O Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP) derrubou nesta terça-feira (23) uma decisão
liminar (provisória) proferida na semana passada pelo conselheiro Valter
Shuenquener que suspendeu uma investigação sobre o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva por suposta ocultação de patrimônio, relativa a um
apartamento triplex no Guarujá (SP), informou o "G1".
Além de
autorizar a retomada das apurações, a decisão também manteve à frente do
caso o promotor Cássio Conserino, que anunciou, em entrevista à revista
"Veja", que já tinha elementos para denunciar o petista, a quem atribui
a verdadeira posse do imóvel.
O apartamento também é objeto de
investigação da Operação Lava Jato, por suspeitas de que a empreiteira
OAS ‑ que já teve dirigentes condenados por corrupção na Petrobras ‑
teria bancado reformas como favor ao ex-presidente. A defesa de Lula
nega que ele seja o dono e que teve apenas a opção de compra pela
cooperativa de bancários Bancoop, desistindo do negócio em 2014.
Na
sessão desta terça, o CNMP analisou pedido do deputado Paulo Teixeira
(PT-SP) para encaminhar a investigação para outro promotor, alegando que
o caso foi remetido para Conserino de maneira “encomendada”. O pedido
levou à suspensão de um depoimento que Lula e a ex-primeira-dama Marisa
Letícia prestariam na última quarta (17) sobre o caso.
Relator do
pedido no CNMP, o conselheiro Valter Shuenquener considerou irregular a
forma como a apuração sobre Lula foi iniciada por Conserino, por
contrariar o princípio do “promotor natural”, norma que obriga novas
investigações a serem iniciadas por “livre distribuição”.
Ao
final, porém, o relator votou para que o caso de Lula fosse mantido com
Conserino para não haver anulação dos atos já adotados na apuração, em
favor da “segurança jurídica”. Seu voto foi acolhido na íntegra por
unanimidade entre os membros do CNMP. O pedido para mudança de promotor
aponta que a apuração foi iniciada em agosto do ano passado a partir de
uma representação apresentada por três advogados diretamente a
Conserino.
Por isso, Shuenquener recomendou que todas as futuras
investigações sejam alteradas, para evitar arbitrariedades. “O princípio
do promotor natural pressupõe que todo cidadão tenha direito de ser
investigado e acusado por órgão independente, escolhido conforme prévios
critérios abstratos e não casuisticamente”, afirmou. Shuenquener,
porém, votou para que o Ministério Público de São Paulo superviosionasse
a investigação, para apurar se houve "excesso" de Conserino em sua
entrevista à revista "Veja" e outras manifestações para a imprensa.
Segundo
o "G1", o relator do caso no CNMP, Valter Shuenquener foi o primeiro a
se manifestar sobre o caso, em voto de uma hora e meia. Antes dele, a
Confederação Nacional do Ministério Público (Conamp) e a Associação
Paulista do Ministério Público (ANMP) se manifestaram pela manutenção de
Conserino no caso.
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