Por Fausto Macedo, Julia Affonso, Talita Fernandes, Beatriz Bulla e Ricardo Brito
No
momento mais tenso – e aguardado – da sabatina do procurador-geral da
República, que busca sua recondução ao cargo, Rodrigo Janot disse ao
senador Fernando Collor (PTB/AL) e a seus pares: “Não há futuro viável
se condescendermos agora com a corrupção. Não há País possível sem
respeito à lei. O que tem sido chamado de espetacularização da Lava Jato
nada mais é do que aplicação de princípio constitucional fundamental
numa República. Todos são responsáveis perante a lei. Pau que dá em
Chico, dá em Francisco.”
Sentado na primeira fila e olhando
desafiadoramente para Janot, Collor procurou fustigar seu algoz – Janot é
autor de denúncia formal perante o Supremo Tribunal Federal (STF)
contra Collor, a quem acusa de ter recebido R$ 26 milhões em propinas de
suposto esquema de corrupção na BR Distribuidora.
O senador
acusou Janot de, entre 2009 e 2010, ter advogado em favor da empresa
Orteng Equipamentos de Sistemas Ltda contra uma empresa de capital
estatal, ‘mais especificamente capital da Petrobrás’. “O
procurador-geral omite em seu currículo período em que acumulou o
exercício de subprocurador-geral (e a advocacia).”
Janot
esclareceu que a Constituição autorizou o exercício da advocacia a
membros do Ministério Público que já estivessem na instituição em 1988.
“Quero dizer que a minha atuação profissional é, foi e será firme no
combate à corrupção.O processo da Orteng era Orteng e mais 6 pessoas
físicas que discutiam questão de direito minoritário com a empresa
Trikem.”
Nesse instante, Collor interrompeu o chefe do Ministério
Público Federal. Janot se revoltou. “Vossa Excelência não me interrompa
aqui”, disse o procurador, irritado. E prosseguiu. “Posso lhe
esclarecer? Essa questão começa nos idos de 1997 contra a empresa que
foi adquirida pela Trikem que, ao final do processo, quando já julgado,
foi adquirida pela Braskem que entra no processo por sucessão em ação
rescisória.”
Segundo Janot, a ação durou mais de 14 anos. “A Braskem assume esse processo depois de sentença transitada em julgado.”
A Braskem é citada na Operação Lava Jato.
O
procurador-geral negou que tenha vazado nomes da lista de políticos que
entregou ao Supremo Tribunal Federal, em março, com pedido de
investigação no âmbito da Lava Jato. “Nego que sou vazador contumaz.
Tenho atuação discreta. Não tenho atuação midiática.”
Collor
acusou o procurador de ‘homiziar’ contraventores em condomínio de Angra
dos Reis, Rio, em 1995, procurados pela Interpol, a Polícia
Internacional. Janot explicou que não atuou no processo contra o
‘contraventor’, que era seu irmão, morto há cinco anos. “Não
participarei dessa exumação pública de um homem que nem sequer pode se
defender”, reagiu Janot.
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