Depois de os investigadores
terem conseguido desbaratar o Clube do Bilhão, cartel de empreiteiras
que fraudava obras e contratos na Petrobras, a Polícia Federal deflagrou
nesta terça-feira a 33ª fase da Operação Lava Jato. Batizada de Resta
Um, a nova fase mira a atuação da construtora Queiroz Galvão e tem como
alvos os executivos Idelfonso Collares e Othon Zanoide Filho. No total
foram expedidos 23 mandados de busca, 2 de prisão preventiva, 1 de
prisão temporária e 6 de condução coercitiva.
A Resta Um reúne
informações de corrupção e fraude nas obras do Complexo Petroquímico do
Rio de Janeiro, na Refinaria Abreu e Lima e em diversas refinarias, como
a do Vale do Paraíba, Landulpho Alves e na de Duque de Caxias. De
acordo com a PF, a Queiroz Galvão tem o terceiro maior volume de
contratos investigados no escândalo do petrolão.
Delatores e
documentos recolhidos em fases anteriores das investigações apontaram
que a empreiteira pagava propina às diretorias de Serviços e de
Abastecimento, comandadas à época por Renato Duque e Paulo Roberto
Costa. Os repasses de dinheiro sujo se aproximam dos 10 milhões de
reais. Na transação para liberar dinheiro e subornar funcionários da
Petrobras, a Queiroz Galvão e o consórcio repassaram milhões de dólares
em propina para contas secretas no exterior. Os investigadores contam
com depoimentos e comprovantes de repasses milionários feitos pelo trust
Quadris, vinculado ao Quip.
De acordo com depoimento de delação
premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, as
empresas Queiroz Galvão, IESA e Camargo Corrêa e a própria UTC, que
integravam o consórcio Quip, aceitaram pagar, 2,4 milhões de reais em
caixa dois para a campanha à reeleição do então presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, em 2006. O dinheiro foi providenciado por meio da empresa
Quadris e veio de depósitos armazenados fora do país e vinculados a
obras da plataforma P53.
O delator disse que o pedido de caixa
dois em benefício de Lula partiu do ex-tesoureiro do PT José de Fillipi
Junior. Na época, a Queiroz Galvão era líder do consórcio Quip e a
decisão de realmente pagar a Lula foi discutida em uma reunião em que
estava presente, por exemplo, o executivo Ildefonso Colares, alvo hoje
da 33ª fase da Lava Jato.
Na fase batizada de Resta Um ainda há
evidências de como a Queiroz Galvão atuou para atrapalhar as
investigações da CPI da Petrobras instalada no Senado. Em junho, o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) denúncia contra o deputado federal Dudu da Fonte
(PP-PE) por indícios de que ele intermediou pedido de propina para
barrar em 2009 as investigações da CPI da Petrobras. Segundo o
Ministério Público, Dudu cometeu o crime de corrupção passiva porque
atuou junto ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto
Costa para pedir 10 milhões de reais a fim de que o então presidente
nacional do PSDB, Sérgio Guerra, atuasse para que a comissão de
inquérito não produzisse resultado efetivo.
Para viabilizar o
dinheiro, Dudu, Sérgio Guerra e Paulo Roberto Costa se reuniram pelo
menos quatro vezes no Rio de Janeiro, no segundo semestre de 2009, para
acertar detalhes do pagamento. Uma das reuniões foi gravada em áudio e
vídeo e entregue ao Ministério Público. Acerto feito, Paulo Roberto
recolheu 10 milhões de reais do então deputado José Janene, controlador
do caixa da propina do PP. Segundo as investigações, os valores acabaram
sendo facilmente providenciados pelas empreiteiras Queiroz Galvão e
Galvão Engenharia.
Informações sobre distribuição de propina para
influenciar o andamento de trabalhos de comissões de inquérito já haviam
sido escancaradas quando a Polícia Federal prendeu o ex-senador Gim
Argello, na 28ª fase da Lava Jato. Naquele caso, o executivo José
Antunes Sobrinho, um dos sócios do grupo Engevix, por exemplo, prestou
depoimento e disse diante de Sergio Moro ter sido procurado por Léo
Pinheiro, da OAS, que teria lhe feito um convite para integrar o grupo
de empreiteiras que atenderiam aos pedidos de Argello por doações
eleitorais no ano de 2014. De acordo com Antunes Sobrinho, o
ex-presidente da OAS citou, além da própria empresa, Toyo Setal, Camargo
Correa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e “uma das Galvão, ou Queiroz
Galvão, ou Galvão Engenharia” como membros do grupo. Cada uma
contribuiria com 5 milhões de reais ao ex-senador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário