terça-feira, 2 de agosto de 2016

Construtora Queiroz Galvão é alvo da 33ª fase da Lava Jato



Polícia Federal deflagra Operação Boca Livre, em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. 
  © Foto: Vagner Rosário/VEJA Polícia Federal deflagra Operação Boca Livre, em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. 
 
Depois de os investigadores terem conseguido desbaratar o Clube do Bilhão, cartel de empreiteiras que fraudava obras e contratos na Petrobras, a Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira a 33ª fase da Operação Lava Jato. Batizada de Resta Um, a nova fase mira a atuação da construtora Queiroz Galvão e tem como alvos os executivos Idelfonso Collares e Othon Zanoide Filho. No total foram expedidos 23 mandados de busca, 2 de prisão preventiva, 1 de prisão temporária e 6 de condução coercitiva.

A Resta Um reúne informações de corrupção e fraude nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, na Refinaria Abreu e Lima e em diversas refinarias, como a do Vale do Paraíba, Landulpho Alves e na de Duque de Caxias. De acordo com a PF, a Queiroz Galvão tem o terceiro maior volume de contratos investigados no escândalo do petrolão.

Delatores e documentos recolhidos em fases anteriores das investigações apontaram que a empreiteira pagava propina às diretorias de Serviços e de Abastecimento, comandadas à época por Renato Duque e Paulo Roberto Costa. Os repasses de dinheiro sujo se aproximam dos 10 milhões de reais. Na transação para liberar dinheiro e subornar funcionários da Petrobras, a Queiroz Galvão e o consórcio repassaram milhões de dólares em propina para contas secretas no exterior. Os investigadores contam com depoimentos e comprovantes de repasses milionários feitos pelo trust Quadris, vinculado ao Quip.

De acordo com depoimento de delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, as empresas Queiroz Galvão, IESA e Camargo Corrêa e a própria UTC, que integravam o consórcio Quip, aceitaram pagar, 2,4 milhões de reais em caixa dois para a campanha à reeleição do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. O dinheiro foi providenciado por meio da empresa Quadris e veio de depósitos armazenados fora do país e vinculados a obras da plataforma P53.

O delator disse que o pedido de caixa dois em benefício de Lula partiu do ex-tesoureiro do PT José de Fillipi Junior. Na época, a Queiroz Galvão era líder do consórcio Quip e a decisão de realmente pagar a Lula foi discutida em uma reunião em que estava presente, por exemplo, o executivo Ildefonso Colares, alvo hoje da 33ª fase da Lava Jato.

Na fase batizada de Resta Um ainda há evidências de como a Queiroz Galvão atuou para atrapalhar as investigações da CPI da Petrobras instalada no Senado. Em junho, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra o deputado federal Dudu da Fonte (PP-PE) por indícios de que ele intermediou pedido de propina para barrar em 2009 as investigações da CPI da Petrobras. Segundo o Ministério Público, Dudu cometeu o crime de corrupção passiva porque atuou junto ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa para pedir 10 milhões de reais a fim de que o então presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, atuasse para que a comissão de inquérito não produzisse resultado efetivo.

Para viabilizar o dinheiro, Dudu, Sérgio Guerra e Paulo Roberto Costa se reuniram pelo menos quatro vezes no Rio de Janeiro, no segundo semestre de 2009, para acertar detalhes do pagamento. Uma das reuniões foi gravada em áudio e vídeo e entregue ao Ministério Público. Acerto feito, Paulo Roberto recolheu 10 milhões de reais do então deputado José Janene, controlador do caixa da propina do PP. Segundo as investigações, os valores acabaram sendo facilmente providenciados pelas empreiteiras Queiroz Galvão e Galvão Engenharia.

Informações sobre distribuição de propina para influenciar o andamento de trabalhos de comissões de inquérito já haviam sido escancaradas quando a Polícia Federal prendeu o ex-senador Gim Argello, na 28ª fase da Lava Jato. Naquele caso, o executivo José Antunes Sobrinho, um dos sócios do grupo Engevix, por exemplo, prestou depoimento e disse diante de Sergio Moro ter sido procurado por Léo Pinheiro, da OAS, que teria lhe feito um convite para integrar o grupo de empreiteiras que atenderiam aos pedidos de Argello por doações eleitorais no ano de 2014. De acordo com Antunes Sobrinho, o ex-presidente da OAS citou, além da própria empresa, Toyo Setal, Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e “uma das Galvão, ou Queiroz Galvão, ou Galvão Engenharia” como membros do grupo. Cada uma contribuiria com 5 milhões de reais ao ex-senador.

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