A comissão especial do Senado aprovou nesta quinta-feira por ampla
maioria a continuidade do processo de impeachment contra a presidente
afastada Dilma Rousseff. Após mais uma sessão tensa, foram registrados
14 votos a favor do relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) e
cinco contra.
Na próxima terça-feira, o documento será apreciado
pelo conjunto dos 81 senadores. Dilma será julgada no final do mês se
mais da metade votar pela continuidade do processo - o que é amplamente
esperado.
Já no julgamento final, serão necessários 54 votos para
aprovar sua cassação. Se isso ocorrer, cenário mais provável hoje, o
presidente interino Michel Temer assume o comando do país até 2018.
Numa tentativa de sensibilizar senadores a votar pela absolvição, Dilma disse em entrevista à BBC Brasil que vai divulgar uma carta aberta defendendo a realização de um plebiscito que consulte a população sobre a necessidade de antecipar a eleição presidencial.
Entenda melhor abaixo como está o andamento do impeachment e quais as próximas etapas.
1. Em que pé está o processo?
Nas
últimas semanas, ocorreu a chamada fase de pronúncia, em que a comissão
especial se dedicou a levantar provas dos supostos crimes cometidos por
Dilma.
Nesse período, os senadores ouviram 44 testemunhas e
analisaram 171 documentos, entre informações prestadas por órgãos
públicos, peritos do Senado e defesa e acusação.
O relator Antonio Anastasia redigiu então um parecer em que concluiu que há provas de que a presidente cometeu crime de responsabilidade na gestão das contas públicas, seja por ação direta ou omissão.
As
irregularidades denunciadas são: atrasos nos repasses para o Banco do
Brasil executar o Plano Safra (pedaladas fiscais) e a publicação de
decretos aumentando despesas mesmo quando a meta fiscal de 2015 não
estava sendo cumprida.
"A gravidade dos fatos constatados não
deixa dúvidas quanto à existência não de meras formalidades contábeis,
mas de um autêntico 'atentado à Constituição'", escreveu, em seu
relatório.
Aliados de Dilma na comissão chamaram de fraudulento o parecer do senador tucano.
2. Qual a próxima etapa?
Com
uma semana de atraso em relação ao cronograma inicial, na próxima terça
o plenário do Senado vota o relatório de Anastasia. Se for rejeitado
por mais da metade dos senadores, Dilma poderá voltar à Presidência.
No entanto, o cenário tido como mais provável é que a continuidade do julgamento seja aprovado por ampla maioria.
Avançando, o processo terá mais um momento para alegações da acusação
e da defesa, e, em seguida, os autos serão enviados a Ricardo
Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal e responsável
constitucionalmente pelo processo.
É nesse momento que ele marcará
o julgamento final. A expectativa é que essa etapa tenha início entre
25 e 29 de agosto e dure cerca de uma semana.
3. Como será o julgamento?
No
dia do julgamento, Lewandowski comandará os trabalhos como um juiz. Os
81 senadores serão os "jurados" que definirão o futuro da ré, no caso
Dilma.
A sessão incluirá, por exemplo, exposição e debates entre
acusação e defesa. No fim, haverá a votação nominal, nos mesmos moldes
da ocorrida na Câmara - com todos os senadores indo ao microfone
proferir seus votos.
Se dois terços (54 dos 81) dos parlamentares
decidirem pelo impeachment, a petista perderá definitivamente o cargo e
ficará inelegível por oito anos. Nesse caso, Temer assume
definitivamente a Presidência da República, com mandato até 2018.
Se esse número de votos não for obtido, a presidente é absolvida e retoma suas funções.
Apoiadores de Temer têm dito que o governo interino tem 60 votos a favor da cassação de Dilma.
4. Qual a chance de a eleição ser antecipada?
Pesquisas
de opinião têm indicado que a maioria da população não quer nem Dilma
nem Temer no comando do país e gostaria que a eleição presidencial fosse
antecipada.
Em entrevista à BBC Brasil na sexta-feira passada,
Dilma disse que é preciso "lutar" pela realização de um plebiscito que
consulte a população sobre a antecipação do pleito. A petista contou que
divulgará os detalhes de sua proposta em carta direcionada ao povo
brasileiro e ao Senado.
"Estou defendendo um plebiscito porque
quem pode falar o que eu devo fazer não é nem o Congresso, nem uma
pesquisa, ou qualquer coisa. Quem pode falar é o conjunto da população
brasileira que me deu 54 milhões e meio de votos", afirmou Dilma.
A
Constituição brasileira estabelece que a próxima eleição para o cargo
mais importante do país deve ocorrer apenas em 2018 - a antecipação das
eleições, na verdade, só pode ocorrer com aprovação de ampla maioria do
Congresso (três quintos dos parlamentares) ou se os cargos de Temer e
Dilma ficarem vagos ao mesmo tempo ainda neste ano, por exemplo em caso
de renúncia simultânea.
Politicamente, é difícil que a medida
seja aprovada, pois a maioria dos parlamentares hoje apoia o governo
interino. Além disso, Temer e Dilma rechaçam a possibilidade de
renunciar.
Outro cenário que levaria a uma eleição antecipada é
se o Tribunal Superior Eleitoral decidir cassar ainda neste ano a chapa
Dilma-Temer, vencedora do pleito de 2014, sob argumento de praticaram
irregularidades na campanha presidencial, como por exemplo o recebimento
de doações ilegais de empresas.
O processo, no entanto, tem
andado lentamente e não deve ser concluído em 2016. Se eventualmente a
chapa for cassada a partir de 2017, quando já terá transcorrido metade
do mandato presidencial, o Congresso terá que eleger indiretamente um
presidente para o país.
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