Na
semana passada, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(FIESP) também tornou público seu apoio ao impeachment, depois de uma
pesquisa com mais de 1.000 empresários e executivos associados à
entidade. Mais de 90% apoiaram a ideia da FIESP anunciar seu
posicionamento contrário à permanência de Dilma na presidência. A falta
de credibilidade e confiança do Governo, segundo Paulo Skaf, presidente
da federação, está inibindo investimentos. “O país está à deriva, e não
há atitudes para solucionar os problemas”, disse Skaf, que calcula que a
indústria paulista vai encolher 20% até o final do ano que vem.
No dia em que anunciaria sua demissão do Governo Dilma,
no entanto, o agora ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que
um impeachment pode retardar a recuperação econômica, segundo descreveu o
jornal Folha de S.Paulo. Levy lembrou que a FIESP também
apoiou medidas durante o primeiro Governo Dilma, que agora estão
cobrando seu preço. De fato, o setor industrial foi um dos que mais se
beneficiou das isenções de impostos promovidas desde 2009, primeiro com
Lula e estendidas durante o Governo Dilma.
Se a necessidade de
acertar um norte para sair buraco negro econômico é consenso entre os
entrevistados ouvidos pelo EL PAÍS, a saída da presidenta como
alternativa não é unânime.
“O que está em jogo não é se é
importante ter ou não impeachment, mas aprovar medidas de ajuste fiscal
para que a economia seja retomada”, diz Vagner Alves, economista da
Franklin Templeton. Alves não vê grandes diferenças numa gestão de Dilma
ou do vice-presidente, Michel Temer, seu sucessor natural num eventual
impedimento. “O importante é tirar as dúvidas sobre o assunto e depois
recompor a base para aprovar o mínimo necessário no Congresso.”
Em
relatório a seus clientes, a consultoria Eurasia Group destacou na
semana que passou que há um otimismo exagerado no mercado com um
eventual Governo Temer. Mas a ação da Polícia Federal, de busca e
apreensão de documentos em endereços de aliados de Eduardo Cunha, Renan
Calheiros e do próprio Michel Temer, “é uma indicação que a Lava Jato
vai complicar os próximos meses da presidência, seja Rousseff ou Temer”
no Palácio do Planalto.
O economista Delfim Netto também se diz contra o impeachment,
muito embora julgue o projeto preparado pelo PMDB para um eventual
governo de Temer melhor que o atual modelo adotado pelo Governo Dilma.
Para ele, no entanto, “um mau Governo não é razão para ser substituído
antes da eleição”, sob risco de fragilizar as instituições no longo
prazo.
A saída do labirinto político se faz urgente para que o
Brasil fuja de um quadro que só foi visto no Brasil no biênio 1929/1930,
quando houve a quebra da bolsa americana com a crise do café. Por ora, a
perda está tendo uma evolução semelhante ao do período Collor, entre
1990 e 1993, ou o triênio de 1981 a 1983, mas que foram entremeados por
algumas altas, explica Armando Castellar, coordenador de Economia
Aplicada do IBRE/FGV e professor do Instituto de Economia da UFRJ.
“Realmente, com dois anos seguidos de queda você teria de volta uma
crise nos moldes dos anos 1929/ 1930”, observa Castellar.
Embora
seja difícil comparar uma época em que o Brasil era uma sociedade rural
com os dias atuais, a paralisia do país já não deixa dúvidas de que é
preciso estancar a crise política para tirar a economia da UTI. “Esta é
uma crise mais fácil de manejar no sentido de que você depende de uma
resposta política. Quando houver uma sinalização clara, uma dinâmica
mais favorável, a confiança vai voltar e as empresas vão voltar a
investir, os consumidores a consumir, bancos dando crédito”, completa o
professor da UFRJ. O Governo coloca suas fichas em Nelson Barbosa,
que à frente da Fazenda faria um ajuste fiscal como pede o mercado, mas
não tão radical, o que atenderia a um desejo dos movimentos de esquerda
que apoiam a presidenta. A eficácia desta versão light de Levy será testada na volta do recesso do Congresso, em fevereiro.
Por
ora, o que impera é o medo que anula a vontade de ousar, observa o
empresário Alberto Hiar, dono da marca de roupas Cavalera. “Você tem
medo de fazer novos projetos, e não tem crédito. O banco não libera
dinheiro porque tem receio de não ser pago. A taxa de juro está alta e
você não quer pegar pois teme que não vai conseguir. Sem vendas, você
vai reduzindo custos”, comenta Hiar, que está devolvendo três das quase
40 lojas da rede, e demitiu cerca de 15% do seu pessoal. O empresário
não é um entusiasta do impeachment do modo que está sendo conduzido
atualmente, com uso de prerrogativas que abriram margem para a anulação
da sessão conduzida na Câmara pelo presidente Eduardo Cunha. Mas pelos
trâmites normais, “se comprovado que ela desrespeitou a lei de
responsabilidade fiscal, sou a favor”, afirma. Para ele, é necessário
que algo aconteça para tirar o país da paralisia.
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