que deveria
buscar este rapaz (Zwi Skornicki).
O
depoimento durou cerca de três horas, menos do que o da mulher de
Santana, na tarde de quarta-feira, que durou quatro horas. Uma das
estratégias de defesa do marqueteiro será tentar se desvincular de
questões financeiras de serviços prestados por suas empresas, sob o
argumento de que cuidava apenas do trabalho de criar campanhas.
Nesta
quinta, Toffic confirmou a estratégia, ao dizer que Santana não tomava
conhecimento dos problemas relacionados a pagamento por serviços
prestados.
— O João não sabia
disso, ele é um criador, não trabalha com questão financeira e
bancária. Tinha pouco conhecimento de como eram feitos pagamentos –
afirmou.
O defensor disse que
o marqueteiro chegou a classificar a conta da empresa Shellbil, usada
para receber os US$ 7,5 milhões, como um “tormento”.
—
Quem recebe recursos e dinheiro de trabalho honesto, quer receber de
forma transparente e regular. Infelizmente, esse é um vício que ainda
permanece em alguns países, no Brasil, não – afirmou o advogado, que
disse não caber ao marqueteiro “realizar ampla investigação" sobre a
origem do dinheiro usado para pagar seu trabalho.
O
advogado informou que Santana e Mônica pretendem regularizar junto à
Receita problemas detectados na movimentação financeira de empresas em
seu nome. Ele promete regularizar a situação da offshore Shellbil,
sediada no Panamá e usada por Santana para receber os recursos
investigados.
FORÇA-TAREFA SUSPEITA QUE DINHEIRO SEJA PROPINA AO PT
A
força-tarefa da Lava-Jato investiga se os depósitos feitos pelo
operador Zwi Skornicki na conta do publicitário na Suíça saíram do
contrato da Petrobras para a plataforma P-52 ou de sondas fornecidas
pela Sete Brasil, empresa que tinha a estatal como sócia. O operador
depositou US$ 4,5 milhões ao marqueteiro do PT. Para os investigadores, a
ordem para depositar ao marqueteiro pode ter saído do ex-tesoureiro do
PT João Vaccari Neto, que administrava a propina destinada ao partido.
Segundo
o delator Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, Zwi Skornicki
comentava que conversava diretamente com Vaccari. Em depoimento prestado
no mês passado, Barusco afirmou que Skornicki e o ex-diretor da
Petrobras Renato Duque comentaram que o operador "havia pago cerca de
US$ 4,5 milhões adiantados para Vaccari". O valor exato da propina era
US$ 4,523 milhões, próximo ao depositado ao marqueteiro do PT. O delator
lembrou que a Sete Brasil foi criada na gestão de Duque à frente da
diretoria de Serviços da Petrobras e que o PT "tinha interesse em
receber nos contratos gerados pela Sete Brasil", tendo sido combinado
com João Vaccari Neto que o partido ficaria com dois terços do valor das
comissões.
Além de Santana,
também presta depoimento nesta quinta o preso Vinícius Borin. Ele é o
representante no Brasil do Antigua Overseas Bank, instituição financeira
de Antigua e Barbuda onde duas offshores ligadas a Odebrecht – a
Klienfeld e a Innovation Research - mantinham recursos que foram usados
para pagar propina, de acordo com a PF.
Ainda
está previsto para a tarde desta quinta-feira o depoimento de Maria
Lúcia Tavares, funcionária da Odebrecht responsável por editar um
planilha localizada pela PF na empresa com menções a pagamentos para
"Feira" (João Santana), "JD" (José Dirceu) e "Prédio (IL)" (possível
menção a edifício que Lula pretendia construir com apoio de
empreiteiras, segundo a PF).
O casal foi preso na terça-feira, durante a 23ª fase da Operação
Lava-Jato. Santana e a mulher estavam na República Dominicana e foram
presos por policiais federais assim que desembarcaram no Aeroporto de
Internacional de São Paulo, em Guarulhos. No mesmo dia, foram
transferidos para a carceragem da PF, em Curitiba. A prisão dos dois é
temporária e vence no sábado.
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